Lester Brown, um dos mais conceituados intelectuais norte-americanos, deu o ar de sua graça apocalipticamente afamada. Em seu mais novo livro, continua alertando sobre O Fim. Antes, o mundo acabaria pelos milhões de manés subnutridos. E, ao que parece, a culpa agora é dos ascendentes chineses e indianos.
Diz o notável – eleito um dos jovens mais brilhantes dos EUA nos anos 1960 – que o mundo entrará em colapso caso o american way of life seja estendido à gigantesca população indiana e chinesa. Esse tantão de gente comendo no Bob’s e tendo dois automóveis na garagem assusta – naturalmente.
A curiosidade aqui é o eixo da discussão estar em torno dos quase dois bilhões de pessoas consumindo como um branquelo classe média estadunidense – e não, apropriadamente, da sustentabilidade do consumismo símbolo do país de Mr. Bush.
Pessimismo sempre foi seu trunfo. A idéia da Revolução Verde, posterior a 2a Guerra Mundial, teve em Brown seu entusiasta e árduo defensor. Os gráficos já apontavam para um período de transição demográfica – Brown apostou na ‘Explosão Demográfica’; incorreu ainda em um erro crasso – caro também a Malthus – de não considerar que a evolução tecnológica poderia resolver alguns problemas básicos na produção e produtividade alimentar.
Brown enxergava apenas duas soluções possíveis, em seu famoso ‘Mundo em crise’ (In the human interest, 1974). A primeira, invocava o bom senso dos consumidores. Alertava para a finitude dos recursos naturais, e blábláblá. Trinta anos depois, a ineficiência desse discurso ingênuo é indiscutível. A segunda, mais bem trabalhada, mais enfática, era a responsabilidade dos Estados – principalmente aqueles dos países subdesenvolvidos – em elaborar políticas eficientes de planejamento familiar. Considerava assim que o aumento da população era um perigo ao meio ambiente. Especulava cenário dantesco caso a população ultrapassasse os seis bilhões de habitantes.
Levando em conta os recursos tecnológicos de hoje e os avanços nas ciências agrárias, a Terra suporta, tranqüilamente, oitenta bilhões de pessoas – já assegurava Milton Santos, o mais importante geógrafo que a Terra Brasilis conheceu. Sem american way of life, obviamente.
Para os verdes de plantão, nunca é demais ressaltar que o nascimento de um bebezinho no país de Brown é muito mais preocupante, para o meio ambiente mundial, que dez pimpolhos paridos na Eritréia.
[Aqui, inspiração desse post]
André Luis
setembro 22, 2007 at 15:40Você não notou que quando ele disse que uma pessoa no ocidente tem que ter várias no oriente para produzir o que ele consome, ele não disse algo relacionado a xenofobia, mais sim com insustentabilidade, não menozpreza os habitantes dos países em desenvolvimento, ele apenas demonstra como seria insustentável o padrão consumista ocidental no oriente, ou seja, bota a culpa nos ocidentais ricos e não nos orientais pobres.
Juliano
outubro 28, 2011 at 12:35André, o problema não é o “padrão consumista ocidental no oriente”, e sim o padrão consumista. Ele é insustentável sob qualquer ângulo. Silenciar sobre isso durante todo esse tempo é de um total conformismo com o mainstream que se locupletou, até hoje, com o american way of life.