Não foi a primeira vez que o vi. Com um colete cinza, grafado OCAS, vendia revista. Não dei muita bola. A bem da justiça: me comporto assim com qualquer tipo de vendedor de letrinhas sobre papel. Livros, enciclopédias, bíblias, coleções da National Geographic Magazine? Não senhor, obrigado.
Pois é. Hoje foi um dia diferente. Eu diria ao rapaz – pensei – que pagaria a revista, desde que não saísse mais que três reais. Bobagem minha; recebi a revista por três verdinhas.
Acontece que a revista, depois soube, não é uma revista a mais: publicada pela Organização Civil de Ação Social (OCAS), tem todo um projeto social por trás. Funciona mais ou menos assim: o morador de rua compra por um real cada exemplar. Fica, portanto, com os outros dois reais. O objetivo da revista, conforme expresso na página de entrada,
é fornecer instrumentos de resgate da auto-estima dos vendedores, criando mecanismos para que o indivíduo se torne seu próprio agente de transformação, de forma que Ocas” seja um ponto de passagem, e não o destino definitivo.
A revista, em si, é melhor do que muitas que aparecem, com dobrado valor, em bancas tradicionais. A edição atual (setembro/outubro) tem, como reportagem de capa, uma entrevista com o cartunista Ziraldo. Também é entrevistado, lá no finalzinho da revista, o escritor cubano Pedro Juan Gutiérrez. Com vinte e um livros publicados, apenas dois circulam oficialmente em Cuba. Perdões ao cartunista brasileiro, mas acho que a capa deveria ser com o camarada Gutiérrez. Provocador, o cubano responde às questões com fina ironia. Vejam:
Ocas”: Por meio de seus livros, muita gente teve a possibilidade de ver uma Cuba pouco ou quase nada mostrada. O que acha disso?
Pedro Juan Gutiérrez – Sim, para muitos é uma Cuba desconhecida, e uma Havana desconhecida também. Toda cidade contém muitas cidades. São Paulo, por exemplo, é um monstro muito mais terrível e devorador do que Havana.Ocas”: Porque acha que tantas pessoas querem sair de Cuba?
PJG – Eu nunca pensei em sair de Cuba. Gosto de viver ali, em Havana, em meu bairro. A situação econômica é difícil e as pessoas procuram outros lugares, como acontece com muitos brasileiros, colombianos, equatorianos, bolivianos etc. As pessoas sempre procuram um lugar melhor onde viver. Isso é universal.
Há de se concordar, depois de lida a entrevista, com a frase inicial da reportagem, assinada por Morena Madureira: Para Pedro Juan Gutiérrez, Cuba também é aqui. Ou o Brasil também é lá.
Thera
setembro 20, 2007 at 12:07Também fujo dos vendedores. Deles e dos panfletantes. Aliás, fugir de panfletantes é quase um esporte, poderiam te-lo incluido desses jogos panamericanos, aproveitando que foi aqui pelo Rio.
E falando em Rio de Janeiro, há quem diga que o Haití é aqui!
Jens
setembro 20, 2007 at 14:11Juliano:
Legal mesmo esta iniciativa. Legal e inteligente. Da mesma forma as respostas do camarada Gutiérrez pinçadas por ti e a conclusão Morena Madureira. Nada acrescentar. Irretocável.
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“As pesssoas sempre procuram um lugar melhor pra viver”. Quem quiser um lugar pra viver sem chorar que venha para o Rio Grande do Sul (brincadeirinha. Estou contaminado pelo vírus do bairrismo irracional. É que estamos no ápice da Semana Farroupilha, e como eu sou um guasca do sul…hehehe…já viu, né?
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Um abração. Tudo de bom pra você.
Dourado
setembro 20, 2007 at 18:44Boa dica, fiquei interessado na revista.
Grande idéia.
Juliano Rosa » Blog Archive » Símbolos nacionais
novembro 29, 2007 at 11:57[…] de Doria é materia de capa da revista Ocas”, edição Novembro/Dezembro. O projeto, do qual já comentei aqui antes, esta ameaçado de ser encerrado no Rio de Janeiro. No Brasil de hoje, com inúmeras Ongs […]