A vida é assim…

E enquanto um chora, outro ri; é a lei do mundo, meu rico senhor; é a perfeição universal. Tudo chorando seria monótono, tudo rindo, cansativo; mas uma boa distribuição de lágrimas e polcas, soluços e sarabandas, acaba por trazer à alma do mundo a variedade necessária, e faz-se o equilíbrio da vida.

Machado de Assis, em ‘Quincas Borba’

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Resumidamente, isso. Valeu, Machado.

Boa Aventura. Ou Desventura, como queira.

Não sei como ele apareceu ali. De repente, lá estava. O engraçado foi que eu não me assustei. Nem um pouco, veja só. O senhor de cabelos grisalhos também não era de meter medo algum, se não fosse a sua assombrosa e inexplicável aparição. Decidi ignorá-lo. De nada adiantou – pois parecia que sua intenção era também a mesma. Resolvi dar aqueles grunhidos sobrenaturais para ver se o velho se mancava, tipo, um ‘ahã…’ estrondoso. Sorriu, de leve, como se isso fosse suficiente para me responder.

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Sua decrepitude sumiu diante da força com que o livro foi arremessado. Além de força, o velhinho mostrou boa pontaria. Desequilibrado, o chão me serviu de consolo.

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“Leia, burro, e entenda, moleque”, ecoou pela sala na penumbra.

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Lembrei-me das 2873 gargalhadas dadas ao ouvir as 2873 piadas do Joaquim e Manoel. “Até o fim do mês, moleque, até o fim do mês” praguejou. “E ai de você se lhe vejo por aqui”, finalizou, envolto por uma fumaça espessa e fedorenta.

Brown, o pessimista

Lester Brown, um dos mais conceituados intelectuais norte-americanos, deu o ar de sua graça apocalipticamente afamada. Em seu mais novo livro, continua alertando sobre O Fim. Antes, o mundo acabaria pelos milhões de manés subnutridos. E, ao que parece, a culpa agora é dos ascendentes chineses e indianos.

Diz o notável – eleito um dos jovens mais brilhantes dos EUA nos anos 1960 – que o mundo entrará em colapso caso o american way of life seja estendido à gigantesca população indiana e chinesa. Esse tantão de gente comendo no Bob’s e tendo dois automóveis na garagem assusta – naturalmente.

A curiosidade aqui é o eixo da discussão estar em torno dos quase dois bilhões de pessoas consumindo como um branquelo classe média estadunidense – e não, apropriadamente, da sustentabilidade do consumismo símbolo do país de Mr. Bush.

Pessimismo sempre foi seu trunfo. A idéia da Revolução Verde, posterior a 2a Guerra Mundial, teve em Brown seu entusiasta e árduo defensor. Os gráficos já apontavam para um período de transição demográfica – Brown apostou na ‘Explosão Demográfica’; incorreu ainda em um erro crasso – caro também a Malthus – de não considerar que a evolução tecnológica poderia resolver alguns problemas básicos na produção e produtividade alimentar.

Brown enxergava apenas duas soluções possíveis, em seu famoso ‘Mundo em crise’ (In the human interest, 1974). A primeira, invocava o bom senso dos consumidores. Alertava para a finitude dos recursos naturais, e blábláblá. Trinta anos depois, a ineficiência desse discurso ingênuo é indiscutível. A segunda, mais bem trabalhada, mais enfática, era a responsabilidade dos Estados – principalmente aqueles dos países subdesenvolvidos – em elaborar políticas eficientes de planejamento familiar. Considerava assim que o aumento da população era um perigo ao meio ambiente. Especulava cenário dantesco caso a população ultrapassasse os seis bilhões de habitantes.

Levando em conta os recursos tecnológicos de hoje e os avanços nas ciências agrárias, a Terra suporta, tranqüilamente, oitenta bilhões de pessoas – já assegurava Milton Santos, o mais importante geógrafo que a Terra Brasilis conheceu. Sem american way of life, obviamente.

Para os verdes de plantão, nunca é demais ressaltar que o nascimento de um bebezinho no país de Brown é muito mais preocupante, para o meio ambiente mundial, que dez pimpolhos paridos na Eritréia.
[Aqui, inspiração desse post]

Erva da Vida

Primeiro, uma visita de amigos. Papo vai, papo vem, e a verdadeira apresentação dos motivos da cortesia. Os poderosos e milagrosos produtos Herbalife. Minha senhora caiu como uma patinha (ops…). Após a capitulação de minha parceira, os olhares se dirigiram para minha, hhuummm, saliência abdominal. Não, amiguinhos. Não será dessa vez que vou despedir de tanto esforço acumulado (oh, trocadilho infame…). Não assim, de boa. Meu problema não é a barriga – é o sedentarismo, é a inatividade, é a falta de alguma atividade estraladora de ossos.

Pois bem. Já que não despertaram meus vaidosos instintos (necessários para adquirir Herbalife) na primeira visita, resolveram me aliciar para uma futura carreira milionária. Essa segunda tentativa foi menos dissimulada. Vieram com crachazinho e dvd’s na pasta. Quase uma hora depois de assistir sobre ‘projeções para o novo mercado mundial’, sobre o ‘desejo incessante da população em permanecer eternamente jovem’, veio o ‘gran finale’: depoimentos de sujeitos, como eu e você, que, de repente, ficaram trilionários em poucos meses. ‘Eu tenho um Porsche, um BMW e uma Ferrari na minha garagem’. ‘Eu tenho dois carros importados’. ‘Eu tenho uma ilha’. ‘Eu tenho vários imóveis’. ‘Eu faço quinze viagens para o exterior todo ano’. Curiosamente, a cada minuto, mais enojado ficava. Não devo ter perfil para milionário, mesmo.

