A mercantilização da educação

A montagem acima é do excelente kibeloco. Uma sátira próxima do real. Serra, um dos principais nomes da social-democracia brasileira (!), autorizou a propaganda nos uniformes da criançada que estuda em escolas municipais. José Pinotti, o secretário da educação, já faz as contas com a diminuição de gastos: 70 milhões liberados para outras demandas. Isso: a educação não é investimento, é gasto.

Cada vez mais a mercantilização penetra na educação. Além de se transformar em garoto-propaganda, o aluno é um importante consumidor em potencial. Se não conseguir se transformar em comprador, não há problema (frustração de pobre não é problema). O outdoor ambulante já contribuiu com a divulgação da marca para aqueles que realmente podem comprar.

Se causa estranheza essa nova política educacional, há tempos a mesma é familiar ao norte do Rio Grande (o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil, certo?). No Colorado, o Estado assinou um acordo com a Coca-Cola que renderá US$ 8 milhões no decorrer de dez anos. A meta das escolas é vender mais de 70 mil caixas de Coca-Cola por ano. Para isso, é facilitado o acesso do aluno a cantina em qualquer horário, oferta de máquinas de refrigerante por todo o colégio e a permissão de tomar refrigerante em sala de aula.

Já o Channel One Television patrocina material televisivo para doze mil salas em todo território estadunidense. A contrapartida das escolas é garantir que os alunos irão assistir o canal diariamente. Interessante, se não possuísse 80% da programação voltada para entretenimento, esportes e, claro, propaganda. Os investimentos em material didático cada vez mais se transferem da esfera pública para a privada – piorando visivelmente.

No Estado da Geórgia, um fato inusitado. Uma escola secundarista participava de um concurso da Coca-Cola. No momento da pose para a foto, um dos alunos retira a camiseta de uniforme (com a marca Coke) e, por debaixo, aparece a marca da concorrente, Pepsi. Resultado? Suspensão para o engraçadinho.

O ensino público nos Estados Unidos está em crise. A incompetência do Estado na área da educação é o motivo das parcerias com a iniciativa privada. É, talvez, a pior saída. Determinadas políticas de parcerias entre o público e o privado pode desobrigar aquilo que é obrigação do Estado: educação pública, gratuita e de qualidade. Não tendo prioridade, a educação entra em crise. Questão de lógica.

Tomara que não haja muita suspensão no ensino municipal paulistano.

(Post influenciado pelas leituras de Apple e Moore)

Update (15/09/2005): O Imprensa Marron publicou um excelente texto sobre o mesmo tema. Vale a pena conferir.

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