Estava em um filme de Bélla Tarr. Predominava o preto-e-branco, o silêncio. No casebre, em um canto em penumbras, seus olhos encontram o papel envelhecido nas mãos. Mãos calejadas, ásperas pelo tempo, castigadas pela aridez do trabalho. Estão trêmulas. No papel, ele lê:
“Não quero mais estar fascinada. Prefiro esquecer de mim e do quanto me machuquei. Não mais que doa para sempre. Passo o tempo a esperar que a água do choro lave, lave, lave e seque.”
Soluça um choro sem lágrimas. Ventania range as velhas engrenagens da janela. No horizonte não vê nada, porque, no limiar dos extremos, muita luz cega e se iguala a escuridão.
Desejar esquecer é como tentar levitar.
Não é necessário um desejo, uma fé-grão-de-mostarda.
É preciso uma vida.
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