Karl Haushofer foi um dos principais teóricos da geopolítica. Editor do periódico Zeitschrift für Geopolitik (Revista de Geopolítica), reuniu em torno de si importantes geógrafos alemães. Apesar de muito lembrado, Haushofer pouco ofereceu de contribuição inédita para a discussão do tema. No geral, suas idéias abrigavam conceitos já defendidos por, entre outros, Harford Mackinder, Friedrich Ratzel e Rudoph Kjellen.
O geógrafo Halford Mackinder se tornou célebre por seu conceito de Hinterlândia. Claramente comprometido com o imperialismo britânico, Mackinder se preocupava sobretudo com a relação entre os grandes impérios e o espaço geográfico. É dessa preocupação que surge os estudos que dariam origem à tese do ‘heartland’. O estudioso inglês argumentava que, ao dominar a ‘terra-coração’, as áreas-pivôs, se dominava todo o território nas imediações. Apesar de ter sua carreira coroada com a vice-presidência na prestigiada Royal Geographical Society, sua produção eminentemente geográfica é pífia.
O primeiro a conceituar geopolítica, todavia, foi o jurista sueco Rudolph Kjellen. Discípulo assumido de Ratzel, foi fortemente influenciado por sua Teoria do Espaço Vital (lebensraum), a qual defendia que o Estado deve procurar o exato equilíbrio entre as necessidades da população e os recursos naturais disponíveis; isto é, caso a população carece de mais recursos, é natural que o Estado incorpore novos territórios. Ratzel foi, sobretudo, considerado o ‘pai’ da geopolítica. Escreveu vários livros sobre ciência política, entre eles “O Estado como uma forma de vida”. Como este título denuncia, aproximou a geopolítica de uma perspectiva biológica.
Aproximação que não era nenhuma novidade, visto que a biologia era a ‘mais-mais’ das ciências. O próprio Ratzel admitia a preponderância da Biologia, entendendo, como Kjellen, o Estado como um organismo biológico. Mas a contribuição de Ratzel foi muito além da geopolítica: introduziu o homem na Geografia onde antes havia uma privilegiada temática naturalista. Um homem naturalizado, é verdade, mas houve um inegável avanço.
Ratzel era o patrono da escola geográfica alemã. Logo, o ‘pai’ do determinismo, seguindo a lógica de Lucien Febvre, historiador francês, pioneiro na identificação determinista ratzeliana. Um exagero, para dizer o mínimo. O mesmo comentário não se sustenta quando se refere a Ellen Semple, ardorosa discípula do mestre alemão. Escrevendo ‘American History and its Geografics Conditions’, Semple defendia a inexorável influência do meio físico nas características humanas, determinando condutas morais e econômicas de qualquer grupo social. Professora em Harvard, após seu falecimento, ocorrido em 1932, o curso de Geografia foi encerrado.
Apesar do entusiasmo de Semple, que lembraria algo inédito, as idéias deterministas remontam a longa data. Exemplo é o que não falta. Hipocrates dizia que a falta de coragem e vontade guerreira dos asiáticos se deve a pouca variação das estações (não viveu o suficiente para conhecer Gengis Khan). Já Montesquieu argumentava que o frio deixa o homem com uma confiança maior em si próprio, sendo, portanto, propenso ao papel de dominador – o inverso acontecia com as populações tropicais (descobri a razão de minha índole masoquista…). Le Play, Demolins, Tocqueville, Buckle e uma plêiade de outros escritores fazem eco a essas teorias –se valendo para justificar políticas coloniais, neocoloniais e imperialistas.
É com muita propriedade que o Prof. Jan Broek, da Universidade de Minnesota, se pronunciou sobre o determinismo ambiental. Gosto tanto que faço de suas palavras as minhas: “Ninguém nega a significação do clima, solo, água ou características da superfície para a humanidade. Mas explicar a variedade do comportamento humano simplesmente pela diferença do ambiente físico é uma forma de adoração do sol”. Sensatez nunca é demais.
Santos
agosto 10, 2007 at 08:54Você não nasceu nos trópicos?
Juliano
agosto 14, 2007 at 10:26Não.