O prêmio de criatividade deveria ser dado a quem inventasse uma semana de três dias. Mereceria o nobel.
Bronca
Greve nos Institutos Federais
Voltamos ao trabalho depois de mais de dois meses em greve. Internamente, o resultado foi bastante positivo, principalmente porque possibilitou, nas assembleias, a exposição pública dos diferentes interesses e visões sobre educação, como um todo, e sobre os Institutos, em particular.
Estupefato, assisti a defesas da expansão dos Institutos Federais, no geral feita a toque de caixa e no atropelo; escutei gente de peso na minha instituição dizer que o básico para uma aula funcionar é o professor, um quadro e dezenas de alunos… entre outras pérolas. Enfim, tais discursos funcionam como um balde de água fria para quem se entusiasmava com a ideia de que os Institutos se sustentariam “na conjugação de conhecimentos técnicos e tecnológicos”.
O pressuposto básico, inclusive indicado nominalmente pelos Institutos, é o apelo à articulação institucional entre Ciência, Tecnologia e Educação. Não consigo ver, nesse momento e no geral, uma política consolidada de ciência e de tecnologia nos Institutos Federais. O próprio entendimento do que seja “educação” – tratada como uma equação composta de Professor, Giz e Aluno – reflete bem a pequenez dos Institutos frente aquela já desenvolvida em diversas escolas públicas estaduais e municipais no Brasil.
No meu campus, por exemplo, a internet – essa coisa minimamente básica – oscila e não é confiável. Laboratórios? Corre o risco de formar turmas dos cursos superiores sem terem a oportunidade de fazer experimentos e demonstrações científicas em laboratório. Mais do que questionar a dedicação e esforço desse ou daquele dirigente – e aí falando da instância local – está a crítica a uma política de expansão que poderia ser acompanhada, em mesma rapidez, do aporte financeiro necessário para tal empreendimento.
Sobre reivindicações salariais
Reposição salarial era apenas uma das doze reivindicações grevistas. No entanto, era, talvez, o ponto de negociação que mais esbarrava na absoluta inflexibilidade do atual governo.
Por exemplo: ao se negar receber os representantes sindicais em reunião para debater o Plano de Carreira (estavam presentes o Andes e o Proifes, representando professores das universidades federais), o Ministério do Planejamento repetia ad nauseam que não negociava com grevistas. Para um governo que teve suas origens no sindicalismo de enfrentamento – e, por isso, pagaram alto preço, como a prisão de vários líderes – a gestão petista da Sra. Dilma é extremamente CONTRADITÓRIA.
No mais, não se reivindicava aumento salarial; o que se pedia era uma reposição das perdas salariais em função da inflação anual. Todo trabalhador tem que ter esse direito garantido. A gestão federal do Partido dos Trabalhadores, no entanto, não se sensibilizou com um problema típico dos… trabalhadores.
Pois bem. Greve findada, o que todo trabalhador espera é o cumprimento do Governo do indicativo de que as negociações se iniciem. Negociações que reflitam, sobretudo, a imperiosa necessidade de valorização da educação, não mais como discurso eleitoreiro, mas como efetiva política pública.
Lula, o SUS e o câncer
Desde a eleição de Lula que eu escutava sobre um tal “preconceito social” contra o agora ex-presidente. O episódio do câncer que o acometeu, divulgado nesse final de semana, parece reacender a discussão. Os comentários de internautas têm sido tão abjetos que motivou um colunista da Folha de S. Paulo a escrever sobre.
No Facebook, uma campanha defende o tratamento de Lula no SUS. Essa campanha é tão demagógica quanto aquele projeto do Senador Cristovam Buarque que acredita que a saída para o sistema público de educação é a matrícula de filhos de políticos em escolas municipais e estaduais.
A hipótese da presença do preconceito social se fortalece na medida em que se constata nenhuma indicação de tratamento ao SUS feita para o rico empresário Jose Alencar. Pelo contrário: qualquer brasileiro de bom coração se comoveu com a luta pela vida e o ânimo do ex-vice-presidente da República. Porque não dar o mesmo tratamento ao indouto ex-torneiro mecânico? Ora, essa reação estúpida só exibe a “teresacristinice” de muitos brasileiros. Querendo ou não, a ascensão social de Lula lhe permite usufruir daquilo que seu dinheiro compre.
