No final da década de 1980 eu era um moleque ainda. Assistia Smurf, He-man, She-ra, Águia de Aço, Profissão Perigo. Mas também assistia aos Programas Eleitorais Gratuitos. Em um desses, tive a oportunidade de acompanhar a origem de um apelido que marcou por muitos anos um dos candidatos a presidente. Era o sapo barbudo.
Os anos seqüentes a eleição de 1989 me mostrou que esse apelido caricato ao ex-presidenciável era acompanhado de profunda rejeição por parte de muitos brasileiros ao partido que o tinha como um dos fundadores e principal nome. Sapo não era o homem. Sapo era o partido.
Vários presidentes e muitas maracutaias depois, o partido se tornou um sinônimo de ética e de democracia. Ética pelo apego ao zelo pelo bem público e pela fiscalização inescrutável do governo. Ética pela tolerância zero com negociatas e esquemas de corrupção. Ética pela promoção das Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) à menor sombra de podridão. Democracia por compreender o pensamento diferente. Democracia por rechaçar qualquer forma de autoritarismo. Democracia pela própria constituição do partido, marcado por tendências da extrema-esquerda a correntes moderadas.
O povo brasileiro beijou o sapo. O anfíbio se transformou em príncipe. Os seus ideais haviam convencidos milhões de brasileiros de que um novo Brasil era possível e viável. A palavra mais lembrada ao agora príncipe era honestidade. Até que…
Começou a pipocar os escândalos. Waldomiro. Correios. Roberto. Exige-se CPI. Mas o partido da CPI se nega. Incoerência? Profunda. Tanto de um lado como de outro. Os bombeiros de antes viraram hoje incendiários, e vice-versa. Aceitou a CPI relutantemente, depois de cada vez ficar mais comprovado relações obscuras entre o publicitário Marcus Valério e dirigentes petistas.
Se a ética passou por rotas nunca dantes navegadas, a histórica imagem do Partido Democrático se desfaz pelo bordão “lugar de quem vota contra o governo é na oposição”. Liberdade de opinião? Só se for a favor do governo. Querem desmanchar verdadeiramente a imagem histórica do partido. Querem transformá-lo em mais um das dezenas que por aí existem.
O príncipe está virando sapo. E ninguém viverá feliz para sempre.
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