Sarney, o senador maribondo (para registro)


Pichação feita em muro, no Amapá, fotograda e publicada no blog da Alcinéa Cavalcante (blog deletado mediante ação judicial. Novo endereço aqui). Via Idelber e Uol.

Será que a turma do Sarney já derrubou o muro? Ou os assessores já “Apagaram tudo/Pintaram tudo de cinza/A ‘figura’ no muro/Ficou coberta de tinta“, parafraseando Marisa Monte?

Uai…

Nós que passamos apressados/Pelas ruas da cidade/Merecemos ler as letras

Cadê o pichador? Já foi preso? Ah, esse bigodinho… (link para imagem aí no ‘bigodinho’ foi removido por sugestão de meu advogado. Sabe-se lá, né…)

Goya e hipocrisia

Estava participando de um curso de Arte promovido pelo SESC, em parceria com a Cineduc. Em dado momento, analisávamos os quadros de Francisco Goya, La Maja Desnuda e La Maja Vestida, pintados em 1798/1803 (acima, via InfoGoya). Éramos induzidos a crer que a mulher vestida era mais sensual (humpf!).

Daí, as professoras do curso iniciaram uma série de pontuações sobre a nudez, da Grécia Clássica aos tempos atuais. Hoje, temos uma moral meio torta, hipócrita até, que se preocupa fortemente com o nu artístico e muito pouco com outros temas vitais.

Em um estalo, como se houvesse descoberto a América, bradei, em meio ao silencioso auditório (e numa posição inspirada em Dom Pedro, naquele quadro do Pedro Américo, só que sem espada):

“Ora, pois! Deixemos a hipocrisia de lado! Todo mundo nu! Já! Todo mundo pelado! Viva o naturismo! Abaixo as roupas! U-rru!”

***

Não, eu não falei nada disso. Sou hipócrita. Assim como você (naturistas, desconsiderem a ofensa…).

Ou, ainda: uma dose de hipocrisia no convívio social é sempre necessária…

Decepção

Imaginava que o ambiente seria sombrio, fedorento. Não era nada disso. Limpo, com boa luminosidade, arejado.

Os ‘entrevistadores’ eram três. Um homem, duas mulheres, uma delas em pé, fumando um cigarro.

O homem era extremamente silencioso. Óculos fundo de garrafa, braço sustentando o queixo. Se estivesse pensando, certamente não seria sobre os fatos que ali sucediam. Estava longe, distante.

Elegância era a primeira palavra que vinha a cabeça para qualificar aquela que parecia ser a líder dos trabalhos. Com ligeiro sotaque francês, mantinha um ar empertigado, formal. ‘É com ela que devo ter maior cuidado’, pensou. ‘Ela que decidirá meu futuro’.

As perguntas se sucediam. E, estranhamente, nada de coação. Nenhum instrumento de tortura. Nenhum elemento que indicasse o interesse dos entrevistadores em deixá-lo no calabouço.

Depois de cinco minutos, o homem se mantinha na mesma posição. A ‘francesinha’ demonstrava a mesma inquirição mecânica. E a fumante – uma senhora obesa em roupas coloridíssimas – já estava terminando o segundo cigarro, sem dizer uma única palavra.

Foi aí que ele percebeu que sua estadia na prisão não era desejada. A líder deu uma pausa. Pigarreou, virou-se para seu colega míope-estrábico, retirando-o da mais profunda resignação:

– Esqueci alguma pergunta?
– Não… – meio que se refazendo do susto.
– Então – voltou-se para o moço – volte para prisão.

Assustadoramente desesperado, o rapaz saiu lentamente da sala.

Cinco idéias para a escola brasileira

A idéia inicial era levantar alguns pontos para discussão no então recém-criado fórum do site Reescrevendo a educação. O tempo passou, a vontade de discutir o tema também. Publico aqui, da forma que foi escrito em um dia e mês perdidos por aí (inclusive com os dois últimos pontos inacabados). É isso.

1. Descentralização, de fato, da gestão escolar – nos moldes europeus e norte-americanos – e novos critérios para contratação de professores.

Muitas atividades burocráticas, em função de uma pesada hierarquia funcional de antanho, emperram o cotidiano escolar. Isso é ruim. O foco da escola deveria ser a dimensão pedagógica. Coordenadores e Diretores com dezenas de relatórios e de ofícios para responderem é um sinal claro do rumo desastroso que a escola toma. Planos mirabolantes, historicamente recebidos na escola como simples alteração da rotina burocrática ou pretexto para marketing e confetes, deixam em segundo plano o processo cognitivo do aluno.

Nesse contexto de descentralização, seria imperioso o fortalecimento dos conselhos escolares. É verdade que já existam alguns – formalmente, pois quem acaba ‘mandando’ é o próprio diretor. O chamamento da comunidade para decisões – de gestão de pessoal a gestão de materiais – certamente exigirá maior compartilhamento das responsabilidades pelo sucesso da escola.

