Tempestade

A tempestade atormentava as águas. O vento agitava-as. O barco trepidava de um lado ao outro, sem sentido, sem orientação. A tripulação se amedrontara. Menos um.

Ele estava dormindo. Seu sono era apenas a manifestação de sua carnalidade – o Deus retido momentaneamente em um corpo humano. Tudo sabia: o cansaço do dia, a sonolência da noite, a afoita natureza noturna, o desespero dos homens, o clamor de alguns.

Senhor de tudo – da natureza e dos homens – foi acordado de seu sono quando o barco dava sinais de ir a pique. Não se preocupara. Sabia que não havia chegado a sua hora e que a ansiedade dos homens lhe traria do mundo dos sonhos.

Aquele barco não naufragaria – assim como não naufraga nenhum barco em que Ele está. Não há manifestação da natureza que retém seu poder: se te achares à deriva, Ele te porá a caminhar sobre as águas. Se te faltar fé, à moda de Pedro, Ele lhe estenderá a mão. Recuse-a, e um Grande Peixe lhe manterá a salvo (entende, Jonas?).

Nossos planos de destruição não se mantêm quando para nós é decretado um plano de salvação.

[Leitura: Mateus, 8]

No Comments

Post a Comment