Regras?

Um dia radiante nem sempre é sinal de dia feliz. A mesma coisa acontece com os dias chuvosos.

As regras fazem isso: simplificam as coisas. Mas deixam mais torto o caminho, mais áspera a caminhada.

A regra era: blogar sempre quando puder.

Como viram, não a segui. E fiquei muito feliz por isso. Não gosto de regras. Regras deixam as pessoas exageradamente seguras.

O executor de regras vira um autômato. Não tem vida própria. Faz apenas o que a regra manda. Porque? Não sabe. Apenas cumpre. Calado. Submisso. Obediente.

Como nesses últimos dias tem virado minha regra não blogar, estou aqui para transgredi-la. Sim. Volto a ser feliz novamente. Transgredir de vez em quando é bom, não? Principalmente sabendo que minha transgressão não altera a sua vida, nem a do seu primo, nem a do teu planeta.

Index livrorum proibitorum

Fernando Moraes é muito lembrado pelo sucesso de Olga. Sim, é o mesmo autor do livro “Na toca dos leões”. Mas já escreveu outros best-sellers. Entre eles, “Chatô, o Rei do Brasil”. Tenho “A ilha” na minha prateleira.”Na toca” já estava na lista dos livros mais lidos da Revista Época semana passada. Acho que não sai dessa lista tão cedo.

Isso tudo se deve ao meu conterrâneo Ronaldo Caiado. Implicado com dois parágrafos de um livro de mais de quinhentas páginas, não deu outra. Esperneou, entrou na justiça, e com o parecer favorável de um juiz paraunense (de Paraúna-GO), está retirando de circulação todos os exemplares das livrarias brasileiras.

O bom senso diria que Caiado deveria processar o autor do livro, sendo que viu, em algum momento, sua honra atacada. Mas nem sempre o bom senso aparece, não é? Ademais, é prática sempre corrente em determinados setores da sociedade calar uma voz por porretada ou de forma mais sutil, como se vê nesse caso.

Calar, literalmente. Caso o Fernando Moraes comente alguma coisa sobre o livro ou sobre a sentença do Juiz, pagará multa. Entenda: o escritor paga para manter o seu direito de livre expressão.

Se a intenção é voltar aos áureos tempos da ditadura militar, tá faltando o pau-de-arara. Se é voltar aos tempos de inquisição, que queime o Fernando Moraes.

P.S.: Meu blog está no ar há pouco mais de três meses. Agora que o contador registrou quinhentas visitas. Muito pouco visitado, portanto. Apenas meus amigos, alunos e conhecidos na net aparecem por aqui. Será que corro algum risco de ser processado?

Os chatos e os heróis

Em recente programa televisivo, assisti umprofundocomentário de uma crítica decinema. Dizia ela que não há nada mais chato do que fãs de Heróis em Quadrinhos(HQ). Eu, que até recentemente colecionava uma infindável lista de gibis,magoei.O comentário era sobre o novo uniforme do Super-Homem apresentado na quintaseqüência deSuper-Man. Novos tonsaqui, outros ali, uma bota diferente acolá… e estava pronto o fuzuê: críticase mais críticas dos amantes das famosas revistinhas.

A adaptação de histórias para o cinema traz uma incoerência. O que na verdadeseria uma transposição muitas vezes beira a recriação. Aí a reclamação épertinente. Estão mudando algo que faz parte do imaginário de milhões depessoas.

É bem verdade que boa parte dos freqüentadores de cinema não são, necessariamente, fãsdessas revistinhas. Portanto, isso não diminuiria o interesse delas sobre ofilme em si. Os produtores e roteiristas de cinema poderiam muito bem poupar acriatividade (artigo raro hoje em dia) nessas adaptações. O mundo dos HQ possuiuma riqueza de significados muito grande. Dispensa, então, inovações.

Se bem que, nós, fãs de HQ, somos barulhentos. Dá uma maior visibilidade ao filme senos deixarem contrariados. Contudo, se querem mudar, fiquem a vontade paramodificarem seus próprios heróis. Transformem o Rambo (argh…). Adeqüem oRobocop àquela famosa música dos finadosMamonas Assassinas. Façam o quequiserem. MAS DEIXEM O SUPER-HOMEM EM PAZ!

É. Acho que a moça da Record tinha razão. Somos chatos mesmo.

Banda Calypso: uma questão de (bom) gosto?

É bom falar daquilo que gostamos. Ainda mais quando podemos encontrar outras pessoas que poderão ser nossos amigos por afinidade. Quando nós falamos daquilo que não gostamos, nem sempre conseguimos o mesmo feito.

Mesmo correndo o risco de arrumar várias caras feias, falarei do que eu não gosto.

Banda Calypso. Pensei que era só um modismo passageiro do Norte-Nordeste. Mas não. Tá em cadeia nacional mesmo, com dobradinha com o Bruno e Marrone e tudo mais.

