Evidências, evidências…

Ah, como é bom falar de educação. Todo mundo dá pitaco. Todos têm uma saída possível para a desonrosa situação brasileira.

Sobre minha mesa, hoje, estava lá uma cópia de um artigo do Cláudio de Moura Castro, colunista da Revista Veja (03 de agosto de 2005), como presente de uma colega. O texto argumenta sobre a evidência de alguns problemas na educação brasileira. Nada como ouvir alguém de fora da escola dissertar sobre nossos próprios problemas, e que, apesar de achá-lo, como economista, plenamente gabaritado para opinar sobre educação, acredito que a recíproca não seja verdadeira.

Mas vamos as teses.

Tese 1. O maior diferencial de rendimento está ligado ao cumprimento do currículo. Será? Primeiro, ‘currículo’, assim, sem nenhum qualificativo, é por demais polissêmico. A maior parte dos leitores, no entanto, lerão “currículo oficial”, isto é, aquilo que o Estado admite como conteúdo mínimo desejável aos alunos. Idéia controversa e com pouquíssimo apoio nos centros universitários, porém. Cumprir currículo não é, nem de longe, sinal de que a aprendizagem está exitosa. Ademais, nada mais autoritário que padronizar currículos.

Tese 2. Um dos fatores mais correlacionados com bons resultados é o uso regular de livros e de outros recursos da biblioteca. OK. O autor lembra ainda que mais da metade das escolas não conta com bibliotecas. Adiciono aqui que, mesmo aquelas onde se encontram excelentes materiais, somente as traças os utilizam regularmente.

Tese 3. Aprendem mais os alunos de professores que consideram ótimo o livro didático adotado. Será? Deixa-me ver se entendi: caso queira publicar um livro e consiga convencer o professor de que aquele material é o melhor do mercado, os alunos aprenderão? O problema então seria de marketing?

Tese 4. Os professores contratados via CLT têm alunos com mais alto rendimento. Hummm… Acabar com os funcionários estatutários seria a melhor medida, então? Ou uma política de avaliação eficiente, associada a um valorizador plano de carreira, não traria resultados tão eficientes quanto?

Tese 5. Os alunos dos professores que fizeram cursos de capacitação, abundantemente oferecidos pelo país afora, não têm notas melhores. Hummm… Acabar com os cursos de capacitação? Existem cursos e cursos. Colocar todos no mesmo balaio é de uma simplicidade extraordinária.

As teses são baseadas em evidências fornecidas pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), segundo o próprio colunista. Evidências são retiradas da superficialidade das aparências. Podem dizer muito, mas podem ser apenas impressão.

Evidência muito mais segura, ao meu ver, seria constatar que o professor, ao estar feliz com sua carreira e perspectiva salarial, renderia mais em sala de aula. Cláudio, o economista, esqueceu. Convenhamos: são apenas evidências.