Quando criança, “ser cientista” era uma pronta resposta a tradicional indagação “o que você vai ser quando crescer”. Tinha uma vaga impressão do que era essa profissão (não escapava do afamado estereótipo homem-de-branco-em-laboratório-asséptico-manipulando-misteriosos-líquidos), mas plena convicção de que deveria estudar muito – e isso, para mim, era suficiente.
Não me tornei um cientista, stricto-sensu. Muitas outras pessoas que compartilhavam o mesmo sonho que eu, porém, conseguiram. Levantamentos indicam que 90% dos cientistas que já apareceram pelo planeta Terra ainda estão vivos. O número de pesquisadores duplicam a cada dez anos. Já tem gente profetizando que, no futuro, todos serão cientistas. E isso não quer dizer que o princípio da igualdade de oportunidades valerá.
A maioria dos cientistas atuais vive proletarizada em lucrativos laboratórios. Circunstâncias especiais permitem a formação de uma elite científica dirigente dos rumos das pesquisas – nos centros de pesquisa ou nas universidades. Entre essa elite e um cientista comum há uma distância abissal. Recursos, prestígio, repercussão de novas idéias, são variáveis que diferenciam o cientista-general de um cientista-soldado.
Essa rígida “divisão social” é oportunamente sublinhada por Robert Melton, um sociólogo estadunidense, como Efeito São Mateus: “Porque a todo o que tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundância; mas ao que não tem, até aquilo que tem ser-lhe-á tirado” (Mateus, 25:29). Precocemente descoberto, o Efeito São Mateus traumatizaria crianças sonhadoras com muito zelo pelos estudos. Felizmente, as piores descobertas se dão quando adulto.
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