Imaginava que o ambiente seria sombrio, fedorento. Não era nada disso. Limpo, com boa luminosidade, arejado.
Os ‘entrevistadores’ eram três. Um homem, duas mulheres, uma delas em pé, fumando um cigarro.
O homem era extremamente silencioso. Óculos fundo de garrafa, braço sustentando o queixo. Se estivesse pensando, certamente não seria sobre os fatos que ali sucediam. Estava longe, distante.
Elegância era a primeira palavra que vinha a cabeça para qualificar aquela que parecia ser a líder dos trabalhos. Com ligeiro sotaque francês, mantinha um ar empertigado, formal. ‘É com ela que devo ter maior cuidado’, pensou. ‘Ela que decidirá meu futuro’.
As perguntas se sucediam. E, estranhamente, nada de coação. Nenhum instrumento de tortura. Nenhum elemento que indicasse o interesse dos entrevistadores em deixá-lo no calabouço.
Depois de cinco minutos, o homem se mantinha na mesma posição. A ‘francesinha’ demonstrava a mesma inquirição mecânica. E a fumante – uma senhora obesa em roupas coloridíssimas – já estava terminando o segundo cigarro, sem dizer uma única palavra.
Foi aí que ele percebeu que sua estadia na prisão não era desejada. A líder deu uma pausa. Pigarreou, virou-se para seu colega míope-estrábico, retirando-o da mais profunda resignação:
– Esqueci alguma pergunta?
– Não… – meio que se refazendo do susto.
– Então – voltou-se para o moço – volte para prisão.
Assustadoramente desesperado, o rapaz saiu lentamente da sala.
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