No Orkut, há comunidades para todos os tipos de gostos. E também para todas as manias. Há quem goste de chuchu e existe também quem ama Hegel. Lá encontramos defensores de loiras inteligentes e quem acha que a saída do Brasil é voltar aos anos de chumbo. Enfim, o Orkut é uma fauna exótica e exuberante.
A geografia está lá. Com muita gente séria, com muita discussão boa. Mas também com uma seara de joio, bobagens e trivialidades.
Qualquer discussão sobre Geografia, o nome de Milton Santos é quase sempre citado. Por bem ou por mal. A comunidade para discussão de seu pensamento é tão grande quanto aquela voltada para debater a Geografia.
Independente a essa comunidade, existe uma outra, também vinculada ao seu nome, mas com propósito diferente. São legítimos contestadores da importância de Milton para a Geografia. Mas não pense que apareça alguma teoria que negue os fluxos e os fixos, a rugosidade do espaço, ou outra idéia geográfica associada às pesquisas do estudioso brasileiro. Não. Pelo contrário. São questões do tipo “será o Milton geógrafo?”, “Milton deu quantos chiliques?”, ou simplesmente eu-odeio-o-Milton-porque-ele-escreve-muito-difícil-e-é-muito-prepotente.
A primeira questão é, de longe, a mais levantada pelo grupo. Como pode uma pessoa que não tem registro no CREA (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura) ser intitulada de geógrafo (quanta heresia…)?
Desdobrando essa trivial descoberta, desvendaram também que nem sequer advogado Milton era, pois não tinha registro na OAB.
Isto é: não basta ter conhecimento notório, não é suficiente o reconhecimento de suas pesquisas, não é levado em conta títulos e mais títulos de “doutor honoris causa”. Qualquer graduado chinfrim em algum medíocre colégio de 3º grau por aí pode orgulhosamente ostentar o título de geógrafo. Menos o Milton, Humboldt, Ritter, Josué de Castro. Mesmo escrevendo “Geographicae” em 17 volumes, Estrabão nunca foi e nem pode ser considerado um geógrafo.
Por conclusão, jamais houve Geografia antes do século XIX. Essa data no Brasil ainda é mais recente (década de 1930).
Querem por lei garantir um “status” exclusivo para si e inacessível aos que realmente fizeram a Geografia. Seria inveja? Aliás, o que seria da Geografia Brasileira se excluíssem dos anais da História do Pensamento Geográfico no Brasil os estudos feitos por aqueles não-registrados no CREA?
O pior de tudo é ver na comunidade um graduando em Direito dar lições básicas do pensamento de Milton a bacharéis em Geografia, provavelmente registrados no CREA. Traduzindo: os sabichões “creanos” não conhecem sequer o pensamento geográfico. E querem para si, somente para si, o título de Geógrafo.
A continuar assim, os graduandos em Direito, Economia, Ciências Sociais e demais ciências humanas estarão cada vez mais próximos da Geografia epistemologicamente de que nós próprios, os geógrafos.
É lastimável.
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