Calorosos debates

Bem, eu sou pacato. Sou aquele sujeito que cede um boi para não entrar numa briga e uma boiada para continuar fora dela. Por um lado, isso é bom. Não me traz muitos inconvenientes. Raramente pratico o pecado capital da ira e, no geral, consigo ter bom relacionamento com gregos e troianos. E isso traz problemas, evidentemente. O mais grave deles é a demora em tomar partido e, de forma aguerrida, posicionar-me clara e inequivocadamente. No geral, quando faço a opção por algum lado no front, o debate já está quase se esgotando. E, sinceramente, fica aquele peso na consciência por não ter lutado, por não ter falado, por não ter esperneado na hora que, mesmo parecendo ser inoportuna, era o momento em que mais alguém – ou, o que é mais grave, a coletividade – precisava de apoio.

Mas, enfim, a vida é um aprendizado.

E o aprendizado de hoje é o seguinte: por mais tenso (tenso no sentido de quase insultuoso)  que sejam os debates, eles são necessários. Por mais feridas imediatas que apareçam, é necessário que elas se mostrem, às claras, para cicatrizarem-se logo. Pior seria não abrir a ferida e deixá-la gangrenando, escondidinha. Ninguém a veria, ninguém ficaria com nojinho. Satisfazeria nosso sentimento hipócrita de um mundo harmonioso e sem conflitos. Mas isso não existe nem aqui e nem na China. Mais grave ainda: a aparente tranquilidade esconderia, certamente, um submundo de chocarrices, tramas nada puritanas, conversinhas de salão. O enfrentamento evitado e suas correspondentes feridas imediatas, mas facilmente tratáveis, certamente substituiria um universo sincero, honesto, leal, confiável, por um corredor palaciano onde impera a falsidade, os bons modos hipócritas e a dissimulação.

Chega a hora que devemos fazer opções, em nome da verdade. O que é, pois, essencialmente importante para quem quer ser íntegro consigo mesmo e com o mundo que o cerca.

2 Comments

  • Milton Santos

    junho 3, 2011 at 02:27

    Prof. Juliano, parabéns pela iniciativa do site e do blog que tenho acompanhado, embora desde pouco tempo! Considero de grande relevância sua reflexão sobre a necessidade de se promover discussões e debates nesse último post. Creio que, mesmo acalorados, devem existir e persistir, fazendo-se apenas a ressalva de que devem ser profícuos e, para tal, serem organizados, estarem orientados para atingir uma meta, chegar a uma conclusão, visando atingir um resultado; ter início, meio e fim. Do contrário, comumente perde-se o foco e argumentações que gerariam boas contribuições acabam deixadas de lado e passam para a personalização e tomam rumos de ofensas. Enfim, é a difícil odisséia do nosso convívio, não somos abelhas operárias de uma colméia.
    Certa vez ouvi dizer, e chego a concordar por vezes, que o único lugar em que seres humanos ficam lado a lado sem escaramuças é no cemitério, e ainda assim porque são enterrados virados pra cima e com as mãos cruzadas. Que isso não seja desânimo para a gestão de pessoas, mas um “conformismo sadio” para que se possa aprender a aceitar críticas, promover discussões produtivas sem “ofender-se pessoalmente”.

  • Rita

    agosto 4, 2012 at 23:12

    Gostei muito do texto “Juliano Guimarães Rosa”.Posso entrar no debate com minha humilde graduação, nesse mundo de mestres e doutores? Pois é… acretito muito no poder discussão. Ouvi uma vez do professor Cristóvão Buarque uma frase que me marcou:” Você pode me criticar a vontade, mas me dê uma solução?” Fiquei pensando… Detesto aquelas pessoas que falam muito, criticam, reclamam de tudo e nunca dão boas sugestões pra amenizar a situação. Amo as pessoas passificadoras e criativas!
    Até a próxima!

Post a Comment