Mesmo cercado de amigos podemos estar sozinhos. A solidão, portanto, é o oceano; a amizade é uma ilha. Como bons migrantes, passeamos serelepes pelo oceano, às vezes inconsciente da própria existência da imensidão aquática que nos rodeia. Quando gritamos terra à vista, porém, percebemos que, como nós, a ilha – à moda daquilo que se viu em Lost, o seriado americano – também é móvel e está migrando por esse oceano. A saída é fabricarmos uma fraternidade de ilhas, costurada por afinidades de pequenas ou grandes ideias em comum. Reza a lenda que devemos conversar muito sobre as pequenas, mas jamais ficar ‘futucando’ as grandes; pode brotar aos nossos olhos alguma divergência, e isso pode desencadear fraturas definitivas no arquipélago. Por isso, preferiremos sempre conversar sobre amenidades, sobre coisas comezinhas. O sentido da vida, nossas angústias mais profundas e nossos medos mais terríveis ficam guardados em algum cofre, distante do olhar menos acurado de um passante comum.
Em “Até a eternidade” (França, 2012), a fraternidade de Max, um cozinheiro de sucesso em Paris, é celebrada uma vez por ano nas proximidades de Bordeaux, no litoral francês. Cada participante possui sua dor, sua angústia, e por mais que se dão bem ‘no social’, nenhum amigo é compreensivo o suficiente para ‘entrar’ no mundo do outro. Falta alteridade. O outro continua sendo o outro, mesmo estando próximo, gargalhando de uma ou outra piada. É o grupo servindo pra acomodar a solidão de cada um. O final, embora um pouco hollywoodiano, é de acabar com o coração dos mais durões. Lições? Por mais que nossa tendência seja caminhar solitariamente, a amizade precisa ser cultivada; por mais problemática que seja uma viagem em grupo, sempre será melhor que viajar sozinho; por melhor que pareça o estado do nosso amigo, é fundamental que o ouçamos de verdade. Filme altamente recomendado, apesar da crítica especializada ter sido pouco generosa…
Fonte da imagem: www.filmow.com
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