O tempo é muito lento para os que esperam
Muito rápido para os que tem medo
Muito longo para os que lamentam
Muito curto para os que festejam
Mas, para os que amam, o tempo é eterno.
Shakespeare
O tempo é muito lento para os que esperam
Muito rápido para os que tem medo
Muito longo para os que lamentam
Muito curto para os que festejam
Mas, para os que amam, o tempo é eterno.
Shakespeare
Florbela Espanca
Não me digas adeus, ó sombra amiga,
Abranda mais o ritmo dos teus passos;
Sente o perfume da paixão antiga,
Dos nossos bons e cândidos abraços!
Sou a dona dos místicos cansaços,
A fantástica e estranha rapariga
Que um dia ficou presa nos teus braços…
Não vás ainda embora, ó sombra amiga!
Teu amor fez de mim um lago triste:
Quantas ondas a rir que não lhe ouviste,
Quanta canção de ondinas lá no fundo!
Espera… espera… ó minha sombra amada…
Vê que pra além de mim já não há nada
E nunca mais me encontras neste mundo! …
Senhor, permita que, em qualquer ocasião, se houver inevitavelmente a necessidade de um coração ferido, que seja o meu.
Ah, tem o descontrole. Uma tragédia. Não há nada pior do que esse sentimento de perder as rédeas, de não se sentir no processo. Nesses momentos, a hipocrisia vai para o espaço, involuntariamente. Somos nós mesmos ali, na crueza da realidade, sem maquiagem, sem retoques. Sozinhos, em nossa versão menos light, menos palatável, totalmente alheios aos embrulhos cuidadosamente preparados para agradar os outros – seja nos gestos, nas ações ou nos falsos sorrisos. Somos perversos por natureza. Por mais bonzinhos que queremos ser, mais cedo ou mais tarde nosso descontrole nos desmascara. E aí ficamos no centro da sala, sozinhos, acompanhados apenas da nossa estultície. Estultície que insistimos matreiramente em escondê-la. Em vão, obviamente.
Ah, de nada adianta
Chorar a pedra derramada
Ou o leite atirado
Porque a pedra feriu
E o leite talhou.
I.
Passaram-se mais de trinta anos. Pouca certeza, pouca tranquilidade, e acima de tudo, pouco dinheiro. Definitivamente, não era esse o sonho. Porque isso é pesadelo.
II.
Descubro que não tenho nada em mim bom o suficiente para, narcisisticamente, me orgulhar. Não jogo bem futebol, não dirijo bem, não gosto de cachorro. Sequer sei contar boas piadas. Até estudar – que sempre contei vantagem sobre isso – anda me pregando peças. É, é minha memória. Esqueci o autor d’O Ateneu, uma boa metáfora do elevador do Zizek, provas na cantina, responder um importante e-mail, e etc. Do último livro que li, Plataforma, só lembro pequenos fragmentos, o suficiente para qualquer um duvidar do fato de que, sim, eu li o livro. E isso porque não faz nem dois meses que fechei o livro pela última vez.
III.
Morei numa pequena cidade no interior do Brasil que orgulhosamente se apresenta como a capital da amizade. Brincava com isso, porque achava que a amizade correu léguas da cidade. Uma bobagem. Porque, afinal, a comparação que fazia era com a cidade natal, farta de parentes e sobrando amigos de infância, da faculdade, da igreja. Uma rápida visita, depois de mais de três anos da mudança para Brasília, me fez rever conceitos. Lá, sim, é a capital da amizade.
IV.
Essa relação urbana da proximidade física e, ao mesmo tempo, estranhamento, mostra que a raça humana não tem jeito mesmo. Pior ainda é chamar bons modos de “urbanidade”. Quem já visitou propriedades rurais sabe do que falo. Não há povo mais carinhoso e receptivo do que os ‘campesinos’. As habitações esparsas fazem com que os vizinhos pouco se vêem. E quando isso acontece, é motivo de festa. Já meus vizinhos não têm sequer o hábito de se cumprimentarem. Sofremos de excesso de proximidade, é isso? Quer dizer que quanto mais próximo, mais distante? Quanto maior a possibilidade de relacionamentos, pior? Quanto mais posso ser humano, dentro de todas as magníficas possibilidades do relacionamento entre pessoas, mais eu me nego enquanto tal?
V.
Datena vocifera na TV. Sangue escorre pelo aparelho. Quero descanso. Quero paz. Deixa eu ir ali assistir Dexter. Porque na ficção tudo é sempre melhor do que na realidade.
VI.
Sem desanimar do blog, porque, afinal, continua ainda sendo mais barato do que pagar terapeuta.
Voltamos ao trabalho depois de mais de dois meses em greve. Internamente, o resultado foi bastante positivo, principalmente porque possibilitou, nas assembleias, a exposição pública dos diferentes interesses e visões sobre educação, como um todo, e sobre os Institutos, em particular.
