Efeito São Mateus

Quando criança, “ser cientista” era uma pronta resposta a tradicional indagação “o que você vai ser quando crescer”. Tinha uma vaga impressão do que era essa profissão (não escapava do afamado estereótipo homem-de-branco-em-laboratório-asséptico-manipulando-misteriosos-líquidos), mas plena convicção de que deveria estudar muito – e isso, para mim, era suficiente.

Não me tornei um cientista, stricto-sensu. Muitas outras pessoas que compartilhavam o mesmo sonho que eu, porém, conseguiram. Levantamentos indicam que 90% dos cientistas que já apareceram pelo planeta Terra ainda estão vivos. O número de pesquisadores duplicam a cada dez anos. Já tem gente profetizando que, no futuro, todos serão cientistas. E isso não quer dizer que o princípio da igualdade de oportunidades valerá.

A maioria dos cientistas atuais vive proletarizada em lucrativos laboratórios. Circunstâncias especiais permitem a formação de uma elite científica dirigente dos rumos das pesquisas – nos centros de pesquisa ou nas universidades. Entre essa elite e um cientista comum há uma distância abissal. Recursos, prestígio, repercussão de novas idéias, são variáveis que diferenciam o cientista-general de um cientista-soldado.

Essa rígida “divisão social” é oportunamente sublinhada por Robert Melton, um sociólogo estadunidense, como Efeito São Mateus: “Porque a todo o que tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundância; mas ao que não tem, até aquilo que tem ser-lhe-á tirado” (Mateus, 25:29). Precocemente descoberto, o Efeito São Mateus traumatizaria crianças sonhadoras com muito zelo pelos estudos. Felizmente, as piores descobertas se dão quando adulto.

Explicação karajá para ‘aqueles dias’

No princípio, um pai bastante ciumento tinha uma filha virgem, já em idade de casar. A beleza da filha atiçava ainda mais o cioso pai. Não queria deixá-la casar com qualquer um.

O velho era excessivamente criterioso. Pra cada pretendente, colocava uma dura exigência, uma prova a ser realizada. Capturar onça, recolher uma dúzia de dentes de jacaré e atravessar o rio Araguaia, cheio de piranhas, pelado e com o corpo coberto de sangue de boi eram algumas das dificílimas tarefas dadas aos candidatos a genro.

Todos ficavam pelo caminho. Exceto um, que cumpriu todas as provas e, como prêmio, exigiu a moça em casamento.

Entretanto, o velho não havia entregado os pontos. Como última cartada, palmilhou todo o rio Araguaia na busca de raríssimas piranhas vermelhas e colocou-as no útero da filha. O velho avisou o futuro genro (ainda bem!) e entregou a moça em casamento.

Desconfiado, o índio, meio a contragosto, resolveu pedir ajuda a um velho amigo, um macaco prego. Deu-lhe a possibilidade de ter a primeira noite com a sua esposa. Não deu outra. Na primeira investida, as piranhas avançaram no macaco e arrancaram-lhe o prepúcio (e, por isso, até hoje o macaco prego é naturalmente circuncidado).

O sortudo não desanimou. Consultando um velho pajé, descobriu uma alga (também raríssima) mortífera para as piranhas. Após consegui-la, em dois dias de aplicação conseguiu matar todas as piranhas.

Aliás, minto. Ficou uma. Pequenininha e arisca, escondeu-se lá no fundo da entrada feminina. Até hoje, e de mês em mês, em ataque feroz, faz a mulher sangrar pra caramba. Não é bom mexer com as moças nesse período – uma vez que a pequena-piranha-interior está muito brava e pode morder qualquer coisa nas proximidades (ui!).

***

Essa é uma lenda karajá. Certamente muito didática na educação sexual dos pequenos karajá. “Meu filho, se cuide. Não dê trela pras meninas, tá?” Ou: “Minha filha, agora quero que você namore o filho daquele cacique rabugento…”

***

Ontem foi o último dia dos Jogos Indígenas do Tocantins, realizados em Palmas. O evento contou com representantes das sete maiores etnias indígenas presentes em território tocantinense. Uma ótima oportunidade para conhecer a diversidade cultural do índio brasileiro.

