O ar condicionado do consultório estava lhe incomodando. Como se não bastasse aquele branco excessivo das paredes e a artificialidade dos quadros com paisagens de inimagináveis lugares.A médica, em ar pomposo, óculos caindo sobre o nariz, lia seu prontuário com ar severo. Depois de alguns minutos, sua voz rouca, demorada e cheia de autoridade ecoou pela sala:
– Alguém está com a senhora?
Pronto. Vai me dar uma notícia ruim, pensou. E era só uma verruga. Uma verruguinha…
– Não, doutora… Mas o que é que eu tenho?
– Eu preferia falar com alguém da família antes. Pra senhora não ficar tão preocupada.
– Mas já estou preocupada, doutora! O que é que eu tenho?
Uma pausa constrangedora. O breve silêncio da doutora dizia que era algo ruim, muito ruim. Só podia ser. Quanto tempo de vida ainda teria? E os netos para criarem? Agora que nascera o segundo e com Mariinha, a caçula, grávida pela primeira vez….
– A doença não é grave quanto o nome possa parecer, minha senhora. É uma espécie de câncer.
– Câncer? CÂNCER?
Enquanto desfalecia, ouvia a doutora falar de um tal de câncer de pele. As vistas escureciam. O som ambiente diminuía. Pontadas no peito dizia algo que ela, que pouco entendia de medicina, sabia muito bem o que era.
Câncer de pele. Uma microcirurgia acabaria com seu problema. Microproblema. Grave era o coração.
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