“Os brasileiros, em sua maioria, sao tristemente patéticos. Nao demorou para que, além das péssimas piadas sobre o terrível diagnóstico, começassem com aquela bobagem de que Lula, por ser político e ex-mandatário, deveria usar o SUS. Pura hipocrisia.
Ele hoje tem dinheiro e, por óbvio, gasta como quiser. Passando essa obviedade, há um dado ainda mais problemático: se realmente vai ao SUS, ele tira a vaga de alguem sem condições, guardando seu dinheiro no banco. É isso que “defendem” nossos mestres da lógica.”
Força, Lula. Força, portadores do câncer, não importa se em hospitais públicos ou particulares, se filiados ao PT ou ao DEM. Força.
Dunga, o maltratado
Já o chamaram de retranqueiro, mal vestido, grosso, mal-humorado. Agora, acrescenta aí, por gentileza, mais uma qualidade: violentador da Língua Portuguesa.
Os repórteres, imaginem, muito provavelmente elevarão o conhecido gramaticalista Professor Pasquale à condição de técnico da seleção de futebol após a saída de Dunga.
Dunga, como a maior parte dos jogadores de futebol no Brasil, não é oriundo do Brasil-Leblon (ou Brasil-Morumbi). Como a maior parte dos brasileiros, a preocupação linguística do técnico é meramente se fazer entendido.
Talvez seja por isso que, em tão pouco tempo, a imprensa conseguiu a façanha de colocar os brasileiros torcendo pelo Dunga. A imprensa não lembra, nem de longe, o povo brasileiro – ao contrário do valente ex-volante gaúcho.
O “método Dunga” e o método da imprensa
O que a imprensa anda chamando de “método Dunga” já é notório.
Associam a ele a rispidez na linguagem, a pouca simpatia e a ‘militarização’ da seleção, expressa nos ‘confinamentos’ dos jogadores.
Conheci, há pouco, o “método rímoli” de gerenciamento de blog.
Funciona assim: se você escrever algo que eu não concorde, eu simplesmente apago.
Nada contra apagar comentários. Eu mesmo me reservo esse direito, embora nunca o usei.
Embora tivesse motivo nesse texto: não discutiram o post, mas me xingaram, gratuitamente.
Mas os xingamentos continuam lá, como testemunha da escrotidão humana e de minha tolerância com ela.
Fora os palavrões e os textos caluniosos, portanto, não há razão para apagar comentários.
O “método rímoli”, todavia, sugere que há.
Basta argumentar, em algum post, um ou outro equívoco do autor.
Ou, ainda, defender algo totalmente contrário ao que foi escrito no blog.
Eu, como dezenas de outros leitores, tive comentários excluídos no blog do Rimoli.
Pelo método Rimoli, evidentemente. Discordei, assim como a maioria por ali, e tive meus comentários apagados.
O método Rimoli é truculento. O método Rimole é pouco democrático. O método Rimoli invoca ditadura.
Ditadura que, em muitos países – entre eles, o Brasil – foi executada pelos militares.
Eis aí, portanto, o verdadeiro sentido de “militarização do pensamento”: o método Rimoli de gerenciamento de blogs.
Mesmo porque os jogadores, que, em primeira instância, são as “vítimas” da militarização do método dunga, estão plenamente satisfeitos com a calma da concentração.
É isso: os jornalistas incomodam muito mais que o tal “confinamento”.
Com a constante provocação da Globo, a tragédia pode tranquilamente acontecer, tal qual já sucedeu à seleção francesa.
E aí, a culpa será do Dunga.
Aliás, se o Brasil for campeão, o mérito será dos jogadores. Se perder, a culpa será do treinador.
Raciocínio tortuoso assim.
Raciocínio que está entranhado no método Rimoli.
Método que, como visto, é um expediente utilizado para exorcizar idéias contrárias.
É a ditadura do pensamento único. É a ditadura da imprensa. Pelo método Rimoli.
(texto escrito em estilo telegráfico; é uma homenagem aos jornalistas convertidos em blogueiros).
Fonte da imagem:
http://www.telegraph.co.uk/sport/football/international/4573275/Dunga-under-pressure-to-satisfy-Brazil-purists.html
PS: a exclusão de comentários há pouco parou de ser feita. Provavelmente, alguém foi dormir. Tá uma bagunça por lá. Entre excluir todos os post’s e permitir todos, independentemente, há a moderação; qualquer blogueiro com experiência acima de treze horas sabe disso. Moderação, no entanto, exige bom senso. O que, parece, não existe por lá.
