Explicação karajá para ‘aqueles dias’

No princípio, um pai bastante ciumento tinha uma filha virgem, já em idade de casar. A beleza da filha atiçava ainda mais o cioso pai. Não queria deixá-la casar com qualquer um.

O velho era excessivamente criterioso. Pra cada pretendente, colocava uma dura exigência, uma prova a ser realizada. Capturar onça, recolher uma dúzia de dentes de jacaré e atravessar o rio Araguaia, cheio de piranhas, pelado e com o corpo coberto de sangue de boi eram algumas das dificílimas tarefas dadas aos candidatos a genro.

Todos ficavam pelo caminho. Exceto um, que cumpriu todas as provas e, como prêmio, exigiu a moça em casamento.

Entretanto, o velho não havia entregado os pontos. Como última cartada, palmilhou todo o rio Araguaia na busca de raríssimas piranhas vermelhas e colocou-as no útero da filha. O velho avisou o futuro genro (ainda bem!) e entregou a moça em casamento.

Desconfiado, o índio, meio a contragosto, resolveu pedir ajuda a um velho amigo, um macaco prego. Deu-lhe a possibilidade de ter a primeira noite com a sua esposa. Não deu outra. Na primeira investida, as piranhas avançaram no macaco e arrancaram-lhe o prepúcio (e, por isso, até hoje o macaco prego é naturalmente circuncidado).

O sortudo não desanimou. Consultando um velho pajé, descobriu uma alga (também raríssima) mortífera para as piranhas. Após consegui-la, em dois dias de aplicação conseguiu matar todas as piranhas.

Aliás, minto. Ficou uma. Pequenininha e arisca, escondeu-se lá no fundo da entrada feminina. Até hoje, e de mês em mês, em ataque feroz, faz a mulher sangrar pra caramba. Não é bom mexer com as moças nesse período – uma vez que a pequena-piranha-interior está muito brava e pode morder qualquer coisa nas proximidades (ui!).

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Essa é uma lenda karajá. Certamente muito didática na educação sexual dos pequenos karajá. “Meu filho, se cuide. Não dê trela pras meninas, tá?” Ou: “Minha filha, agora quero que você namore o filho daquele cacique rabugento…”

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Ontem foi o último dia dos Jogos Indígenas do Tocantins, realizados em Palmas. O evento contou com representantes das sete maiores etnias indígenas presentes em território tocantinense. Uma ótima oportunidade para conhecer a diversidade cultural do índio brasileiro.

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