Doce violação

Jamais pensei que o ato de alguém bisbilhotar conta bancária alheia seria suficiente para derrubar um ministro de Estado.

Particularmente, não ficaria nem um pouco indignado se a minha conta tivesse seu sigilo violado – apesar de saber que teria dificuldade em explicar o saldo sempre negativo.

Depois disso, todavia, mudei radicalmente de opinião. VIOLEM MINHA CONTA, PELAMORDEDEUS!

Profissionalização da Pilantragem

Outro dia, queriam plagear descaradamente a Dani.

Nascido nos ditados de português e aperfeiçoado nos exercícios de caça-palavras dos livros de Geografia e História, o plágio já foi uma coisa boa. Joãozinho acertava a questão se, necessariamente, respondesse, ipsis literis, a sentença correspondente no livro (dizem que ainda há casos assim, no Reino da Latvéria). Caso não acertasse, ora, havia ainda uma segunda chance: plagiava os rabiscos no quadro negro – escritos pelo professor (orgulhoso sabichão), ou por um aluno puxa-saco qualquer – quando da correção das atividades.

O que antes era um delito recorrente apenas na educação básica, aparece – e com impressionante força – em alguns programas de pós-graduação. Não é mais incomum casos de mestrandos serem descredenciados do programa por surrupiarem páginas alheias. No segundo maior encontro científico realizado no Brasil (em número de participantes), o Congresso Brasileiro de Geógrafos, houve, recentemente, um trabalho em que o único trabalho foi substituir os nomes da publicação original.

Tentar caminhos mais fáceis é tentador. Principalmente quando, por inépcia ou falta de tempo, são poucas as alternativas para escrever uma redação ou uma tese. Todavia, o futuro, ao que parece, será diferente. Absolutamente sem plágio.

Mãe Diná, sócia

Queimei a língua muito cedo. Minha clarividência anda abaixo de zero (vide post do dia 14 de março). Depois da queda do Palocci e do arquivamento do 69º pedido de CPI para investigação da gestão Alckmin em São Paulo, relâmpagos, trovões e tempestades à vista. Salve-se quem puder.

Planalto

Dada a largada à corrida presidencial. Fernando Rodrigues aposta numa eleição rapidíssima, de um só turno. Uma coisa é certa: será menos acirrada e folgadamente menos interessante do que a última. Não há espaço para heróis. Não há mais tanta esperança.

Acção apodíctica? Portanto não fronética, OK?

Pergunto-me seriamente se, passados vários anos (sim, aposto na longevidade desse blog – queira Deus desse blogueiro também…), entenderei post’s com significados tão particulares, íntimos e pessoais como, entre outros, esse, do dia 09 de fevereiro.

Às vésperas de uma seleção de pós-graduação (ah, essa malfadada….), angustiava-me numa leitura obrigatória pra lá de penosa – Introdução a uma Ciência Pós-Moderna, de Boaventura de Sousa Santos. A sensação era a mesma de quando comecei a ler Fenomenologia do Espírito, de F. Heidegger, tarefa fracassada após inúmeras tentativas.

Apesar do esforço tremendo em esquecer absolutamente tudo dessas aventuras epistemológicas do senil sociólogo português, algumas coisas persistem ainda hoje.

E sim, como àquela mulher que, após levar uma surra do marido, declara masoquistamente seu amor incondicional, ou como aquele funcionário que sorri feliz depois daquele esculacho do chefe, sinto-me enamorado por algumas idéias do livro.

Uma delas, por exemplo, envolve o reconhecimento da existência de uma lenta ruptura epistemológica própria ao desenvolvimento da Ciência Moderna; essa ruptura consiste basicamente em um distanciamento – histórico e progressivo – do conhecimento científico em relação ao senso comum.

Para o professor da Universidade de Coimbra, é necessário e urgente, hoje, pensar uma ruptura da ruptura epistemológica. Em outras palavras, diminuir as distâncias entre os discursos científicos/senso comum, com a finalidade de transformar qualitativamente esse último, e, logicamente, deixando-o menos comum.