Por conseqüência, a escola teria autonomia, através de seu conselho escolar, para contratação e dispensa dos professores. O recrutamento seria feito mediante prova escrita e didática. Muitos licenciados são bons na teoria, mas péssimos na prática. Avaliados periodicamente, o conselho escolar indicaria a permanência ou não do atual docente. Esse redimensionamento poderia, inclusive, colocar a Universidade a repensar o perfil dos seus formandos.

2. Reformulação dos currículos dos cursos superiores de licenciatura.
A maior parte dos cursos de licenciatura destina significativa parcela de sua carga horária às teorizações, à pesquisa, interessantíssimas para o prosseguimento na carreira universitária. Acontece que são poucos os que trilham esse caminho. A maioria dos licenciados desemboca na escola básica – aí sim, mal formados, mal preparados. Ou qual é o professor que não teve um choque de realidade no seu primeiro dia de aula, pós-universidade?

Aqui entra um outro ponto, inclusive levantado por Antonio Nóvoa, prodigioso escritor português na área da educação. O que a universidade faz pelos egressos? Absolutamente nada. Os primeiros anos do professor são cruciais na sua carreira docente. Seria de suma importância o acompanhamento e monitoramento das atividades desses professores – e não somente deixar a cargo do Estado – com seu conivente estágio probatório – ou do mercado – impiedoso com o principiante claudicante. Seus erros e acertos poderão marcar, positiva ou negativamente, seu desempenho profissional. A responsabilidade da universidade tem sido, de forma estrita, com a formação inicial do docente. Se bem formado ou não, isso não interessa à universidade: o importante é que saiu de sua competência de atuação.

3. Fortalecimento salarial dos professores
Aqui não interessa se os professores da Libéria ganham mais ou menos e, em decorrência disso, os resultados são melhores ou piores. Se provada essa conclusão, a saída é sempre pagar menores salários – inclusive de jornalistas, já que se pode encontrar, na Libéria, jornalistas tão bem quanto… uma bobagem, enfim.

O ofício do professor não é fácil. Trabalhar com a complexidade do ser humano e sua imprevisibilidade de atitudes e comportamentos é algo melindroso. Se o salário não é atrativo, então…

Acontece que muitos profissionais hoje professores assim o são por força contigencial. Não escolheram a profissão. Apenas não conseguiram ser aprovados em um curso mais ‘nobre’. E aí a escola destina seus melhores alunos às profissões com maior status, hoje. Cursos como Medicina, Engenharia, entre outros, possuem alunos com maior capital cultural do que aqueles que cursam a licenciatura. E aí,sim, cria-se um círculo vicioso, com alunos ruins entrando na faculdade, saindo de lá pessimamente e contribuindo com sua parcela na formação de mais cabecinhas ocas.

4. Incentivo a formação continuada dos professores

Estabelecer parâmetros de valorização do professor mediante seu aperfeiçoamento constante. Licenças remuneradas para pós-graduação e elaboração de um calendário flexível, entremeado por momentos de estudo coletivo, é uma boa pedida.

5. Repensar a questão qualidade x quantidade

O programa escolar brasileiro é muito extenso. Há um pouco de tudo. Seria interessante enxugar o currículo, deixando somente aquilo que é indispensável. E o indispensável sendo discutido exaustivamente. Tem muita abobrinha enfeitando currículos por aí. Muitos conteúdos que, efetivamente, pouco contribuem para o desenvolvimento cognitivo e social dos estudantes.

Blogueiros, uni-vos!

Na Espanha, virou moda. Aqui, César Maia desistiu. Zé Dirceu, Roberto Jefferson e Miguel Rossetto iniciaram. Gabeira tem o seu, assim como Cristovam e Paulo Paim. A tendência é a proliferação, em virtude do cheiro da eleição. O bacana é notar que muitos textos são escritos por assessores de imprensa. Mesmo entre aqueles que assinam seus textos, há desconfiança sobre a autoria – como demonstra Altino Machado a respeito do blog do Dirceu.

Por aqui, fico pensando se já não é hora de pensar em um ‘refluxo’. Do lado de cá, para o lado de lá. Podemos fundar um partido. PBdoB (Partido Blogueiro do Brasil) é uma sigla com boa sonoridade. Desde já, ofereço meus préstimos à tesouraria do partido. Sacaram? A idéia foi minha e a tesouraria é minha! Minha! E ponto final.

