Relatório IPCC/ONU: e agora?

Como esperado, o Relatório IPCC/ONU foi um prato cheio para a pauta da mídia nossa de cada dia. Há, por um lado, o risco de imobilidade e fatalismo na abordagem. Vi em um telejornal, por exemplo, menção ao fato de que, mesmo se toda a atividade poluidora cessasse, o processo de aquecimento global só amenizaria por volta de 2100. Ao senso comum, isso indica um sonoro ‘já tá tudo perdido, então’.

Outro ponto interessante que o Relatório poderia suscitar é a responsabilidade local dos problemas globais. Apesar dos efeitos serem mundiais, é na instância local que problemas ambientais ocorrem amiúde. Corresponde a pensar globalmente e agir localmente, só pra usar um jargão ambiental. Daí a importância da descentralização da gestão ambiental.

Tradicionalmente, as decisões de gestão ambiental são tomadas em um nível macro, em instância federal, de onde parte as diretrizes e normas de fiscalização ambiental. Ou pelo menos eram assim até o segundo mandato de FHC, que compartilhou a responsabilidade da gestão ambiental com os municípios. Um passo importante, desde que os recursos financeiros sejam, da mesma forma, descentralizados.

Embora seja evidente que uma legislação ambiental moderna e aplicável é salutar na repressão a agressão ao meio ambiente, é preciso avançar na criação de uma nova cultura, de novos padrões de convivência sócio-ambiental. É o modelo de desenvolvimento e de consumo que está em jogo. Torna-se importante que cada um entenda o seu espaço local como espaço de vida, não de consumo.

Uma das formas de se exercitar essa nova cultura passa pela dinamização do espaço local. Identificam-se os focos de desequilíbrio ambiental e, através da organização comunitária, propõem-se ações. Os melhores resultados dos movimentos ambientais têm sido extraídos desse modus operandi. É a partir daí, rua por rua, bairro por bairro, cidade por cidade, que teremos condições de agigantar ações aparentemente ineficientes, mas com excelentes resultados em longo prazo.

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