Entre o bem e o mal

Estamos acostumados, desde a mais distante memória da infância, a maniqueísta divisão do mundo entre o bem e mal absolutos. Disney é assim, cultura cristã é assim. Por isso é tão divertido “A viagem de Chihiro”, ganhador do oscar em 2003 na categoria de melhor animação. Sem vilões e mocinhos, a estrela do filme é a aparentemente ingênua garotinha Chihiro, uma menina de bom coração que se vê, junto com seus pais, presa a um mundo de fantasia. Em duas horas de história, Chihiro nos encanta por seu progressivo amadurecimento e sensibilidade na interação com as outras criaturas do mundo paralelo em que mergulha. É impossível não colocá-lo ao lado de “Alice no País das Maravilhas” ou “Crônicas de Nárnia”; com toques ainda mais sombrios daqueles usados por Del Toro em “O labirinto do fauno”, a animação é, em alguns momentos, assustadora. Paradoxalmente, a estranheza nos deixa ainda mais propensos a refletir sobre o sentido das inúmeras metáforas apresentadas no filme. A importância da identidade conferida pelo sentido dos nomes, não julgar pelas aparências, decidir pelo que é certo independente das circunstâncias, o valor da amizade… Lindo, lindo.

Sem Rosto, Chihiro e Zeniba. Disponível em http://spiritedaway.wikia.com/wiki/Zeniba/Image_Gallery.

Chihiro: Parece que eu já havia encontrado Haku [leal amigo que encontra e protege Chihiro], mas há muito tempo atrás…

Zeniba [feiticeira]: Isso é um bom começo… uma vez que tenha encontrado alguém, você realmente nunca esquecerá! Apenas demora um pouco para que sua memórias retornem.

Tom e Vinicius

Bem, como um autêntico caipira, considerava a bossa nova um estilo sofisticado – em seu sentido não-elogioso – e sem-graça. Achava, sobretudo, uma musiquinha água-com-açúcar indecisa entre a música erudita e a música popular. Ora, como tantos outros interioranos que fecham a cara para hard metal e extasiam-se com Pena Branca e Xavantinho, o máximo gestual que a Bossa Nova retiraria era um ligeiro toque no chapéu, após escutar o estilinho sincopado da musiquinha, acompanhado de um olhar interrogativo e um sorrisinho amarelo.

O intróito acima tem a incumbência de ressaltar que não, eu não tenho (ou ‘não tinha’?) muita simpatia pela bossa nova. Pelo menos não me chamava tanta atenção, a ponto de comprar um CD baixar albuns internet a fora. Assim era até que, por convites de alguns amigos, decido assistir a peça “Tom & Vinicius”, com Marcelo Serrado e Thelmo Fernandes no elenco.

Reconheço uma dúzia das principais músicas.  Dessas, acompanho cantando algumas delas nos seus versos principais. Em uma ou outra situação, agito discreta e involuntariamente meus dedos na poltrona acompanhando a cadência da música.

Não é por menos: a interpretação belíssima das diversas canções que permeiam o roteiro surpreende, já que os atores não são cantores profissionais (exceto Lilian Waleska). Frank Sinatra e Tom Jobim, juntos, são de arrepiar.

Fora isso, ainda tem os arroubos de excelente humor e tiradas engraçadíssimas, principalmente do Vinicius vivido por Thelmo. As gargalhadas percorreram o teatro em vários momentos.

Terminado o espetáculo (quase duas horas, jura?), saio estranhamente diferente: leve, solto, descompromissado e ligeiramente sofisticado. Um homem bossa-nova desperta nesse gigante caipira que há em mim.

Mamma Mia, o filme

Pra assegurar minha fama de “homem tardio”: depois de mais de três semanas em cartaz, apenas ontem  assisti “Mamma Mia”.

A sala de exibição estava com 40, 50% de sua capacidade de lotação preenchida. É, estava vazia. Levemos em consideração, porém, que o filme já está cumprindo seu ciclo de exibição e, também, que o horário (14h20) não é o mais procurado na grade horária dominical dos cinemas. 🙂

O filme é bom.  Certo, quem gosta de Abba não pode ter uma visão diferente. Mas mesmo os pontos criticados por quem já havia visto o filme se mostram irrelevantes em função do conjunto da obra (ui…).

For example: a habilidade cantante de Brosnan, um pouco pior que a minha, celebra o componente patético que toda comédia não pode ignorar.

Mesmo Amanda Seyfried, pitéuzinho de Big Love, criticada pela falta de competência em alguma sequencias dramáticas, me pareceu bastante convincente durante toda a película.

No mais? Meryl Streep está muito boa. A sintonia entre o personagem de Streep e suas amigas interpretadas por Christine Baranski e Julie Walters garante umas boas risadas.

Aliás, é isso. O filme, despretensioso, cumpre o que esperamos de um filme de entretenimento. Ficam decepcionados apenas aqueles que querem extrair significados metafísicos de obras que não se propõem a isso.

Mamma Mia

Minhas células bregas estão agitadas, ansiosas pela espera do mês de setembro e a inevitável apresentação do musical “Mamma Mia” nos cinemas brasileiros. Meryl Streep interpreta a protagonista e Benny e Björn integra a produção.

E aí meus sentidos de autodefesa me sugerem escrever, desde já, a respeito da variação natural de gosto musical e tal. Antevejo que mmuuitttaaa gente mais entendida e com altos graus de refinamento em qualidade musical aporte por aqui e tenha seus sensores danificados com a violência, ousadia e petulância de minha afirmação: Abba é «a» banda.