Estupefato, assisti a defesas da expansão dos Institutos Federais, no geral feita a toque de caixa e no atropelo; escutei gente de peso na minha instituição dizer que o básico para uma aula funcionar é o professor, um quadro e dezenas de alunos… entre outras pérolas. Enfim, tais discursos funcionam como um balde de água fria para quem se entusiasmava com a ideia de que os Institutos se sustentariam “na conjugação de conhecimentos técnicos e tecnológicos”.
O pressuposto básico, inclusive indicado nominalmente pelos Institutos, é o apelo à articulação institucional entre Ciência, Tecnologia e Educação. Não consigo ver, nesse momento e no geral, uma política consolidada de ciência e de tecnologia nos Institutos Federais. O próprio entendimento do que seja “educação” – tratada como uma equação composta de Professor, Giz e Aluno – reflete bem a pequenez dos Institutos frente aquela já desenvolvida em diversas escolas públicas estaduais e municipais no Brasil.
No meu campus, por exemplo, a internet – essa coisa minimamente básica – oscila e não é confiável. Laboratórios? Corre o risco de formar turmas dos cursos superiores sem terem a oportunidade de fazer experimentos e demonstrações científicas em laboratório. Mais do que questionar a dedicação e esforço desse ou daquele dirigente – e aí falando da instância local – está a crítica a uma política de expansão que poderia ser acompanhada, em mesma rapidez, do aporte financeiro necessário para tal empreendimento.
Sobre reivindicações salariais
Reposição salarial era apenas uma das doze reivindicações grevistas. No entanto, era, talvez, o ponto de negociação que mais esbarrava na absoluta inflexibilidade do atual governo.
Por exemplo: ao se negar receber os representantes sindicais em reunião para debater o Plano de Carreira (estavam presentes o Andes e o Proifes, representando professores das universidades federais), o Ministério do Planejamento repetia ad nauseam que não negociava com grevistas. Para um governo que teve suas origens no sindicalismo de enfrentamento – e, por isso, pagaram alto preço, como a prisão de vários líderes – a gestão petista da Sra. Dilma é extremamente CONTRADITÓRIA.
No mais, não se reivindicava aumento salarial; o que se pedia era uma reposição das perdas salariais em função da inflação anual. Todo trabalhador tem que ter esse direito garantido. A gestão federal do Partido dos Trabalhadores, no entanto, não se sensibilizou com um problema típico dos… trabalhadores.
Pois bem. Greve findada, o que todo trabalhador espera é o cumprimento do Governo do indicativo de que as negociações se iniciem. Negociações que reflitam, sobretudo, a imperiosa necessidade de valorização da educação, não mais como discurso eleitoreiro, mas como efetiva política pública.
Desde a eleição de Lula que eu escutava sobre um tal “preconceito social” contra o agora ex-presidente. O episódio do câncer que o acometeu, divulgado nesse final de semana, parece reacender a discussão. Os comentários de internautas têm sido tão abjetos que motivou um colunista da Folha de S. Paulo a escrever sobre.
No Facebook, uma campanha defende o tratamento de Lula no SUS. Essa campanha é tão demagógica quanto aquele projeto do Senador Cristovam Buarque que acredita que a saída para o sistema público de educação é a matrícula de filhos de políticos em escolas municipais e estaduais.
A hipótese da presença do preconceito social se fortalece na medida em que se constata nenhuma indicação de tratamento ao SUS feita para o rico empresário Jose Alencar. Pelo contrário: qualquer brasileiro de bom coração se comoveu com a luta pela vida e o ânimo do ex-vice-presidente da República. Porque não dar o mesmo tratamento ao indouto ex-torneiro mecânico? Ora, essa reação estúpida só exibe a “teresacristinice” de muitos brasileiros. Querendo ou não, a ascensão social de Lula lhe permite usufruir daquilo que seu dinheiro compre.
“Os brasileiros, em sua maioria, sao tristemente patéticos. Nao demorou para que, além das péssimas piadas sobre o terrível diagnóstico, começassem com aquela bobagem de que Lula, por ser político e ex-mandatário, deveria usar o SUS. Pura hipocrisia.
Ele hoje tem dinheiro e, por óbvio, gasta como quiser. Passando essa obviedade, há um dado ainda mais problemático: se realmente vai ao SUS, ele tira a vaga de alguem sem condições, guardando seu dinheiro no banco. É isso que “defendem” nossos mestres da lógica.”
Força, Lula. Força, portadores do câncer, não importa se em hospitais públicos ou particulares, se filiados ao PT ou ao DEM. Força.
