Alemanha Oriental, 1984. Anos de chumbo no leste europeu, oprimido pelas ditaduras de orientação comunista. Espião na penumbra, com aparelhagem de escuta posicionada. Ouve atento Appasionata, de Beethoven, tocada no piano por Dreyman, o espionado. A música termina. “Será que alguém que ouve essa música… que a ouve de verdade… pode ser uma má pessoa?”, pergunta Dreyman a namorada. O espião chora.
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A vida só é bela se vivida com muita paixão. Parece óbvio, frasezinha de efeito de qualquer livrinho de auto-ajuda. Para o espectador de “A vida dos outros” (Alemanha, 2006, Oscar de melhor filme estrangeiro), a frase é a base de um conflito moral permanente. A paixão pela arte deveria colocá-la acima de qualquer outra paixão? A paixão pelo trabalho deveria cegar a pequenas injustiças ou amoralidades pelo caminho, colocando em risco antigas amizades? A paixão por status e respeito de outras pessoas deveria ser o centro de nossas vidas? “Fazer o que é certo” tem seu preço, e é caro. Mesmo assim, a resposta sombria que o filme nos trás é essa: por pior que seja os resultados, ainda é melhor fazer o que é certo, independente de reconhecimento, status ou qualquer outro lustre social. Tal qual a vida, o triunfo do bem ou do mal é sempre provisório. Nada é para sempre. Apenas as consequências e, é claro, nossa consciência.

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