Por força maior, digamos assim, a leitura dos quatro volumes de “As Brumas de Avalon” azedou – temporariamente, é certo. Conferi apenas o primeiro da série. Em férias por quinze dias no mês de fevereiro, e distante da coleção de Marion Zimmer, abri o badalado “O Código da Vinci“.
O livro é bonzinho, com muitas reviravoltas e ‘segredinhos’, desvendados pelo leitor ao passar de páginas; já os diálogos são, assim, meio chinfrins, com aquela rapidez e brevidade pragmática típica de best sellers estadunidenses. Os mistérios, por outro lado – como a identidade do enigmático ‘Mestre’, um personagem chave da história – não são de todo imprevisíveis.

O que não dá pra entender, definitivamente, é a celeuma inicial que o livro causou. Até entendo que ali se encontram informações que abalam a estrutura da fé cristã – como um Cristo casado com a ex-prostituta (prostituição controversa, porém…) Maria Madalena e sua descendência vivendo até os dias atuais. Ora, isso não quer dizer, em absoluto, que isso aconteceu. É um livro fictício, não histórico. E, mesmo se fosse um fato – com provas, inclusive – não acho que a melhor atitude fosse desestimular o cristão a lê-lo – mesmo porque atitudes desse naipe têm sempre efeito contrário.
No vácuo do livro de Dan Brown, o mercado editorial aproveitou para lançar dezenas de títulos relacionados ao tema. Muitos deles, inclusive, se deram ao trabalho de ‘quebrar’ o tal Código, como se fosse necessário provar científica e historicamente que uma invenção literária é apenas isso – uma invenção literária.
Prova da liberdade fantasiosa de Brown é a presença do tal ‘Priorado de Sião’ no eixo do enredo. A entidade é, segundo alguns, guardadora de segredos do cristianismo primitivo e da descendência de Maria Madalena. O ‘Priorado’ no entanto, é uma farsa, uma produção alucinada da mente doentia de um monarquista francês na década de 1950.
Para maio está programado o lançamento da versão cinematográfica, na abertura do 59º Festival Anual de Cinema de Cannes, protagonizado por Tom Hanks e Ian McKellen. Adaptações para as telonas são quase sempre decepcionantes. A algazarra promovida pelas entidades católicas, primeiramente, e pela dupla de historiadores Michael Baigent e Richard Leigh, que acusam Brown de plágio, atualmente, garante, pelo menos, presença maciça de público no cinema. E isso, para os produtores, donos de cinema e pipoqueiros, já é suficiente.
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