Tradição

Alimaa sabia das regras da tribo. Dugar logo ia chegar. Ele não entenderia a displicência da esposa. O praavisan, uma variação local do Khuushuur, prato típico frito em óleo, deveria estar pronto à disposição do marido. Dugar ainda achava que era uma obrigação de toda mulher casada ao receber o marido no final do dia. Chimed, o pajem, considerava isso um absurdo. Esse costume há muito havia sido abandonado em outras famílias. A iguaria era preparada e servida considerando o desejo da esposa em também se alimentar ao lado do marido. Em outras tendas se servia praavisan de uma a três vezes por semana.

Chimed julgava ser uma tremenda estupidez a mulher servir-se de instrumento ao marido.

Dugar chegou e soube demonstrar seu desconforto. Disse que sabia o que aquilo significava: ela não se importava mais com ele. Esteve chateado durante toda a noite e o dia seguinte. Alimaa se condoeu. Procurou o marido, pediu perdão. Prometeu servir o praavisan sempre, tal qual rezava a antiga tradição. Dugar foi forte o suficiente para não dizer “eu te perdôo”. Seria uma fraqueza, uma declarada rendição aos encantos da mulher. Simplesmente a abraçou e, corpos colados, selaram o acordo de paz.

Na escuridão, Chimed tornou-se o primeiro homem feminista da história.

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