Bem, como um autêntico caipira, considerava a bossa nova um estilo sofisticado – em seu sentido não-elogioso – e sem-graça. Achava, sobretudo, uma musiquinha água-com-açúcar indecisa entre a música erudita e a música popular. Ora, como tantos outros interioranos que fecham a cara para hard metal e extasiam-se com Pena Branca e Xavantinho, o máximo gestual que a Bossa Nova retiraria era um ligeiro toque no chapéu, após escutar o estilinho sincopado da musiquinha, acompanhado de um olhar interrogativo e um sorrisinho amarelo.
O intróito acima tem a incumbência de ressaltar que não, eu não tenho (ou ‘não tinha’?) muita simpatia pela bossa nova. Pelo menos não me chamava tanta atenção, a ponto de comprar um CD baixar albuns internet a fora. Assim era até que, por convites de alguns amigos, decido assistir a peça “Tom & Vinicius”, com Marcelo Serrado e Thelmo Fernandes no elenco.
Reconheço uma dúzia das principais músicas. Dessas, acompanho cantando algumas delas nos seus versos principais. Em uma ou outra situação, agito discreta e involuntariamente meus dedos na poltrona acompanhando a cadência da música.
Não é por menos: a interpretação belíssima das diversas canções que permeiam o roteiro surpreende, já que os atores não são cantores profissionais (exceto Lilian Waleska). Frank Sinatra e Tom Jobim, juntos, são de arrepiar.
Fora isso, ainda tem os arroubos de excelente humor e tiradas engraçadíssimas, principalmente do Vinicius vivido por Thelmo. As gargalhadas percorreram o teatro em vários momentos.
Terminado o espetáculo (quase duas horas, jura?), saio estranhamente diferente: leve, solto, descompromissado e ligeiramente sofisticado. Um homem bossa-nova desperta nesse gigante caipira que há em mim.
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