É difícil classificar Donnie Darko (2001) em algum gênero fílmico. É drama, é romance, há um pouco de suspense psicológico. Entretanto, é sobretudo ficção científica – o que descobrimos somente após decorrida a primeira metade do filme. Hawking, teoria das cordas, dimensão paralela… tudo isso e muito mais permeiam as explicações, no filme, para viagem no tempo-espaço.
Atraído por uma sinopse que declarava a proeminência da fantasia na realidade de Donnie, descobri um filme para além disso: complexo, com uma narrativa composta de fragmentos e repleta de pequenas explicações que só farão sentido quando, depois dos créditos aparecerem na tela, o expectador monte sua própria compreensão sobre.
A atuação de Jakes Gyllenhaal é incrível. Ali está a estranheza, o desconforto e a melancolia que caracterizaria, ao primeiro olhar do expectador, um sujeito esquizofrênico. A figura surreal de um coelho gigante interagindo com Donnie fortalece a sensação de algum tipo de delírio mental.
Escolhida criteriosamente, a trilha sonora é “quase-protagonista”. É responsável por acentuar o clima sombrio e nostálgico do filme. Dá vontade de “morar no filme”. A versão de Head Over Heels (Tears for Fears) especialmente gravada para o filme é um primor – embora, pareça, seja criticada por fãs da dupla britânica.
O aparente desequilibrio emocional de Donnie esconde uma profunda genialidade. Sua capacidade de entrega é sublime. Assim, não importa desanuviar minha dor naqueles que amamos. Isso é sobra de egoísmo. O que devo fazer é o possível para não transferir minhas angústias ao outro. O altruísmo de Donnie, ao provar seu amor pela família e namorada, o transforma em um pequeno diamante no meio de uma massa disforme de cascalho. “Eu seria capaz de fazer o que Donnie fez?” é o que me perguntei, ao terminar o filme.
Altruísmo é isso: ver na felicidade do outro a razão de sua vida.
Diálogo top-top:
Donnie: “Por que você usa essa fantasia idiota de coelho?
Coelho: “Por que você está vestindo essa fantasia ridícula de homem?”
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