Se um general apaixonado pela guerra ameaçar destruir uma cidade, o mal em potência que ele carrega é infinitamente menor que o apresentado pelo estadista equilibrado, racional, sensato proferindo a mesma ameaça. Desse último tenhais medo. Ele perdeu a sensibilidade de perceber o sofrimento do outro. Ele está em um estágio superior na escala de crueldade e desumanidade. O apaixonado ainda pode ouvir seu próprio coração. E aquele que se sente sensato, equilibrado, racional? Esse tipinho é perigoso.
Articles by Juliano
Música
A música é muito importante, disso não há dúvida. Entretanto, música não é essencial, como não são essenciais nenhuma das artes. A arte é especificidade humana, dignifica o homem e o diferencia dos animais. Mas, repito, música não é essencial. Para quem está no castelo e, eventualmente, sua trupe de música não executa sua música favorita, certamente achará a música mais fundamental que ela é. Para quem vive na miséria e distante dos bons modos da high society, essencial é sobreviver e… sonhar. Música é supérflua. Comida não. Roupa não. Sonho não.
Ator
Quem vê por além da máscara do laureado ator?
Seria sofrimento o sofrimento visto?
Seria alegria a alegria percebida?
As cortinas abrem e o simulacro desabrocha
Quem é o ator, quem é o ator?
Ninguém o vê… o deslumbre pelo personagem cega a platéia
Se finge tão bem dor, alegria, desconforto, regozijo…
Quem é o ator?
Qual conexão para a plateia perscrutar e mapear quem é o ator?
Não há, não há…
O ator se esconde de todos para que os personagens apareçam
E, como um bom poeta,
“Chega a fingir que é dor a dor que deveras sente”
A rainha e o elfo
A rainha temia pela escolha do elfo. “E se a floresta e o castelo se incendiassem ao mesmo tempo? Quem elfo salvaria?” Na inocência do amor em idade precoce, elfo desejaria salvar a todos.
Elfo mudou, rainha também. Efeito do tempo, da solidão da floresta, do aconchego palaciano. O elfo preocupou-se muito mais com o bem estar da realeza. Mas a rainha também, procurando afastar qualquer centelha inflamável.
A rainha, antes carente da ação protetora do elfo, se protegeu de tal maneira que nenhum foco de incêndio foi detectado por anos. Enquanto a bela nobre se descansava, tranquila, o gélido coração do elfo se despedaçava, diariamente, ao olhar pro castelo feliz, colorido e musicado.
Hoje, elfo não teria dúvidas. Daria sua vida para salvar a vida da rainha. Mas, por essas tristes coincidências que não acontecem em um conto de fadas tradicional, a rainha não mais precisava da proteção de um elfo.
Solitário na floresta, elfo olha pela última vez a construção encastelada e, das margens da floresta, recua alguns passos rumo ao interior para, em semblante inescrutável, viver seu silêncio.
Extremos
O que está nos extremos atrai nosso olhar. Todavia, o inusitado e exótico tem data de validade – e quase sempre muito curto. A doçura atrai, mas em pouco tempo o sabor tende a ficar enjoativo. Mesma coisa sucede ao amargo: antes singular, em doses frequentes gera repulsa. No fim das coisas, por mais que as pessoas admirem os extremos, o que precisam mesmo é de uma comida sem tempero forte. Ninguém quer um closet somente com roupa de gala. Pelo contrário: roupas especiais geralmente são poucas, destinadas a eventos especiais. Não estamos preparados pra viver o excepcional 24 horas por dia. Em algum momento, a estafa virá. Daí sentiremos saudade da vida insossa, sem promessas, sem ventos uivantes. Alta adrenalina tem um preço: medo, ansiedade, às vezes um pouco de tristeza. Mesmo cientes disso, vemos tudo isso – o desapego à vida intensa – com perplexidade, muita perplexidade. Porque, afinal de contas, admiramos uma vida sendo vivida apaixonadamente.
Licitude
Por mais doloroso, por mais alto que seja o preço a pagar, fazer o certo é o que se espera de pessoas razoáveis. O sacrifício de hoje, mesmo que não resulte em bem algum, já é ganho porque afasta de nós qualquer espécie de sombra do mal. E se tivermos que sofrer qualquer perturbação que resulte no bem do próximo, que assim seja.
Luto
Dizem que os dois piores momentos do dia para quem está de luto é o deitar e o acordar.
Ao deitar, quando tentamos na solidão da noite conciliar o sono, o vazio sufoca.
Ao acordar, saímos da pausa paradisíaca do sono para, sem aviso, sentir a vertigem do abismo da realidade.
Por quanto tempo? Existe luto eterno? Se não, quantos litros de lágrimas e quantas semanas de sorumbático silêncio são necessários?
Ânimo
Ânimo, soldado, ânimo
Napoleão caiu, mas tu és valente
Ânimo, soldado, ânimo
A batalha é perdida,
Mas seu sangue ainda não foi vertido
Ânimo, soldado, ânimo
Inscreva seu sangue na história
Expulse seu suor anônimo
Ânimo, soldado, ânimo
Waterloo ainda não se encerrou.
Feliz ano novo
Desejo que nós tenhamos uma visão de vez em quando
De um mundo onde cada vizinho é um amigo
Feliz ano novo
Feliz ano novo
Que todos tenhamos nossas esperanças, nossa vontade de tentar
Se não tivermos, poderemos muito bem deitar-nos e morrer
Você e eu
Às vezes eu vejo
Quão bravo chega o mundo novo
E eu vejo como se prospera
Nas cinzas das nossas vidas
Oh sim, o Homem é um tolo
E ele acha que tudo ficará bem
Arrastando seus pés de barro
Nunca sabendo que está no caminho errado
E continua indo do mesmo jeito
Feliz ano novo
Feliz ano novo
(…)
Me parece agora
Que os sonhos que tínhamos antes
Estão mortos
Nada mais que confetes no chão
É o fim de uma década.
Nos próximos dez anos
Quem pode dizer o que acharemos
O que nos espera no fim da linha.
Composição: Benny Andersson / Björn Ulvaeus
Melancolia
Quem ama melancolia ama também a vida, porque sabe que a primeira só acabará quando encerrada a segunda.