E olha que não estou falando nada do ritmo. Nem das letras (muito ruins…). Falo dos vocais.

Joelma. Esse é o nome dela. Parece que faz um esforço tremendo para parecer mais desafinada do que já é. Seu trinado feito em cima de um falsete exagerado dói os tímpanos de qualquer cristão.

Pensando na hipótese da Joelma partir para uma carreira solo (vide exemplo da Ivete Sangalo – êta comparação infeliz…), talvez a Banda Calypso ficasse melhor. Mas parece que o sucesso decorre do fracasso vocal. Tanto é que todas as outras bandas-clones esforçam para se parecer com a banda-mestra.

Numa hipotética seleção promovida pelo Fausto Silva, regras claras devem orientar a seleção de candidatas.

Pensei em algumas. Vejam:

* Empenho em desafinos e falsetes exagerados;

* Pouca vergonha em usar roupas de gosto duvidoso (e em tamanho minúsculo);

* Não possuir nenhum caso de parentes com labirintite. Isso porque a “dança do calypso” exige uma curvada de cabeça (tipo assim… jogando os cabelos para o chão, sabe?) por segundo;

* Exibir orgulhosamente “pneuzinhos”. Se for magra, a candidata nem ao palco sobe.

E aposto que milhares de candidatas aparecerão.

My God!

Esfriar a Guerra Fria?

Nesse tempo todo sem blogar aconteceram muitas coisas.Na minha visão bastante pessoal, acho que as duas mais importantes foram o repeteco da vitória do Alonso (será a Renault a nova Ferrari?) e a morte do Papa João Paulo II.

Em relação ao primeiro acontecimento, é previsível que alguém venceria a corrida. Caso não acontecesse nenhum terremoto gigantesco no Bahrein ou uma invasão terrorista (americanos ou extremistas do Oriente Médio, tanto faz), depois de duas horas do início do Grande Prêmio o mundo conheceria o campeão da terceira etapa da F-1. Jornalistas a postos, a novidade seria qual piloto dos vinte cruzaria a linha de chegada primeiro. Assim, a notícia do campeão somente poderia ser dada depois da ultrapassagem do bico do carro na linha de chegada.

O mesmo não aconteceu com a figura do Papa. Atentamente, os jornalistas acompanhavam os últimos minutos da vida do Sumo Pontífice. Mas as reportagens estavam prontas. Já estava tudo organizado. Só faltava o coração de Vossa Santidade parar de bater. Muito funesto, não?

A novidade, a meu ver, foi a internet, esse meio sacramentado como o símbolo da rapidez de informações do mundo pós-moderno, ter noticiado o falecimento de João Paulo II tardiamente. Após dezesseis minutos, aproximadamente, do “flash” feito pela Fátima Bernardes, o portal UOL veiculou a notícia fúnebre.

A previsibilidade da morte do Papa não impediu reportagens escritas às pressas. Em uma dessas, quase rolei de rir. Escrita pelo Ricardo Feltrin (excelente colunista que escreve sobre programas de televisão para a Folha de São Paulo), capturei-a com o Print Screen. Veja abaixo:

Tim Lopes e os outros sessenta

Elias Maluco foi condenado. Seria um marginal a mais, se não fosse pela magnitude de seu crime. Não, lógico que não estou falando dos mais de sessenta assassinatos atribuídos ao malfeitor somente no ano passado.

Da morte do jornalista de um grande veículo de comunicação como a TV Globo podemos tirar várias lições. A mais explícita é que a vida de alguns tem muito mais valor do que a minha, do que a sua, do que a vida da maioria da população brasileira.

Um ser supervalorizado sugere o barateamento dos outros. Essa lógica pode explicar o “Julgamento do Ano”. Que as famílias das dezenas de vítimas do traficante esperassem por um julgamento divino vindouro. Apoiado na legendária morosidade da justiça brasileira, o número sessenta se converte em um dado qualquer, muito menos importante – pasme! – do que o “um”.

A segunda lição é sobre a excepcionalidade e a obviedade dos fatos. Foi algo incomum a morte de um jornalista como Tim Lopes – tão incomum que gerou protestos por todo o mundo. Apesar do perigo imposto pela profissão, o jornalismo investigativo da TV Globo não tinha, até então, nenhuma perda humana. Todavia, não se lembra de tanta comoção quando Vladimir Herzog, jornalista da TV Cultura, foi assassinado na década de 80. Nem a Globo se esforçou tanto quanto agora na resolução do crime.

Já a prisão e condenação de Elias Maluco estão como fatos óbvios, inequívocos. Mais cedo ou mais tarde, Elias seria preso. Dependendo do olhar, foi até bom pra ele. Muito mais perigoso do que ser jornalista é ser traficante. Não se tem notícia de algum companheiro de Elias chegando a terceira idade.

