Preocupação

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Silvia já havia pensado em algumas possibilidades. A vertigem do alto de um prédio de quinze andares não seria problema, mas não lhe fazia bem sequer o pensamento de como ficaria horrível sua imagem depois de uma queda dessas. Cortar os pulsos seria dramático demais, e não suportava tanto sangue. Vira também imagens de sufocamento e enforcamento; descartara de imediato.

Outra preocupação era com o sentimento dos outros. Não queria ninguém com o sentimento frustrante de “ah, eu poderia ter feito algo se ao menos soubesse que ela estava com idéias tão estupidas na cabeça”. Também não queria ninguém a menosprezando por ter desistido de tudo. Desejava, sim, que todos se sentissem chocados com sua partida mas que, decorridas algumas semanas, retomassem suas habituais, miseráveis e rotineiras vidinhas.

Pensava, então, em um simulacro. Ninguém precisava saber de como as coisas são. Ignorância às vezes é uma bênção, já havia lhe dito alguém certa vez. Não haveria explicação. Ninguém saberia de nada. O próprio legista ficaria em dúvida, assinalando “causa natural” na última ficha preenchida com seu nome no cabeçalho.

Animada, liga o laptop, abre o chrome e entra no google.

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