Tolos
Torcedores do “coxa”, por arrebentarem seu próprio estádio;
Torcedores do Flamengo, por brigarem entre si;
Estudantes ocupantes da Câmara Legislativa do DF, por impedir os trabalhos dos deputados (e, por consequência, retardando o opróbrio dos queridos homens públicos. ‘Compulsoriamente’ escondidos em seus recantos privados, ficam eximidos de se explicarem das ações absurdamente vis assistidas exaustivamente em rede nacional).
Pra ser tolo, basta uma dose de irracionalidade.
Três rapidinhas vejáticas
[n. 2082, 15.out.2008]
# Contrariando os parvos que não gostam de democracia, as últimas eleições demonstraram, sim, que o povo sabe votar. Essa é a conclusão de Veja. Exemplos, segundo o semanário, não faltam: Richa, eleito em Curitiba; Kassab, em Sao Paulo, e Gabeira, no Rio, liderando as pesquisas de intenção de voto para o segundo turno. Então fica assim: quando o povo preferir candidatos que se encaixem no menu vejático, o grau de inteligência cívica é 10. Sobra espaço para contradição, claro: Lula, com recorde de popularidade, NÃO é exemplo dessa mesma inteligência. Terapeuta, já!
# Lá no miolo da revista, o semanário informa-nos que candidatos enrolados com a justiça foram eleitos. Dentre eles, João Mendes (PRB) e Carminha Jerominho (PTdoB), eleitos vereadores no… Rio de Janeiro, onde o povo alcançou grau máximo de refinamento eleitoral.
# Na seção de bobagens-escritas-sobre-educação dessa semana, a revista diz que “pesquisas (sic!) mostram que escolas no mundo todo falham nessa missão básica, de recrutar profissionais de alto nível, basicamente por não fazer da sala de aula um ambiente desafiador. Entenda-se por isso estabelecer e cobrar metas, distinguir os professores segundo sua capacidade de ajudar os alunos a avançar e lhes descortinar horizontes na carreira“. Façamos um teste, então. A Editora Abril diminuirá os dígitos dos salários de seus editores, repórteres e demais funcionários em torno da média do que ganham os professores brasileiros. Paralelamente, estabelecerá e cobrará metas, rigidamente. Prá lá irão os melhores profissionais, claro. Idéia… estúpida.
Acréscimo 01: nas páginas culturais, uma pequena reportagem sobre Dexter, uma das minhas séries prediletas, com comentário elogiador ao excelente Michael C. Hall, ator que interpreta o protagonista.
Acréscimo 02: que fique bem claro: eu gasto meu suado dinheirinho comprando essa revistinha.
Pensamento do dia
A ameaça de falência de instituições financeiras transforma discursos da não-intervenção na economia em pó.
Politicalha
Já tá no site do TSE a lista dos insuspeitos senhores que almejam cargos eletivos para 2009. Passei boas horas me divertindo com as listas de candidatos a vereadores e prefeitos e seus bens declarados. Coisa engraçada: tem gente que, não obstante a publicidade do patrimônio acumulado, insiste em subvalorizar seus imóveis – importante dizer: quase não são listados, fazendo-nos imaginar que eles, assim como nós, sofrem das mazelas do déficit habitacional brasileiro… – e negligenciar outras propriedades. O que há de empresário e comerciante com ficha constando “O candidato não possui bens a declarar“…
Roupa nova
O Lattes, o orkut dos pesquisadores, está de visual novo. A arquitetura de busca do repositório de currículos está mais clean e funcional.
~*~
Falando nisso, gostaria mesmo é de conhecer alguém que tenha currículo lá e recebeu algum tipo de proposta profissional. Parece-me que a função do site é catalogar e coletar dados estatísticos, para fins de planejamento e demais atividades burocráticas… e só.
Só? Não… serve também para bisbilhotar a vida alheia, possibilitando descobrir que aquela pessoinha que lhe tirou a vaga na pós-graduação, em um passado não muito distante, detem um currículo pra lá de medíocre.
E ao contrário do orkut, mentir sobre seus dados no lattes dá o maior fuzuê…