Descobri posteriormente que o luso foi elevado a ícone do pensamento gauche mundial. Ah, bom. Diminui aí, por gentileza, cinqüentas chibatadas. Ele merece.

Começou…

… a temporada da ‘nata’ do automobilismo esportivo mundial. As suspeitas confirmaram: o velho alemão e a Ferrari estão retornando aos bons tempos.
Numa comunidade de discussão virtual, por pouco não faturei um bolão. Minha aposta era em um pódio formado por Alonso, Schumacher e Massa.

O Felipe Massa, além de frustrar minha aposta, destruiu o otimismo de muito marmanjo que esperava uma etapa diferente para os brasileiros esse ano. Uma derrapada banal, um erro simplório. Tudo bem, a corrida de recuperação foi boa, e é apenas a estréia dele na Ferrari.

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Apesar de ser uma impressão muito apressada, parece que as mudanças para essa temporada estão surtindo efeito. Não é nada que lembre os bons anos oitenta, enfim, mas já dá pra pensar em uma corrida de F-1 mais emocionante.

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Equipes novas, carros novos, uma profusão de cores para todos os gostos. Nada me convence, porém, que esse carro da McLaren é bonito. É ou não o mais feioso desse ano?

Li…

Por força maior, digamos assim, a leitura dos quatro volumes de “As Brumas de Avalon” azedou – temporariamente, é certo. Conferi apenas o primeiro da série. Em férias por quinze dias no mês de fevereiro, e distante da coleção de Marion Zimmer, abri o badalado “O Código da Vinci“.

O livro é bonzinho, com muitas reviravoltas e ‘segredinhos’, desvendados pelo leitor ao passar de páginas; já os diálogos são, assim, meio chinfrins, com aquela rapidez e brevidade pragmática típica de best sellers estadunidenses. Os mistérios, por outro lado – como a identidade do enigmático ‘Mestre’, um personagem chave da história – não são de todo imprevisíveis.

O que não dá pra entender, definitivamente, é a celeuma inicial que o livro causou. Até entendo que ali se encontram informações que abalam a estrutura da fé cristã – como um Cristo casado com a ex-prostituta (prostituição controversa, porém…) Maria Madalena e sua descendência vivendo até os dias atuais. Ora, isso não quer dizer, em absoluto, que isso aconteceu. É um livro fictício, não histórico. E, mesmo se fosse um fato – com provas, inclusive – não acho que a melhor atitude fosse desestimular o cristão a lê-lo – mesmo porque atitudes desse naipe têm sempre efeito contrário.

No vácuo do livro de Dan Brown, o mercado editorial aproveitou para lançar dezenas de títulos relacionados ao tema. Muitos deles, inclusive, se deram ao trabalho de ‘quebrar’ o tal Código, como se fosse necessário provar científica e historicamente que uma invenção literária é apenas isso – uma invenção literária.

Prova da liberdade fantasiosa de Brown é a presença do tal ‘Priorado de Sião’ no eixo do enredo. A entidade é, segundo alguns, guardadora de segredos do cristianismo primitivo e da descendência de Maria Madalena. O ‘Priorado’ no entanto, é uma farsa, uma produção alucinada da mente doentia de um monarquista francês na década de 1950.

Para maio está programado o lançamento da versão cinematográfica, na abertura do 59º Festival Anual de Cinema de Cannes, protagonizado por Tom Hanks e Ian McKellen. Adaptações para as telonas são quase sempre decepcionantes. A algazarra promovida pelas entidades católicas, primeiramente, e pela dupla de historiadores Michael Baigent e Richard Leigh, que acusam Brown de plágio, atualmente, garante, pelo menos, presença maciça de público no cinema. E isso, para os produtores, donos de cinema e pipoqueiros, já é suficiente.