I.
O movimento ludita foi a reação mais radical dos trabalhadores ingleses às inovações tecnológicas proporcionadas pela Revolução Industrial, no início do século XIX. Incomodados com a “eficiente” redução de empregos causada pela utilização de máquinas no processo produtivo, os operários organizados em movimentos bem articulados atacavam durante a noite e em vários lugares ao mesmo tempo, obedecendo, segundo reza a lenda, a um certo General Ludd. Acreditavam que, ao causar prejuízo aos capitalistas, estariam forçando a volta ao sistema manufatureiro – aposentando definitivamente a máquina, essa usurpadora de empregos. Todavia, os avanços tecnológicos mostraram sua inexorabilidade. Hoje, aulas ministradas a um público infantil são acompanhadas de gargalhadas quando se descreve as ações do movimento ludita. Comprovação evidente, portanto, de que a estratégia do movimento estava errada.
II.
O telefone foi uma dentre as inúmeras invenções tecnológicas contemporâneas à Revolução Industrial. O escocês (naturalizado estadunidense) Graham Bell, baseando-se em um primitivo aparelho criado pelo padre francês Don Gauthey, criou o primeiro telefone. A invenção foi patenteada em 1876. Até então, a comunicação entre lugares distantes era feita, principalmente, utilizando os préstimos dos serviços postais. As cartas sofreriam, a partir daí, forte concorrência frente uma invenção que trazia, como novidade, a velocidade na transmissão de informações. Hoje, o poder financeiro das empresas telefônicas é muito maior do que as concorrentes postais. Principalmente com a invenção da Internet, o volume de cartas despencou notoriamente.
III.
A associação aparente entre capitalismo industrial e desenvolvimento tecnológico nos leva a crer que há uma parceria indissociável entre os mesmos. Nada mais enganoso, porém. Um exemplo disso é o que vem ocorrendo nos atuais progressos de telefonia com tecnologia VoIP. As empresas telefônicas olham com evidente desinteresse para essas novidades. A BrasilTelecom, por exemplo, foi denunciada recentemente pelo Ministério Público Federal do Tocantins por proibirem, em cláusula contratual, os assinantes da Internet Turbo (ADSL) de utilizar softwares baseados nessa tecnologia, como o Skype, Messenger, FoneUol, entre outros. Estariam as empresas telefônicas contra o mesmo movimento que propiciou a sua criação, a mais de século atrás?
IV.
Tal qual a hilaridade dos luditas, assim é a postura das Companhias Telefônicas. Beneficiaram-se das inovações tecnológicas, nascendo e crescendo sob a égide da modernidade técnica. Abominam-nas, contudo, quando se olham no espelho e vêem que, após um século, o telefone tal qual idealizado por Bell está superado. A sagacidade com que agarram a medonha “assinatura básica”, um artifício que permite às empresas cobrarem por um serviço não utilizado, demonstra o quão conservadores, egocêntricos e avaros são determinados setores da sociedade capitalista, mormente aqueles do topo da pirâmide social. Para as telefônicas, o mal agora é a tecnologia. Daí, portanto, medidas como a proibição do Skype e similares. Seria um retorno às avessas ao movimento ludita?
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