Algo nessa lógica herbalifiana não me desceu. Pareceu-me aqueles velhos sistemas de organizações piramidais que, caso dêem problema, apenas a base se estrumbica, como dizia o Velho Guerreiro.

Dessa história toda, só espero que minha lady não fique com perfil de uma Bundchen, ou uma Fernanda Lima, ou uma outra modelo qualquer. Como a maioria dos brasileiros, eu gosto de…

Ah, esquece.

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Uther Pendragon, Igraine e Gorlois, na morna versão cinematográfica de ‘As Brumas de Avalon’.

Igraine de Cornualha era uma desavergonhada. Senhora de Cornualha… e depois Gorlois achou ruim o chifre. Estava predestinado, ora…

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Sexta Feira 13. O dia agourento bem no primeiro mês do ano… Arre!

Tenho impressão de que o melhor que tenho a fazer é torcer para esse novo ano ser ao menos igual a 2005. Só isso já está de bom tamanho.

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Como previa, os prazos vão me apertar sim. Escrever dois artigos até o último dia desse mês é fogo. E com umas malditas viagens nesse interregno – para tornar as coisas mais complicadas.

Então, nada de brincar com letrinhas aqui no blog pelos próximos dias. Rara aparição aqui e acolá, nas caixas de comentários dos amigos.

Chuif.

Novo ano, novas metas, antigas leituras

A prática é remota. Ao findar o ano, mamãe recomendava pedir ao Papai do Céu o presente não recebido e desejado no Natal anterior. Receberia-o, caso fosse um bom menino. Depois de alfabetizado – e mais ambicioso – comecei a listar alguns brinquedos desejados para o Papai da Terra não esquecer.

A disposição em escrever a listinha, no entanto, foi diminuindo após sucessivos janeiros. Primeiro, na pré-adolescência, por achar isso coisa de criancinha. Depois, na adolescência de fato, por considerar uma coisinha muito… fresca.

Aos vinte, findada a vida universitária e ingressando na terrível agonia da vida de diplomado-sem-futuro-à-vista, retornei à lista. Agora, não mais pediria presente. Lutando contra a minha natural desorganização, ali estavam minhas metas e meus mais profundos desejos. E Papai do Céu foi muito mais bondoso que outrora.

Lembro-me da última, feita no final de 2001. Eram dez pontos – na ocasião, todos considerados improváveis ou impossíveis. O décimo realizou-se em janeiro de 2003.

Minha lista para esse ano tem quatro pontos. São metas ambiciosas. Vamos ver o que dá.

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Comecei a ler ‘As brumas de Avalon’, de Marion Zimmer Bradley. Desde Camelot 3000, minissérie lançada em 1988 em formato HQ pela Editora Abril, jurara ler algo mais consistente sobre a saga do Rei Arthur e da ilha de Avalon. Prioridade a outras leituras, falta de tempo e, às vezes, um pouco de preguiça me desviou do intento inicial.

  

O momento não poderia ser pior. Com duas ‘encomendas universitárias’ para os próximos dois meses, ler algo além dos manuais técnicos pode me custar noites de sono em um futuro próximo, quando a urgência dos prazos me apertar.

Que custe.

Folgas e folgados

Os hômi estão de boquinha extra no final de ano. Supõe-se que mais de 25 mil reais irão engordar a já robusta conta dos congressistas brasileiros. Entrando em ano eleitoral, melhor coisa não há.

Já tem gente chamando isso de mensalão oficial. Isso porque muita gente não comparecerá no batente e, mesmo assim, levará sua bolada. A Comissão de Ética, por exemplo, não trabalhará. Deve ser por problemas éticos, certamente.

Talvez esteja também sentado em cima da ética um insólito pesquisador, que, acessando internet na Câmara dos Deputados, chegou até esse blog digitando no Google ‘mulheres, estupradas’.

Domain Name (Unknown) IP Address 200.219.132.# (Camara dos Deputados)
ISP Camara dos DeputadosLocation
Continent: South America
Country: Brazil (Facts)

State/Region: Distrito Federal
City: Braslia
Lat/Long: -15.7833, -47.9167 (Map)

Fico aqui pensando o quão magnânimo esse sujeito é. Sim, deve estar procurando subsídios para a elaboração de algum projeto em defesa das mulheres. Ahã.

Pensando bem, recesso total lá faria bem a todos. Para alguns, folga permanente seria melhor.

Assim caminha a humanidade

O filme é excelente. Mais de três horas de duração me obrigou a assisti-lo em etapas. Coisa de proletário mesmo, que vive sem tempo.

Liz Taylor e Hudson estão excelentes. ‘Giant’ é o último trabalho do lendário James Dean, interpretando um Jett Rink cínico e maravilhosamente antipático.

Indicado para nove categorias no Oscar, ganhou um – de melhor diretor. A riqueza do filme é acrescida de um plágio descarado do pensamento de minha avó (esse povo sem originalidade…):

“Leslie Benedict (Elizabeth Taylor): Money isn’t all, you know?
Jett Rink (James Dean): Not when you’ve got it.”