Marcelo Coelho escreveu ontem na FSP sobre cordialidade no elevador. A leitura do texto fez-me lembrar de uma situação vivida em dos elevadores da PUC-SP, ano passado.
Nessa ocasião, o painel indicador do movimento do elevador não estava funcionando, de maneira que não dava pra saber se o elevador estava subindo ou descendo para o estacionamento. Ao parar no térreo, estava vazio. Na dúvida, entrei – juntamente com duas dúzias de jovenzinhos, que, como eu, estavam intencionado em subir. Contrariando-nos, o movimento do elevador foi descendente.
Apinhado, o elevador parou no subsolo. Um grupo de professoras aguardava-o. Ficaram indignadas. “É um absurdo rapazes e moças saudáveis usarem o elevador. Tivesse a saúde de vocês eu ficaria envergonhada“, dizia uma, enquanto impedia o elevador de fechar a porta pela presença de seu enorme corpanzil. Daí, frases gentis como “Eu exijo que vocês saiam daí“, ou “A PUC humilha seus professores com essa ausência de ascensorista“. Umas duas ou três garotas saíram do elevador. A maioria ficou. Silenciosa, sem arredar o pé. Do subsolo ao quarto andar foi uma lista de impropérios que jamais imaginei que caberia numa boca de professora pós doutora.
A maioria da galera, mesmo assim, pareceu-me indiferente, como se não tivesse nada a ver com aquilo ali.
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Aliás, coisa doida essa. Você é obrigado a ficar cinco centímetros do corpo de outra pessoa, olhos nos olhos, sente a respiração e etc. mas não lhe traz intimidade suficiente para dizer um bom dia. Pelo contrário: há um esforço em evitar os olhos do outro. Meu entendimento do que é um convívio social saudável me impede de sacar que esse “afastamento na proximidade” pode ser salutar.
Por essa razão, creio que o articulista, referindo-se ao elevador, exagerou ao dizer que
Trata-se também, como qualquer outro meio de transporte no Brasil, de um local de embolamento, de contato físico. Não se tem aqui a mesma alergia que nos países anglo-saxões à proximidade corporal.
Há alergia sim – talvez não tanto quanto em outros países. Essa coisa da cordialidade brasileira – quando os envolvidos são urbanos médios – não passa de um grande mito. Pode valer, sim, para a periferia (o que permite dizer que a cordialidade tende ao enfraquecimento nos degraus acima da pirâmide social).
O elevador exemplifica o grande mal do modus vivendi urbano. Somos obrigados a ficar fisicamente próximos de dezenas pessoas, mas ao mesmo tempo todos assumem a postura coletiva de distanciamento do outro. Cada qual esforçando em melhorar sua cara blasé, seu olhar indiferente. Esse comportamento estúpido desumaniza o homem. Mas quem se interessa nisso, não é? É cada qual no seu quadrado… e só.
Depois de muito namorar essa 