Destôo do grupo de abbamaniacos apenas quando estão em discussão as famosas listinhas “the best of”. Gosto pouco do mais popular disco (Abba Gold) e pulo a faixa quando Frida, com seu vozeirão mezzo-soprano, preenche o ambiente com I have a dream. Por sua vez, o repeat é acionado quando as melodias singelas, acompanhadas de ingênuas letrinhas de “Another Town, Another Train“, “I Am Just A Girl“, “What About Livingstone“, “Bang-A-Boomerang“, “Dum Dum Diddle“, “Cassandra” e mais outras oitenta e sete canções preenchem o fonezinho de ouvido, aumentando ainda mais meu revés na audiometria anual… ;P

Lost (4th season): espetacular

Taí uma coisa que, nos últimos anos, tem sido um vício constante: os seriados americanos.

~*~

A quarta temporada de Lost encerrou-se já algum tempo nos Estados Unidos. Embora a audiência da série caiu muito, os episódios da última temporada não foram ruins; muito pelo contrário. O encadeamento do roteiro foi eletrizante. Vários mistérios foram desfeitos, como, por exemplo, aquele monstrengo barulhento que varria a ilha como um Taz gigante em forma de fumaça.

A surpreendente morte de Charlie, no final da terceira temporada, foi um soco no estômago. Pirar o cabeção, de fato, só agora, ao mostrar quem era o indivíduo falecido e deixado em uma funerária, conforme mostrado ainda na terceira temporada, em um daqueles lances de flashforwards.

Para confundir a galera, foram feitas três cenas finais para o último episódio da temporada. As duas cenas descartadas encontram-se abaixo.

http://youtube.com/watch?v=h-yXPfc5r1w

O finado verdadeiro? Pô, é o x%6@@%.

Aiô, BBB8

Pra desespero dos puristas, mais um motivo para alegria do povão. É a Globo contribuindo com a felicidade geral da nação (rá!). A Folha, guardiã da boa cultura e dos bons costumes, resolve conclamar os pensantes a boicotarem o Big Brother Brasil:

Talvez, o “gênio” e diretor do programa Boninho –aquele que se deixa flagrar em vídeo confessando o esporte de jogar ovos em prostitutas– merecesse uma resposta contundente do telespectador esclarecido. Desligue a TV.

Bem, a última frase deixa claro . Como um “Beba Coca-Cola”, ou “Vote no João da Silva”, ou qualquer outra frase imperativa, ao telespectador esclarecido, como vaca de presépio, não há outra opção: a TV deve estar desligada.

E se a ordem for obedecida? Os “telespectadores esclarecidos” desligando as TV’s, em todo território nacional, representariam algum centésimo pontual em queda na escala IBOPE?

Aliás, levado o recado a rigor, as TV’s dos “esclarecidos” se salvariam em algum momento do “stand by“?
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Fim de temporada

Termina essa semana a Temporada 2006/2007 de Lost e de Heroes nos Estados Unidos. Apesar de terem enredos notavelmente diferentes, muita gente vê similaridade entre as duas séries. Ambas compartilham, praticamente, do mesmo público. Essa gente toda que gosta de um pouco de fantasia, de enredo surreal.

Aparentemente, o que vai sobrar nas duas séries será sangue. Produtores de Heroes indicam que para a próxima temporada pretendem aproveitar algo em torno de dois ou três ‘heroes’ da temporada atual. Já em Lost, spoilers indicam que, no mínimo, quatro personagens dos perdidos na ilha serão mortos em decorrência do confronto com ‘The Others’.

Fãs das duas séries, como eu, só imploram por uma coisa: nada de ‘ganchos’ para a temporada seguinte. Problema criado, problema resolvido. Heroes deve aprender com a sucessiva queda de audiência de Lost nos EUA, em virtude da invenção de mistérios para a temporada seguinte – e freqüentemente não solucionados e esquecidos.

Ninguém quer viver com mistérios por longo tempo, não é?

~*~

Record anuncia Heroes, House e, provavelmente, Dexter, uma das melhores séries que já assisti até hoje. É esperar pra (re)ver.

"Ele está vivo?"

Essa foi uma das poucas falas na primeira aparição de Rodrigo Santoro na terceira temporada de Lost, semana passada. Essa semana, Santoro resmungou mais umas duas ou três frases – insignificantes, do ponto de vista da trama.

Alguma semelhança com sua participação em “As Panteras: Detonando”?

A diferença pode estar no humor do ator. O garoto está nervosinho com a cobertura da imprensa brasileira.

Mania de grandeza, essa. Ficar no Hawaí em uma ilha paradisíaca é melhor opção do que trabalhar em alguma cidadezinha do leste estadunidense lavando prato.

Menino ingrato.

Assim caminha a humanidade

O filme é excelente. Mais de três horas de duração me obrigou a assisti-lo em etapas. Coisa de proletário mesmo, que vive sem tempo.

Liz Taylor e Hudson estão excelentes. ‘Giant’ é o último trabalho do lendário James Dean, interpretando um Jett Rink cínico e maravilhosamente antipático.

Indicado para nove categorias no Oscar, ganhou um – de melhor diretor. A riqueza do filme é acrescida de um plágio descarado do pensamento de minha avó (esse povo sem originalidade…):

“Leslie Benedict (Elizabeth Taylor): Money isn’t all, you know?
Jett Rink (James Dean): Not when you’ve got it.”