Profissionalização da Pilantragem

Outro dia, queriam plagear descaradamente a Dani.

Nascido nos ditados de português e aperfeiçoado nos exercícios de caça-palavras dos livros de Geografia e História, o plágio já foi uma coisa boa. Joãozinho acertava a questão se, necessariamente, respondesse, ipsis literis, a sentença correspondente no livro (dizem que ainda há casos assim, no Reino da Latvéria). Caso não acertasse, ora, havia ainda uma segunda chance: plagiava os rabiscos no quadro negro – escritos pelo professor (orgulhoso sabichão), ou por um aluno puxa-saco qualquer – quando da correção das atividades.

O que antes era um delito recorrente apenas na educação básica, aparece – e com impressionante força – em alguns programas de pós-graduação. Não é mais incomum casos de mestrandos serem descredenciados do programa por surrupiarem páginas alheias. No segundo maior encontro científico realizado no Brasil (em número de participantes), o Congresso Brasileiro de Geógrafos, houve, recentemente, um trabalho em que o único trabalho foi substituir os nomes da publicação original.

Tentar caminhos mais fáceis é tentador. Principalmente quando, por inépcia ou falta de tempo, são poucas as alternativas para escrever uma redação ou uma tese. Todavia, o futuro, ao que parece, será diferente. Absolutamente sem plágio.

Brown, o pessimista

Lester Brown, um dos mais conceituados intelectuais norte-americanos, deu o ar de sua graça apocalipticamente afamada. Em seu mais novo livro, continua alertando sobre O Fim. Antes, o mundo acabaria pelos milhões de manés subnutridos. E, ao que parece, a culpa agora é dos ascendentes chineses e indianos.

Diz o notável – eleito um dos jovens mais brilhantes dos EUA nos anos 1960 – que o mundo entrará em colapso caso o american way of life seja estendido à gigantesca população indiana e chinesa. Esse tantão de gente comendo no Bob’s e tendo dois automóveis na garagem assusta – naturalmente.

A curiosidade aqui é o eixo da discussão estar em torno dos quase dois bilhões de pessoas consumindo como um branquelo classe média estadunidense – e não, apropriadamente, da sustentabilidade do consumismo símbolo do país de Mr. Bush.

Pessimismo sempre foi seu trunfo. A idéia da Revolução Verde, posterior a 2a Guerra Mundial, teve em Brown seu entusiasta e árduo defensor. Os gráficos já apontavam para um período de transição demográfica – Brown apostou na ‘Explosão Demográfica’; incorreu ainda em um erro crasso – caro também a Malthus – de não considerar que a evolução tecnológica poderia resolver alguns problemas básicos na produção e produtividade alimentar.

Brown enxergava apenas duas soluções possíveis, em seu famoso ‘Mundo em crise’ (In the human interest, 1974). A primeira, invocava o bom senso dos consumidores. Alertava para a finitude dos recursos naturais, e blábláblá. Trinta anos depois, a ineficiência desse discurso ingênuo é indiscutível. A segunda, mais bem trabalhada, mais enfática, era a responsabilidade dos Estados – principalmente aqueles dos países subdesenvolvidos – em elaborar políticas eficientes de planejamento familiar. Considerava assim que o aumento da população era um perigo ao meio ambiente. Especulava cenário dantesco caso a população ultrapassasse os seis bilhões de habitantes.

Levando em conta os recursos tecnológicos de hoje e os avanços nas ciências agrárias, a Terra suporta, tranqüilamente, oitenta bilhões de pessoas – já assegurava Milton Santos, o mais importante geógrafo que a Terra Brasilis conheceu. Sem american way of life, obviamente.

