A idéia inicial era levantar alguns pontos para discussão no então recém-criado fórum do site Reescrevendo a educação. O tempo passou, a vontade de discutir o tema também. Publico aqui, da forma que foi escrito em um dia e mês perdidos por aí (inclusive com os dois últimos pontos inacabados). É isso.
1. Descentralização, de fato, da gestão escolar – nos moldes europeus e norte-americanos – e novos critérios para contratação de professores.
Muitas atividades burocráticas, em função de uma pesada hierarquia funcional de antanho, emperram o cotidiano escolar. Isso é ruim. O foco da escola deveria ser a dimensão pedagógica. Coordenadores e Diretores com dezenas de relatórios e de ofícios para responderem é um sinal claro do rumo desastroso que a escola toma. Planos mirabolantes, historicamente recebidos na escola como simples alteração da rotina burocrática ou pretexto para marketing e confetes, deixam em segundo plano o processo cognitivo do aluno.
Nesse contexto de descentralização, seria imperioso o fortalecimento dos conselhos escolares. É verdade que já existam alguns – formalmente, pois quem acaba ‘mandando’ é o próprio diretor. O chamamento da comunidade para decisões – de gestão de pessoal a gestão de materiais – certamente exigirá maior compartilhamento das responsabilidades pelo sucesso da escola.
Por conseqüência, a escola teria autonomia, através de seu conselho escolar, para contratação e dispensa dos professores. O recrutamento seria feito mediante prova escrita e didática. Muitos licenciados são bons na teoria, mas péssimos na prática. Avaliados periodicamente, o conselho escolar indicaria a permanência ou não do atual docente. Esse redimensionamento poderia, inclusive, colocar a Universidade a repensar o perfil dos seus formandos.
2. Reformulação dos currículos dos cursos superiores de licenciatura.
A maior parte dos cursos de licenciatura destina significativa parcela de sua carga horária às teorizações, à pesquisa, interessantíssimas para o prosseguimento na carreira universitária. Acontece que são poucos os que trilham esse caminho. A maioria dos licenciados desemboca na escola básica – aí sim, mal formados, mal preparados. Ou qual é o professor que não teve um choque de realidade no seu primeiro dia de aula, pós-universidade?
Aqui entra um outro ponto, inclusive levantado por Antonio Nóvoa, prodigioso escritor português na área da educação. O que a universidade faz pelos egressos? Absolutamente nada. Os primeiros anos do professor são cruciais na sua carreira docente. Seria de suma importância o acompanhamento e monitoramento das atividades desses professores – e não somente deixar a cargo do Estado – com seu conivente estágio probatório – ou do mercado – impiedoso com o principiante claudicante. Seus erros e acertos poderão marcar, positiva ou negativamente, seu desempenho profissional. A responsabilidade da universidade tem sido, de forma estrita, com a formação inicial do docente. Se bem formado ou não, isso não interessa à universidade: o importante é que saiu de sua competência de atuação.
3. Fortalecimento salarial dos professores
Aqui não interessa se os professores da Libéria ganham mais ou menos e, em decorrência disso, os resultados são melhores ou piores. Se provada essa conclusão, a saída é sempre pagar menores salários – inclusive de jornalistas, já que se pode encontrar, na Libéria, jornalistas tão bem quanto… uma bobagem, enfim.
O ofício do professor não é fácil. Trabalhar com a complexidade do ser humano e sua imprevisibilidade de atitudes e comportamentos é algo melindroso. Se o salário não é atrativo, então…
Acontece que muitos profissionais hoje professores assim o são por força contigencial. Não escolheram a profissão. Apenas não conseguiram ser aprovados em um curso mais ‘nobre’. E aí a escola destina seus melhores alunos às profissões com maior status, hoje. Cursos como Medicina, Engenharia, entre outros, possuem alunos com maior capital cultural do que aqueles que cursam a licenciatura. E aí,sim, cria-se um círculo vicioso, com alunos ruins entrando na faculdade, saindo de lá pessimamente e contribuindo com sua parcela na formação de mais cabecinhas ocas.
4. Incentivo a formação continuada dos professores
Estabelecer parâmetros de valorização do professor mediante seu aperfeiçoamento constante. Licenças remuneradas para pós-graduação e elaboração de um calendário flexível, entremeado por momentos de estudo coletivo, é uma boa pedida.
5. Repensar a questão qualidade x quantidade
O programa escolar brasileiro é muito extenso. Há um pouco de tudo. Seria interessante enxugar o currículo, deixando somente aquilo que é indispensável. E o indispensável sendo discutido exaustivamente. Tem muita abobrinha enfeitando currículos por aí. Muitos conteúdos que, efetivamente, pouco contribuem para o desenvolvimento cognitivo e social dos estudantes.
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