A zebra estava ao longe, passeando faceira. O olhar do felino esteve atento. Seu ataque oferece pouca chance de defesa. Está claro para ele. Mesmo assim, o ritual necessita de mais atrativos. O leão quer resistência. Quanto mais dificuldade, maior o seu troféu. Quer se sentir de fato o rei da floresta. É importante que ela corra. Que ela se mostre convicta de que é possível se safar. Que reúna força suficiente para tentar escapar. Esse jogo atiça o felino. Frustrado ficaria se não houvesse oposição.
O homem que observava, de longe e protegido pelo veículo blindado do safári, ficou apreensivo. As parcas noções de biologia não o deixava otimista. De nada adiantava torcer pela zebra. Ela é presa. Está fadada a ser devorada – mais dia menos dia. O espetáculo não é nada excitante. Se sente enojado. Quando o leão se põe ao ataque, uma lágrima brota em seus olhos.
Há homens que não foram feitos para a dureza da vida. Há homens que, de tamanha covardia, sentem-se mais aconchegado na possibilidade da morte. Há homens que, criados na ideia de uma natureza harmônica, se impactam diante da crueza da vida selvagem. Não há espaço para romantismo na natureza. Não há espaço para generosidade.
Ele, o homem do safari, voltou pra casa diferente. Simpatizou-se cada vez mais com a ideia da morte como um descanso. Desistiu de viver. E teve consciência da morte aos poucos, gradual, dia após dia. À cada tarde, um dia a menos. A cada dia vivido, um passo a mais para a morte certa. Não sabia em qual instante, mas a sentia espreitando a cada esquina. A cada gole de água. A cada respirar ofegante.
E foi assim que ele conheceu um pouco de esperança. Às avessas, é verdade. Porque suas esperanças não se centravam na vida, mas na morte. A esperava como prêmio. Logo viria. Se mais cedo, melhor.
Entregou-se.
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