Mais horas na escola, mais anos de estudo?

Os burocratas da educação e teóricos de gabinete não podem ver os dados assombrosos de evasão escolar que ressuscitam uma velha e boa intenção: implantarem escolas em tempo integral. Não conseguem sequer enxergar que quase metade dos alunos evadidos sai da escola porque não a deseja, não sente nenhum prazer em freqüentar uma sala de aula. Se os alunos não desejam em a escola em conta-gotas, a idéia de trancá-los em fortalezas escolares por oito horas diárias deve lhes parecer horripilante.

Deveríamos pensar, num primeiro momento, em como tornar essa escola atrativa. A vontade de ficar na escola em tempo integral seria natural, a partir daí. É preciso lembrar sempre: quantidade não é qualidade. Lembro-me – e não há muito tempo que cursei o ensino fundamental – que havia três meses de férias anuais. Para quem passou por um sistema escolar assim, mais light, deve sacar rapidinho que nada deixava a desejar em relação aos conteúdos trabalhados na escola atual.

Nesse sentido, é bastante elucidativo o exemplo dado pela Denise, comparando a educação brasileira à norte-americana. Cito, especialmente, dois parágrafos:

Por outro lado, o ensino daqui é muito mais fácil que no Brasil. Enquanto temos uma quantidade de absurda de assuntos, em nosso currículo, aqui os professores concentram em menos, mas repetem muito mais, o que eu gosto muito.

Acho que a gente tem um currículo ridículo, completamente fora da realidade, no Brasil. Assunto demais que ninguém tem condição de absorver tudo aí vira “decoreba”, pra passar no vestibular.

Se o Brasil seguir a tradição, i.e., resolver problemas sérios com soluções simples, a escola integral, se entendida apenas como uma escola de tempo dobrado, afugentará ainda mais os adolescentes. Ou, pra usar a linguagem ‘deles’, isso transformaria um ‘mico’ em ‘king kong’ para uns; para outros, seria sofrimento eterno mesmo.

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Imperdível: entrevista com o Chato mais bacana da blogosfera no blog da Revista Época. Em questão, o Faça sua Parte. Repercussão melhor não há.

6 Comments

  • Edu

    fevereiro 27, 2007 at 22:35

    Se quiser me adotar, o nr. da conta corrente é… 🙂

  • Allan

    fevereiro 28, 2007 at 07:20

    Na Itália as escolas do ensino fundamental funcionam a tempo pleno, das 8:00 às 16:30. O volume de informações é maior que no Brasil mas as atividades extra curriculares aliviam a carga horária (visitas a museus, cidades históricas, teatro, etc.). O segundo grau dá medo, mas os alunos já chegam acostumados e com uma postura estudantil positiva. Além disso, a atenção dos estudantes não se na violência urbana, na instabilidade econômica da família e em outras preocupações que nós brasileiros temos. É o efeito tostines, onde não se sabe se a educação brasileira vai mal por causa da condição social da população ou o contrário.

  • Edu

    março 5, 2007 at 16:01

    O que é que você e o Locke têm em comum?

  • Luma

    março 5, 2007 at 22:43

    Aqui na cidade que moro tem escolas particulares de tempo integral. Os alunos reclamam que os professores enrolam o horário. Os pais agradecem porque têm a certeza que os filhos estão protegidos lá dentro enquanto eles trabalham. Não sei o que é melhor. Talvez uma diversificação maior como o Allan falou.
    Boa semana! Beijus

  • Yvonne

    março 8, 2007 at 14:53

    Querido, eu sou de uma época em que as escolas eram de um rigor só. Gostaria de ter tido a oportunidade de ter estudado em horário integral porque sempre tive prazer de aprender. Beijocas

  • Srta. Bia

    março 10, 2007 at 22:57

    Estudei em uma escola particular de período integral quando pequena. No período da tarde as atividades eram mais lights, voltadas para reforço escolar e outras coisas como informática, artes.

    Também estudei em colégio de freira só para meninas e já no segundo grau num colégio que oferecia o período da tarde como aula de reforço para o vestibular. Todas escolas particulares.

    Há mesmo muito conteúdo inútil sendo despejado e cobrado nas salas de aula. E pior, pergunte a qualquer criança hoje o que ela estuda e veremos que os conteúdos idiotas como partes do sistema digestivo da aves continuam sendo cobrados com a mesma decoreba. Num mundo que muda tão rápido, a educação mudou muito pouco em tantos anos.

    Acho que a escola integral não resolveria nada e pior, como colocar dois turnos (manhã e tarde) em um só dia inteiro? Isso significa menos classes.

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