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Fonte: wikipedia.org
O condomínio de Pruitt-Igoe, em Saint Louis, Mo. (foto acima), foi resultante da concretização de um projeto influenciado pela mesma fonte teórica que culminou na construção de Brasília: o urbanismo modernista. O urbanismo modernista é derivado principalmente das idéias emanadas dos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna (CIAM), em que o arquiteto franco-suíço Le Corbusier desempenhou figura de proa, e da famosa Carta de Atenas (elaborada por Le Corbusier), que expressava os princípios básicos da arquitetura moderna.
Pruitt-Igoe, aliás, foi precedido em Saint Louis por um premiado projeto arquitetônico, também de orientação modernista, o Cochran Gardens (foto abaixo). Esse conjunto habitacional, construído para brancos pobres, foi demolido em 2008.

Fonte: http://www.builtstlouis.net
Os primeiros edifícios do Pruitt-Igoe foram concluídos em 1955. Ao todo, foram 33 prédios, cada um com onze andares. Era a expectativa de boa moradia para os pobres de Saint Louis. Para o prefeito, Joseph Darst, seria a vitória da municipalidade contra as favelas.
O aspecto funcional e racional da organização do espaço sugeria que aquele projeto seria duradouro. Os espaços livres entre os edifícios eram destinados a lazer e espaço de convivência entre os moradores. Projetado por Minori Yamasaki, arquiteto que tem em seu currículo as torres do World Trade Center, Pruitt-Igoe tinha a ousada intenção de reproduzir Manhattan na maior cidade do estado do Missouri.
No entanto, Pruitt-Igoe sequer chegou a “vida adulta”. Depois de dezessete anos, em 1972, o imenso complexo habitacional foi dinamitado. Os motivos do fracasso não são consensuais; as explicações mais recorrentes envolvem a política de segregação racial da época (uma espécie de confinamento dos negros; Pruitt recebia apenas negros, enquanto Igoe era um conjunto misto. No entanto, em poucos anos as famílias brancas começaram a mudar, reflexo e reforço da estigmatização do conjunto habitacional) e o encolhimento populacional da cidade no período de 1950/1970 (a cidade perdeu mais de duzentos mil habitantes).
O fato é que o condomínio nunca alcançou lotação completa. “Qualidades modernistas” foram questionadas e alçadas a problema, como, por exemplo, o fato de nem todos os andares serem servidos pelo elevador (uma medida para socializarem os moradores, obrigados a trafegarem pelas escadas). Não demorou para que a marginalidade ocupasse os apartamentos abandonados, fazendo de Pruitt-Igoe um ponto de tráfico de drogas. Em 1971, apenas 600 pessoas ainda moravam no conjunto. Dezessete edifícios estavam abandonados e devidamente lacrados.

Fonte: wikipedia.org
A falência desse projeto habitacional abriu um debate – que ainda se mantém atual – sobre os cuidados que o Estado deve ter em suas políticas públicas urbanas, especialmente aquelas que tratam de equacionar o problema da moradia. O contexto específico da época, obviamente, foi fundamental para o fracasso do projeto. Distante quase quarenta anos da demolição, a área de Pruitt-Igoe não foi utilizada para moradia. O abandono por todos esses anos permitiu o florescimento de uma densa vegetação. A contraditória sociedade humana cedeu lugar para uma harmônica sociedade de abelhas.
A história de Pruitt-Igoe tem sido retratada no cinema. Na película mais notória, “Koyaanisqatsi”, há uma sequência de cenas retratando o conjunto habitacional e sua demolição (ver cena abaixo). O outro filme, mais completo, foi lançado no início desse ano. É o documentário “The Pruitt-Igoe Myth” que, aparentemente, não foi exibido no Brasil (segue trailer abaixo).
Koyaanisqatsi – Pruitt Igoe por Tubulamarok
Fontes:
Magical Urbanism, Alexander von Hoffman, Robert O. Keel, Tim O’Neil e The Economist (blog Prospero).
A felicidade permanente é vendida por aí em propagandas de margarina, coca-cola e no culto televisivo da madrugada. Bem, pura ilusão. Não existe sujeito-sempre-feliz, e, se existisse, seria o cara mais tedioso do mundo. E embora desconfie que a maioria das pessoas não aceite essa ideia tão, assim, passivamente, suponho que toda essa presepada influencia muita, muita gente. São zilhões de robozinhos perseguindo, inutilmente, uma permanente felicidade. Nessa busca, a frustração é companhia certa. Neuroses mil, mais e mais gente deprê, e assim por diante.
Por isso, uma frase da Renata Vasconcelos (apresentadora do Bom Dia Brasil, noticiário matinal da TV Globo) é tão fascinante: “acho péssima essa obrigação de ser sempre feliz. Tristeza é fundamental” (TPM, maio de 2011). Brilhante! Como saberíamos, ora pois, como é a felicidade, aquela genuína, momentânea – até mesmo para ser mais valorizada – se não fosse a existência da tristeza? Porque – e desculpe-me pelo lugar-comum – o diamante é o que é por conta de trilhões de pedrinhas áridas e macambúzias…