Universidades e seus concursos

Recebi, algum tempo atrás, um apaixonado e-mail de uma candidata inconformada com o resultado de um concurso público de uma universidade federal. Reclamava, entre outras coisas, da extrema subjetividade que campeia nesses concursos.

Até aí, tudo bem. Todo mundo tem direito – e obrigação, nesse caso – de denunciar e espernear quando se sentem injustiçados. Mas vamos, prosseguindo, divagar sobre algumas curiosidades desse esperneio.

De imediato, o que me espanta é o grito de uma doutora. Em tese, pressupõe que a mesma viveu por longos e longos anos em ambientes universitários. Por conseguinte, é de se assombrar o fato de que, somente agora, a candidata se deu conta que os processos seletivos em universidades são, em sua maioria, bastante… subjetivos.

Ora, comecemos pelas coisas mais simples: a seleção para alunos bolsistas. No geral, o professor convida um aluno, e o aspecto subjetivo – a empatia entre professor e aluno – é um dos aspectos fundamentais nessa escolha. Isto é, o desempenho acadêmico é insuficiente para o sucesso do estudante.

Portanto, não basta você ser uma promessa de gênio. Se constar traços de empáfia, arrogância ou qualquer outro atributo que não condiz com a versão idealizada de um bom estudante, pior pra você.

Para as seleções posteriores, o grau de subjetividade diminui um pouco, é verdade, mas continua ainda sendo um critério relevante. Para mestrados e doutorados, o seu currículo, projeto e desenvoltura numa prova escrita são pouco quando se tem uma entrevista como etapa de seleção. É nessa etapa que, novamente, a subjetividade conta. O histórico de parceria na vida acadêmica entre professor e candidatos é, portanto, fundamental.

Resumindo: ao concorrer, em mestrados e doutorados, com alunos que já foram orientados ou tiveram qualquer outra relação acadêmica com o professor, o resultado não oferecerá surpresa.

Mas, evidentemente, a doutora – aquela, lá do começo do texto – “desconhece” toda a subjetividade que povoa a universidade. Como boa brasileira, só reclama quando a ordem das coisas a prejudica. Até alcançar seu título de doutora, todos esses procedimentos eram “naturais”. Mas quando resolve fazer concursos fora de seu casulo habitual (as universidades que convalidam seus títulos), aí a boca geme e grita.

Exemplo bastante simples desse processo viciado é o fato de que as universidades têm, em seus quadros, professores que se graduam e se doutoram na mesma instituição. São favorecidos por essas “boas políticas” durante todo seu percurso acadêmico.

Reclamar apenas quando o “sistema” lhe prejudica é bastante casuístico e, no limite, fortemente imoral.

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