Cleber Toledo possui um dos domínios eletrônicos mais visitados por computadores tocantinenses. Toledo, jornalista, é tido com um dos melhores de sua profissão no Estado.
Nos últimos dias, o blog (que, apesar das semelhanças, é sempre chamado de “site” por seu criador) tem batido recordes de comentários – aprovados. Dado o (baixo) nível de discussão, é de se pensar que o número real de comments é muito maior.
Mas não é isso que tem chamado minha atenção, ultimamente.
Jornalistas brasileiros têm, no geral, uma sanha, sabe-se lá de onde e quando, em associar ‘credibilidade’ com ‘isenção’. E mais: imaginam que as ‘boas reportagens’ são aquelas em que o repórter não manifeste sua posição. Esquecem, sobretudo, que a própria isenção já é uma posição…
Os leitores, quando descontentes do posicionamento divergente do jornalista, possuem argumentos bastante semelhantes. Exigem ‘neutralidade’, ‘imparcialidade’.
Em se tratando de coluna política, tema em que as paixões naturalmente são afloradas, essa sanha aparece com mais vigor. E o Cleber Toledo tem sofrido muito com isso.
Primeiro, pela decorrência da própria configuração dessa eleição, bastante polarizada. Ou você é partidário do atual governador Marcelo Miranda ou faz parte do grupo do ex-governador Siqueira Campos – desconsiderando até outros três candidatos, que, somados, não tem conseguido superar os 5% de intenção de voto nas últimas pesquisas.
Segundo, pelo reconhecimento de que tanto um lado quanto o outro está fiscalizando seus textos, intencionando filtrar qualquer ‘favorecimento’ a candidatura rival.
Terceiro, pela quantidade de ameaças que diz sofrer por parte de partidários do atual governador (se bem que as ameaças do outro candidato são muito mais evidentes e palpáveis, como demonstrado pelas quatro edições apreendidas do ‘Ditador do Cerrado’, livro do também jornalista Rinaldo Campos, preso por trinta e seis dias mediante ordem do ex-governador).
O estado de tensão iniciou-se com esse texto, de dia 15/09 (“Não aceito liberdade vigiada!“). Até então, era comum ler críticas de ambos os lados nos comentários do blog. Era. Nesse texto, Toledo denuncia um suposto estado de ‘liberdade vigiada’. Essa mesma ‘liberdade vigiada’ do qual reclamava o jornalista o fez dar explicações, dias depois, no próprio blog. Especularam sobre suas companhias em bares após os debates políticos (a maioria dos debates é intermediada pelo jornalista).
Depois disso, agressão pura. Generalizou um dos grupos (os ‘marcelistas’) como tolhedores da liberdade de imprensa e, a partir de então, passou a ser elogiado pela ‘isenção’ e ‘imparcialidade’ pelos ‘siqueiristas’.
A tensão continuou. Aumentou-se o número de pesquisas eleitorais. Apareceu um cheiro de virada no ar. O ex-governador, absoluto nas intenções de voto, viu-se empatado com Marcelo Miranda.
São três institutos, basicamente, que estão fazendo levantamento de intenção de voto. O IBOPE e o SERPES, geralmente pagos pela afiliada da TV Globo, e o Instituto Ímpar, contratado do Jornal Primeira Página, empresa de propriedade da Família Siqueira Campos.
Reconhecidos nacional (IBOPE) e regionalmente (SERPES), esses dois institutos já têm um histórico crível de acertos. O mesmo não se pode dizer do Instituto Ímpar. Não há sequer informações on-line sobre esse tipo de trabalho. E o que dizer do contratante?
Todavia, o jornalista resolveu centrar fogo nos erros do IBOPE e do SERPES. Tentativa óbvia de desacreditar as pesquisas feitas no estado por esses institutos. Nas matérias postadas, por exemplo, incluiu uma sobre contrato do filho do dono do IBOPE com o Governo do Estado (“Empresa do filho do dono do Ibope ganha incentivos fiscais do governo Marcelo“). No mesmo dia, a mesma foi citada no programa eleitoral da oposição. Coincidência? Eficiência da equipe de Mídia do comitê político? Não se sabe ao certo…
Troquei alguns e-mails com Toledo. Além de muito atencioso, o jornalista é bastante ágil nas respostas das mensagens. Argumentou, em uma delas, que não acreditava em ‘imparcialidade’, muito menos em ‘isenção’, arrazoando que a credibilidade do jornalista está em não mentir, muito menos omitir fatos acontecidos – o que concordo ipsis literis.
Enquanto isso, e contraditoriamente, seus leitores siqueiristas continuam louvando-o por sua ‘isenção’ e ‘imparcialidade’ (e os ‘marcelistas’, também enviesados, consideram o jornalista ‘comprado’). Mas que é difícil qualificar um texto desses (“Pacificamente e também no cacete“) como imparcial e isento, ah, isso é…
A assunção da parcialidade não o desqualificaria. Pelo contrário: seria uma louvável ilha nesse mundo hipócrita do ‘jornalismo chapa-branca’ e ‘desinteressado’ que grassa no Brasil.
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