'Vossa Excelência é um safado…'

Entrou no ar o site Excelências, criado e gerido pela Transparência Brasil. Estão lá fichados candidatos à reeleição a Câmara dos Deputados e alguns cidadãos que já exerceram cargos públicos. O site dá um raio x do candidato, listando emendas no orçamento, gastos de gabinete, financiadores da campanha. E o mais legal: informações sobre os processos que o tal sofre ou sofreu, dando links para notícias em que o referido é mencionado em corrupção ou qualquer outra irregularidade.

E aí eu me divirto com detalhes pra lá de curiosos. Não é muito difícil de achá-los. Em poucos minutinhos, vejam só o que garimpei:

O deputado ‘Meu nome é’ Enéas declarou todos os seus parcos bens. Somados, foram R$ 64.662,00, praticamente o mesmo valor gasto em sua autocusteada campanha de 2002 (R$ 65.800,00). Ano passado, dos quase duzentos mil anuais de verbas de gabinete, destinou 120.000,00 para hospedagem, alimentação e locomoção.

No PT, Doutor Rosinha, médico há mais de três décadas, tem um patrimônio de R$ 216.464,00. Adão Pretto, trabalhador rural, possui o primário. Seu patrimônio? Parecidíssimo com o do seu companheiro: R$ 298.000,00. O que equipara o patrimônio de Pretto com seu colega de congresso e partido pode ser seu histórico: líder rural, foi membro fundador do MST e deputado desde 1987.

Ainda no PT, Ângela ‘Pé-de-Valsa’ Guadagni. Possui sete processos. Nenhum deles por excesso de rebolado em ocasiões impróprias.

Somados os bens de Fernando ‘eu sou honesto em meio a tantos larápios’ Gabeira, sai a módica quantia de R$ 59.375,00. Duas motos, uma conta corrente, um lenço e um documento.

Nada supera, porém, os perdulicários que enfeitam a ficha de Paulo ‘Milhão’ Maluf: oito processos em tramitação (muito? Isso corresponde a apenas 2,5% do total de processos já sofridos…), quase quarenta milhões em bens (declarados, ressalta-se). Interessante também são seus financiadores de campanha. Compartilha com Gabeira desinteressados Reai$ da Klabin-Riocell; já o Banrisul, patrocinador do Internacional, doou pra sua campanha R$ 5,50, insuficientes até pra pagar o ingresso do jogo de ontem. Totalmente plausível, uma vez que os bancos estão cada vez mais miseráveis.

***

O site Excelências foi uma indicação da Yvonne.

Sobre queimaduras, calor, frio e etc.

A ponta dos meus dedos queimou. Mais uma tentativa de estimular habilidades nada inatas, inspirada nos atraentes post’s do Allan; mais um fracasso. Um erro primário. Panela quente. É.

Como tudo vale a pena se a al…[etc.], o incidente levou-me a uma profunda reflexão. E nisso tudo, a geografia me ajudou – ora, pois – ela serve pra muito mais coisa do que fazer a guerra, né?

OK. Retornando. Partindo então da concepção de que a dor é inevitável, mas o sofrimento é opc [etc.], tratei logo de amenizá-la. Três cubos de gelo numa tigelinha, quinze minutos de dedo gelado, e pronto.

O que tem a Geografia com isso? Livrar-me de uma das minhas maiores fobias – o medo de morrer queimado – em função da dor, e tal. Como? Lições elementares de climatologia. Mudo para a Antártida, ou Alasca, ou qualquer-outra-coisa-mais-fria-do-que-esses-lugares.

Se não der? Ora, quem não consegue comprar um Rolex se contenta com um Orient, não? Pode ser… Curitiba? Hã… sei não. A presença da mineirinhaalterando o clima da cidade.

***

Ah, Simy, vc me paga

Venenooooso, aê ê ê ê ê…

Segunda-feira. Acordo depois de seis horas de sono mal-dormidas. E com um veneno de cascavel. Dá licença?

Dez mil soldados do exército ignorados (uuuhhhh, que guerra…), treze mil presidiários soltos, cidades relativamente calmas. Se não fosse pela iminência de ter Serra como governador, arriscaria dizer que a sorte dos paulistas está mudando.

Fim do chocalho (tss, tss…).

Uma boa semana pra todos nós.

Presente

Saí de casa muito cedo
Os trapos na minha sacola
Camisa bordada no bolso
Na mão direita a viola
Principiava o mês de junho
O céu cinzento anunciava o inverno
O peito vazio de tudo
e a mala cheia de amor ‘paterno’

Zé Geraldo

Durante muito tempo, dia dos pais para mim era apenas o dia de dar presente para os pais. Mamãe comprava, eu entregava. Protocolarmente, assim. Depois de cinco agostos longe de casa (e já sem a viola), compreendo que o maior presente que eu desejaria oferecê-lo era estar presente lá. Dar um abraço. Ficar conversando lorota depois do almoço. Enfim.

Estar só e longe da casa paterna nesse dia é chato. Muito chato.