Surdez à Lei

O que desvia os seus ouvidos de ouvir a lei, até a sua oração será abominável.
Provérbios 28:9

A oração do pecador é abominável a Deus?

Ao ler apressadamente essa passagem do livro de Provérbios é impossível não responder um sonoro SIM à pergunta.

Não é, entretanto, tão simples assim.

Há uma diferença a ser considerada: existem pecadores não-salvos – os ímpios – e pecadores salvos – os justificados.

Se não soubermos tal diferenciação, cairemos no absurdo de concluir que Deus há muito deixou de ouvir a oração da humanidade.

Sim, porque todos estamos sujeitos a pecar. Todos nós pecamos. Uns mais, outros menos. Uns ainda são escravos do pecado, mortos, incapazes de salvarem-se. Outros estão libertos da escravidão, mas ainda presos a um corpo que tende ao que é dessa vida.

Quem diz que não peca é mentiroso, atesta a Palavra de Deus.

Cristo fez mais ainda: disse que quem quebrasse um til da Lei seria julgado como se transgredisse toda a Lei.

A explicação de Cristo nos torna ainda mais dependente de Sua Graça. Não temos merecimento algum e, mesmo assim, fomos escolhidos para a Vida Eterna.

Vida Eterna não se perde, é bom que se diga. Quem a recebeu, a recebeu eternamente. Se não seria “vida temporária”.

E a Vida Eterna não é algo que se “ganha depois”, uma espécie de prêmio por bondades praticadas. Vida Eterna é um decreto de Deus, uma ordenação anterior à fundação dos séculos.

Deus, portanto, tem tanto apreço por aqueles que foram escolhidos que, como Verbo Encarnado, se sacrificou em holocausto para que nós ascendêssemos à eternidade.

Assim, a interpretação do verso em questão deve ser feita à luz do contexto bíblico. E o contexto bíblico é esse: existem ímpios, vasos de desonra, dignos do aborrecimento de Deus, e existem os escolhidos, dos quais Deus se agrada.

Evidentemente que o pecador justificado leva uma vida de forma constrangida. É assim que o Espírito Santo age. Sentimos que não temos a liberdade para fazer o que quisermos. A liberdade é aparente.

Paulo diria que aquilo que queremos fazer, não fazemos, e o que não deveríamos fazer, fazemos.

A diferença, nesse caso, é que o ímpio, com sua mente cauterizada, não se sente mal ao fazer o que é errado.

E assim o faz porque está distante da presença de Deus.

Daí extraímos que ser justificados nos traz prazer e dor. Prazer porque reconhecemos nossa sorte em ser encontrados pela Graça Divina. Dor porque nossa alma geme quando ainda está limitada pela natureza humana.

Concluindo: para Deus, a oração do ímpio é fonte de aborrecimento, mas Ele se compadece, por misericórdia, daqueles que são seus, lavados e legitimados pelo Sangue do Cordeiro.

É isso.

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