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O público olhava admirado o trapo de homem que se contorcia em insistente tentativa de ficar de pé. As pernas trôpegas ameaçavam não sustentar o peso do esquálido homem. Bêbado, terrivelmente bêbado. O peso do mundo fora colocado em suas costas, embrulhado em sorrisos debochados, olhares de reprovação e murmúrios entre vizinhas fofoqueiras. Nem a solteirona por todos desprezada demonstrava compaixão. “Idiota, lá vai ele à procura da mulher que diz amar”. E ele a amava. Ela chegaria com o cheiro de outro homem. “Não importa, não importa”. O importante era ele a encontrar, deitar em seu colo e escutar a voz que tanto lhe acariciava o peito. Talvez ela esperasse por algum tapa, como se isso fosse a compensação por ter se entregado a outro homem, mas ele não era desses malandros que batem em mulher. Sustentava os vergões do seu opróbrio em sua própria carne. “Isso não é amor, é doença!”, diziam seus amigos. A impressão era que a dignidade e amor proprio diminuiam quanto mais crescia seus sentimentos por aquela mulher. Reduzia-se enquanto homem, enquanto ela era gentilmente colocada em pedestais cada vez mais elevados.
Era, sobretudo, um covarde.
A aposta na rua girava em torno de quanto tempo aquela linda, elegante e inteligente mulher toleraria um homem-banana, lacrimejante, sem brio. O que o pobre rapaz oferecia era um amor incondicional, algo de baixo custo em um mundo onde o desprezo, dialeticamente, exerce sedução, onde os ‘nãos’ são convites aos ‘sins”.
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