Levanto cansado. Sei das mil e uma coisas ainda pra fazer. Tenho preguiça. Não dessa preguicinha de levantar os braços e dar gritinhos. Uma preguiça mórbida, que prende, que sufoca. Sair de casa é um problema; ficar em casa também é. Os problemas se avolumam. Mais e mais. Despersonalizo. Tento me “ver de fora”. Não vejo coisa boa. Estou preso. Amarrado. Acorrentado. Lágrimas saem? Uma ou outra vez. Vem a fome. A sede. Falta tudo. Mas está tudo ali, a um passo, a um braço de distância. Perto, mas sinto milhas e milhas de lonjura. Escrevo. Escrevo. E escrevo um pouco mais. Ah, aí sim. Alívio. Secando o rosto, endireitando o peito, aprontando-me para o job certeiro. Substituo a umidade das lágrimas pelo suor. E dá certo. Dois golpes no vazio, um acerto. Dois, um acerto. Sim, sim, sim. A preguiça foi. Mas, no fundo, me pergunto se sua ausência não é temporária. Embora saiba que sim, depreendo um esforço terrível para criar a auto-ilusão de que, finalmente, ela se foi – para sempre. E passo a contar os minutos. Eternos minutos. Bons minutos, suficientes para posteridade. “Não, preguicinha, não apareça mais. Vá embora para nunca mais voltar.”
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