Árido

A belíssima fotografia talvez seja o que mais se destaca em “Árido Movie” (2005). Para quem, como eu, que ama o sertão nordestino, as imagens são de encher os olhos. O cenário do filme engole a narrativa – espécie soft de “Abril Despedaçado”. Desde os cinco anos longe do cotidiano tradicionalista de uma pequena cidade do sertão pernambucano, o cosmopolita Jonas se depara, no velório de seu pai, com a expectativa de sua família em vingar o homicídio. Evocar Camus (“O estrangeiro”) é emblemático na caracterização da estranheza de Jonas em relação a sua própria identidade. “Eu me sinto estrangeiro em qualquer lugar. Até nos meus próprios sonhos”, diz Jonas a Soledad, uma jornalista que conhece no caminho de Rocha, cidade fictícia do interior de Pernambuco onde seu pai está sendo velado. Fazem “ponta” no filme José Celso Martinez Corrêa, José Dumont, Matheus Nachtergaele e Selton Mello. Aliás, é totalmente dispensável o núcleo de Selton Mello, responsável pela aspecto cômico, de apologia às drogas e do amplo estoque de palavrões tão necessário a qualquer filme nacional. Inacreditável ainda é o mesmo Selton Mello ser figurante de Guilherme Webber, o inexpressivo protagonista. Destaques para o ‘papo-cabeça’ do Zé Elétrico (José Dumont) e a prosa nonsense do Meu Velho (José Celso Martinez Corrêa). No cômputo geral, um bom filme.