O conjunto habitacional de Pruitt-Igoe

Fonte: wikipedia.org

O condomínio de Pruitt-Igoe, em Saint Louis, Mo. (foto acima), foi resultante da concretização de um projeto influenciado pela mesma fonte teórica que culminou na construção de Brasília: o urbanismo modernista.  O urbanismo modernista é derivado principalmente das idéias emanadas dos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna (CIAM), em que o arquiteto franco-suíço Le Corbusier desempenhou figura de proa, e da famosa Carta de Atenas (elaborada por Le Corbusier), que expressava os princípios básicos da arquitetura moderna.

Pruitt-Igoe, aliás, foi precedido em Saint Louis por um premiado projeto arquitetônico, também de orientação modernista, o Cochran Gardens (foto abaixo). Esse conjunto habitacional, construído para brancos pobres, foi demolido em 2008.

Fonte: http://www.builtstlouis.net

Os primeiros edifícios do Pruitt-Igoe foram concluídos em 1955. Ao todo, foram 33 prédios, cada um com onze andares. Era a expectativa de boa moradia para os pobres de Saint Louis. Para o prefeito, Joseph Darst, seria a vitória da municipalidade contra as favelas.

O aspecto funcional e racional da organização do espaço sugeria que aquele projeto seria duradouro. Os espaços livres entre os edifícios eram destinados a lazer e espaço de convivência entre os moradores. Projetado por Minori Yamasaki, arquiteto que tem em seu currículo as torres do World Trade Center, Pruitt-Igoe tinha a ousada intenção de reproduzir Manhattan na maior cidade do estado do Missouri.

No entanto, Pruitt-Igoe sequer chegou a “vida adulta”. Depois de dezessete anos, em 1972, o imenso complexo habitacional foi dinamitado. Os motivos do fracasso não são consensuais; as explicações mais recorrentes envolvem a política de segregação racial da época (uma espécie de confinamento dos negros; Pruitt recebia apenas negros, enquanto Igoe era um conjunto misto. No entanto, em poucos anos as famílias brancas começaram a mudar, reflexo e reforço da estigmatização do conjunto habitacional) e o encolhimento populacional da cidade no período de 1950/1970 (a cidade perdeu mais de duzentos mil habitantes).

O fato é que o condomínio nunca alcançou lotação completa. “Qualidades modernistas” foram questionadas e alçadas a problema, como, por exemplo, o fato de nem todos os andares serem servidos pelo elevador (uma medida para socializarem os moradores, obrigados a trafegarem pelas escadas). Não demorou para que a marginalidade ocupasse os apartamentos abandonados, fazendo de Pruitt-Igoe um ponto de tráfico de drogas. Em 1971, apenas 600 pessoas ainda moravam no conjunto. Dezessete edifícios estavam abandonados e devidamente lacrados.

Fonte: wikipedia.org

A falência desse projeto habitacional abriu um debate – que ainda se mantém atual – sobre os cuidados que o Estado deve ter em suas políticas públicas urbanas, especialmente aquelas que tratam de equacionar o problema da moradia. O contexto específico da época, obviamente, foi fundamental para o fracasso do projeto. Distante quase quarenta anos da demolição, a área de Pruitt-Igoe não foi utilizada para moradia. O abandono por todos esses anos permitiu o florescimento de uma densa vegetação. A contraditória sociedade humana cedeu lugar para uma harmônica sociedade de abelhas.

A história de Pruitt-Igoe tem sido retratada no cinema. Na película mais notória, “Koyaanisqatsi”, há uma sequência de cenas retratando o conjunto habitacional e sua demolição (ver cena abaixo). O outro filme, mais completo, foi lançado no início desse ano. É o documentário “The Pruitt-Igoe Myth” que, aparentemente, não foi exibido no Brasil (segue trailer abaixo).


Koyaanisqatsi – Pruitt Igoe por Tubulamarok

 

Fontes:

Magical Urbanism, Alexander von Hoffman, Robert O. Keel, Tim O’Neil e The Economist (blog Prospero).

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