Tim Lopes e os outros sessenta

Elias Maluco foi condenado. Seria um marginal a mais, se não fosse pela magnitude de seu crime. Não, lógico que não estou falando dos mais de sessenta assassinatos atribuídos ao malfeitor somente no ano passado.

Da morte do jornalista de um grande veículo de comunicação como a TV Globo podemos tirar várias lições. A mais explícita é que a vida de alguns tem muito mais valor do que a minha, do que a sua, do que a vida da maioria da população brasileira.

Um ser supervalorizado sugere o barateamento dos outros. Essa lógica pode explicar o “Julgamento do Ano”. Que as famílias das dezenas de vítimas do traficante esperassem por um julgamento divino vindouro. Apoiado na legendária morosidade da justiça brasileira, o número sessenta se converte em um dado qualquer, muito menos importante – pasme! – do que o “um”.

A segunda lição é sobre a excepcionalidade e a obviedade dos fatos. Foi algo incomum a morte de um jornalista como Tim Lopes – tão incomum que gerou protestos por todo o mundo. Apesar do perigo imposto pela profissão, o jornalismo investigativo da TV Globo não tinha, até então, nenhuma perda humana. Todavia, não se lembra de tanta comoção quando Vladimir Herzog, jornalista da TV Cultura, foi assassinado na década de 80. Nem a Globo se esforçou tanto quanto agora na resolução do crime.

Já a prisão e condenação de Elias Maluco estão como fatos óbvios, inequívocos. Mais cedo ou mais tarde, Elias seria preso. Dependendo do olhar, foi até bom pra ele. Muito mais perigoso do que ser jornalista é ser traficante. Não se tem notícia de algum companheiro de Elias chegando a terceira idade.

Mesmo assim, questões comuns são colocadas a muitos brasileiros mais comuns ainda. Falta ser explicado porque a justiça pode ser tão eficiente em alguns casos, mas tão lenta em outros. Resta saber quantos Tim’s serão necessários para todos saberem o valor de uma vida, independente de cor, classe social, opção política, profissão.

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