Mesmo assim, questões comuns são colocadas a muitos brasileiros mais comuns ainda. Falta ser explicado porque a justiça pode ser tão eficiente em alguns casos, mas tão lenta em outros. Resta saber quantos Tim’s serão necessários para todos saberem o valor de uma vida, independente de cor, classe social, opção política, profissão.

Miopia ocidental

Curiosidade. É essa a palavra exata que descreve minha reação frente a “Revolução dos Cedros”. Curiosidade que resultou na descoberta de mais uma hipérbole dos “americanistas” (ou bushistas, hehehehe) de plantão.

Houve um momento de comoção internacional torcendo para a “volta” da “democracia” no Líbano. Era o povo pressionando o autoritário governo libanês para a expulsão do EXÉRCITO INVASOR sírio. Aproximadamente 2000 pessoas ficaram de plantão em frente ao governo libanês, esperando que o mesmo se posicionasse a favor da saída dos sírios. Como o cedro é a árvore símbolo do país, taí a marca. Revolução dos Cedros.

O tempo (ah, o tempo…) mostrou outra face da história. Uma manifestação realizada pelo Hezbollah, grupo xiita contrário a presença dos EUA no Oriente Médio, conseguiu reunir milhares de pessoas (200.000 segundo o Uolnews; 500.000 de acordo com o Diário Popular) A FAVOR da permanência do exército sírio e CONTRA a política beligerante de Mr. Bush. Como o cedro foi eleito o símbolo da outra manifestação, o The New York Times apontou outro ícone para essa mega-manifestação: o fuzil AK-47. Percebe? O bem (cedro) contra o mal (Ak-47). Já vi este filme antes…

Acontece que a Revolução dos Cedros foi saudada como vento democrático pela imprensa direita/conservadora (veja, por exemplo, o site da Revista Primeira Leitura – que, a meu ver, deveria chamar-se´”Última Leitura”, ou “Leitura Desnecessária”, ou “Inútil Leitura”, …..). Democracia não é um governo da e pela maioria? O peso desigual das manifestações não sugere que a maioria pensa diferente daquilo que a gente quer imaginar (Revolução dos Cedros)?

Como se não bastasse, guarda ainda outra terrível contradição o apoio a tal “Revolução dos Cedros” pelo governo estadunidense. Ao sugerir que a ocupação síria fere a soberania libanesa, Bush atira no próprio pé. As tropas ianques continuam no Iraque. Já pensou se a moda pega e meio milhão de iraquianos ocupem as ruas de Bagdá?

Mas Bush pode mesmo é ficar tranquilo. Décadas de Hussein no almoço e jantar deixaram os iraquianos mais dóceis que rapadura derretida. Tem os radicais, né… ah, mas eles são… os outros….

Eutanásia?

Confesso que nunca tinha pensado sobre a ética que envolve a eutanásia. Sempre estive indiferente. Isto é, não é algo que ocupe os meus pensamentos.

Dada a condição do caso daquela moça norte-americana (Terri Schiavo) estar presente em toda espécie de mídia, me obrigou a usar o “tico” e o “teco”.

Como acredito em milagres, naturalmente sou contra a eutanásia. Acho que até o último instante há possibilidade de interferência de uma força maior (Deus, nesse caso).

Um comentário de Henry Sobel, o rabino-chefe dos israelitas no Brasil, me fez repensar por alguns segundos essa minha idéia.

Para o mestre judeu, é anti-natural manter uma pessoa viva por meio de parafernália tecnológica. Deus deu a vida para nós vivê-la naturalmente.

Interessante, não?

Mesmo assim, continuo pensando como antes.

Certamente, ao designar à inteligência humana habilidades necessárias para prolongar a vida, houve uma autorização natural para prorrogá-la.

Mas seguindo a mesma linha de raciocínio: haveria algum problema ético quando, em um futuro que acredito não ser tão distante, se descobrir exatamente como impedir o envelhecimento celular?

O resultado da inteligência humana que permitiria a “vida eterna” não seria questionado?

Racismo e Futebol?

A imigração constante e em grande quantidade de pessoas dos países pobres em direção às grandes potências (principalmente no caso das nações européias e estadunidense) tem gerado um certo desconforto para os “de casa”. (Curiosamente, imigração foi o tema de uma aula de Geografia no Omega no início desse mês).

Xenofobia (horror a estrangeiro) e racismo andam de mãos dadas nesse momento. O ódio ao outro, ao diferente, vai se alimentando silenciosamente. Ou nem tanto silencioso assim…

Semana passada, causou o maior barulho na mídia o caso das manifestações racistas de torcedores espanhóis em estádios de futebol. E a índole dos cartolas da Espanha lembrou a de alguns daqui: minimizar algo grave, desconversar coisa séria.

É isso aí. Coisa séria sim. Nem parece que a Europa aprendeu a lição da intolerância, mais de meio século atrás. Que feiúra…