O general e o estadista

Se um general apaixonado pela guerra ameaçar destruir uma cidade, o mal em potência que ele carrega é infinitamente menor que o apresentado pelo estadista equilibrado, racional, sensato proferindo a mesma ameaça. Desse último tenhais medo. Ele perdeu a sensibilidade de perceber o sofrimento do outro. Ele está em um estágio superior na escala de crueldade e desumanidade. O apaixonado ainda pode ouvir seu próprio coração. E aquele que se sente sensato, equilibrado, racional? Esse tipinho é perigoso.

Extremos

O que está nos extremos atrai  nosso olhar. Todavia, o inusitado e exótico tem data de validade – e quase sempre muito curto. A doçura atrai, mas em pouco tempo o sabor tende a ficar enjoativo. Mesma coisa sucede ao amargo: antes singular, em doses frequentes gera repulsa. No fim das coisas, por mais que as pessoas admirem os extremos, o que precisam mesmo é de uma comida sem tempero forte. Ninguém quer um closet somente com roupa de gala. Pelo contrário: roupas especiais geralmente são poucas, destinadas a eventos especiais. Não estamos preparados pra viver o excepcional 24 horas por dia. Em algum momento, a estafa virá. Daí sentiremos saudade da vida insossa, sem promessas, sem ventos uivantes. Alta adrenalina tem um preço: medo, ansiedade, às vezes um pouco de tristeza. Mesmo cientes disso, vemos tudo isso – o desapego à vida intensa – com perplexidade, muita perplexidade. Porque, afinal de contas, admiramos uma vida sendo vivida apaixonadamente.

Licitude

Por mais doloroso, por mais alto que seja o preço a pagar, fazer o certo é o que se espera de pessoas razoáveis. O sacrifício de hoje, mesmo que não resulte em bem algum, já é ganho porque afasta de nós qualquer espécie de sombra do mal. E se tivermos que sofrer qualquer perturbação que resulte no bem do próximo, que assim seja.

Luto

Dizem que os dois piores momentos do dia para quem está de luto é o deitar e o acordar.

Ao deitar, quando tentamos na solidão da noite conciliar o sono, o vazio sufoca.

Ao acordar, saímos da pausa paradisíaca do sono para, sem aviso, sentir a vertigem do abismo da realidade.

Por quanto tempo? Existe luto eterno? Se não, quantos litros de lágrimas e quantas semanas de sorumbático silêncio são necessários?

Ânimo

Ânimo, soldado, ânimo
Napoleão caiu, mas tu és valente

Ânimo, soldado, ânimo
A batalha é perdida,
Mas seu sangue ainda não foi vertido

Ânimo, soldado, ânimo
Inscreva seu sangue na história
Expulse seu suor anônimo

Ânimo, soldado, ânimo
Waterloo ainda não se encerrou.

Feliz ano novo

Desejo que nós tenhamos uma visão de vez em quando
De um mundo onde cada vizinho é um amigo
Feliz ano novo
Feliz ano novo
Que todos tenhamos nossas esperanças, nossa vontade de tentar
Se não tivermos, poderemos muito bem deitar-nos e morrer
Você e eu

Às vezes eu vejo
Quão bravo chega o mundo novo
E eu vejo como se prospera
Nas cinzas das nossas vidas
Oh sim, o Homem é um tolo
E ele acha que tudo ficará bem
Arrastando seus pés de barro
Nunca sabendo que está no caminho errado
E continua indo do mesmo jeito

Feliz ano novo
Feliz ano novo
(…)

Me parece agora
Que os sonhos que tínhamos antes
Estão mortos
Nada mais que confetes no chão
É o fim de uma década.
Nos próximos dez anos
Quem pode dizer o que acharemos
O que nos espera no fim da linha.

Composição: Benny Andersson / Björn Ulvaeus

Melancolia

Quem ama melancolia ama também a vida, porque sabe que a primeira só acabará quando encerrada a segunda.

Sono

Sono, sono, sono
Sinto-te à beira do tédio
Da falta de novidade
De um corpo cansado e um coração tranquilo

Ermitão

Depois de ninguém mais o ver, resolveram visitar a montanha que lhe servia de morada. Nada acharam, a não ser um texto desenhado numa pedra: “nascemos sós, morremos sós. O resto é ilusão”.

Tempo, tempo, tempo

Pleasantville, 2012. Peter desejou por tanto tempo viajar ao passado que não percebeu, coitado, que o presente se acelerava para horizontes distantes. Ninguém o avisou que, em poucos dias, já seria 2015. O pobre e melancólico homem, com um pouco de ridículo e um tanto de patético, pensava, veja só, que ainda estava em… Pleasantville, 2012.