Estamos acostumados, desde a mais distante memória da infância, a maniqueísta divisão do mundo entre o bem e mal absolutos. Disney é assim, cultura cristã é assim. Por isso é tão divertido “A viagem de Chihiro”, ganhador do oscar em 2003 na categoria de melhor animação. Sem vilões e mocinhos, a estrela do filme é a aparentemente ingênua garotinha Chihiro, uma menina de bom coração que se vê, junto com seus pais, presa a um mundo de fantasia. Em duas horas de história, Chihiro nos encanta por seu progressivo amadurecimento e sensibilidade na interação com as outras criaturas do mundo paralelo em que mergulha. É impossível não colocá-lo ao lado de “Alice no País das Maravilhas” ou “Crônicas de Nárnia”; com toques ainda mais sombrios daqueles usados por Del Toro em “O labirinto do fauno”, a animação é, em alguns momentos, assustadora. Paradoxalmente, a estranheza nos deixa ainda mais propensos a refletir sobre o sentido das inúmeras metáforas apresentadas no filme. A importância da identidade conferida pelo sentido dos nomes, não julgar pelas aparências, decidir pelo que é certo independente das circunstâncias, o valor da amizade… Lindo, lindo.
Sem Rosto, Chihiro e Zeniba. Disponível em http://spiritedaway.wikia.com/wiki/Zeniba/Image_Gallery.
Chihiro: Parece que eu já havia encontrado Haku [leal amigo que encontra e protege Chihiro], mas há muito tempo atrás…
Zeniba [feiticeira]: Isso é um bom começo… uma vez que tenha encontrado alguém, você realmente nunca esquecerá! Apenas demora um pouco para que sua memórias retornem.
