Sobre as estrelas cadentes

Estrelas cadentes não são estrelas. Essa lição elementar é aprendida pelos alunos na 5ª Série do Ensino Fundamental. De uma tacada só, aprendem o que são meteoritos e que as estrelas não caem.

Na história da humanidade, os astros exerceram um enorme fascínio. Estrelas, cometas e congêneres tem contribuído com uma infinidade de manifestações religiosas. Os astros se transformam em deuses e deusas.

Pouco conhecimento científico sobre a desconhecida amplitude do espaço exercitava a imaginação humana. Esse comportamento se reflete hoje no homem em graus variados da infância a velhice.

Todavia, o significado do termo “astro” tem mudado bastante. Depois de inúmeras descobertas científicas, o mundo parou de olhar embasbacado para o céu (salvo as ocasiões de eclipse lunar ou solar). Enxerga-se o dia e a noite, ignorando o Sol e a Lua. Tempo é dinheiro, afinal.

O tempo é dinheiro. O dinheiro se transformou no Sol da sociedade moderna. É o deus-maior. Como ser supremo, estimula a criação de outros astros a seu redor. Esses o circundam, em adoração à glória, ao poder, ao luxo.

Nesse mundo, não há espaço para meios termos. Comuns não são astros. Seja excepcional. Assim, os deuses se sucedem. Às vezes usam títulos nobiliárquicos. Essa modéstia não diminui sua divindade. Rei disso, rei daquilo. Rei do futebol. O rei da música. Rainha dos baixinhos. Astros. Estrelas. Constelações. Celebridades.

As crianças, a centenas de anos dos adoradores do Sol, se iniciam na nova arte da adoração. Das apresentadoras infantis a Disneworld (Neverland?), o novo fascínio das estrelas. Até que um astro a corrompa. Corrompa? Mas é um astro, e deuses não se julgam. E se julgam, devem ser absolvidos! Os deuses não erram.

Apesar disso, os exemplos se sucedem. Em uma ingênua, despropositada e descuidada afirmação, Ronaldo, o “Fenômeno”, disse que era branco. Desconfiaram de racismo velado, à la brasileira. Deuses não podem errar.

 Até o partido da estrela vermelha sofreu dessa aura divina. Todos os seus componentes eram infalíveis, incorruptíveis. Parece que até os velhos oligarcas acreditavam nisso (antes não assumidamente por motivos óbvios), dada a perplexidade e a contínua repetição de que os petistas rasgaram sua bandeira. Os deuses não são corrompidos, nem corrompem.

Enfim, quer queiram ou não, os deuses são homens. Todos estamos corrompidos. Não há um justo sequer. Ninguém é estrela. Todos somos cadentes. E que atire a primeira pedra quem não for um companheiro de mãos sujas. Ops…

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