Para os verdes de plantão, nunca é demais ressaltar que o nascimento de um bebezinho no país de Brown é muito mais preocupante, para o meio ambiente mundial, que dez pimpolhos paridos na Eritréia.
[Aqui, inspiração desse post]

Mulheres indianas, mulheres brasileiras

Mulheres bonitas, Ganges, castas e Ghandi. Para muitos, a Índia se resume nisso. E daí a surpresa do homem comum ao descobrir que o cinema indiano supera a concorrência hollyoodiana – quantitativamente – e que a indústria informática de lá é uma das mais bem conceituadas do mundo.
A Índia segue sendo um país de diferentes e de desiguais. As distâncias sociais são legitimadas por um proterozóico sistema de castas. Resquícios feudais, diriam alguns. Civilização diferente, defendem outros.

Essa organização social rígida é de longa data. Segundo alguns estudiosos, o sistema de castas já dura quase dois milênios. Sua origem está numa lenda: os humanos se originaram de um Ser Primeiro. Julga-se que as pessoas saíram desse corpo-base a cumprir cada qual com sua função.

Nesse raciocínio, os braços deram origem aos guerreiros (xátrias), a boca aos sacerdotes (brâmanes), as coxas aos comerciantes (vaixás), os pés aos trabalhadores braçais (sudras). Para terminar, os parias (achuta ou dalit) – que não saíram de parte nenhuma do Ser Original.

Os parias são impuros, intocáveis. São seres humanos merecedores de desprezo. Não podem sequer entrar no rio Ganges, sagrado para o Hinduísmo. Curiosamente, são os nativos da Índia, uma vez que as outras castas são originárias de povos invasores.

As atividades dos dalit estão relacionadas a impureza. Trabalham com lixo, excrementos, corpos mortos. Mesmo escapando dessas atividades, sua remuneração será sempre mais baixa.

Assim, escancara-se que pouco bem à coletividade faz o sistema de castas. Combinado ainda com um capitalismo selvagem de meter medo a qualquer vespa-do-mar, o resultado não seria nada humanamente desejável.

Pois bem. Para variar, a sociedade indiana encarna ainda profundos princípios machistas. Da concepção à morte, há profunda desigualdade entre os gêneros. Assassinato de mulher não desperta tanto interesse da justiça. Mulher estuprada? A culpa é da vítima, lógico. Quem mandou andar seminua?

Em 1989, o Estado de S. Paulo publicava uma reportagem que ressaltava a grande incidência de infanticídios entre as crianças do sexo feminino. Hoje, pouco mudou. Com uso tecnológico nos exames pré-natais, aumentou-se o aborto de meninas. Há notícias de que em muitas famílias importantes do interior da Índia gurias são raridades.

A verdade é que ser mulher na Índia não é tarefa fácil. O costume de o sogro pagar o dote da mulher ao genro, quando se casa, tem transformado o casamento em poderoso instrumento de barganha. Não é raro o moço chantagear o sogro, ameaçando encerrar o enlace caso não receba mais algumas pilas. Não são casos excepcionais espancamento de mulheres para abrir a carteira do sogro. Também não é incomum a mulher abreviar todas essas querelas, suicidando-se.

Essa é a vida das mulheres pertencentes às famílias que podem ofertar dotes ‘gordos’. Imagino que as moças e senhoras parias sofram bem mais. O sofrimento é duplo, como atesta Anasuya Sengupta, feminista indiana.
Dados mostram que a violência contra a mulher é mais recorrente nas famílias de baixa renda. Obviamente, há casos bem representativos no topo da pirâmide social. Mas a possibilidade da mulher ser vítima de agressões é muito maior caso ela seja pobre e com baixo nível de instrução.

Se baixar algum “sentimento pollyana” em você, sacuda imediatamente os ombros e veja que não temos nada a comemorar (os dados são do Ipas-Brasil):

– Segundo a Sociedade Mundial de Vitimologia (Holanda), que pesquisou a violência doméstica em 138 mil mulheres de 54 países, 23% das mulheres brasileiras estão sujeitas à violência doméstica.

– A cada 4 minutos, uma mulher é agredida em seu próprio lar por uma pessoa com quem mantém relação de afeto.

– As estatísticas disponíveis e os registros nas delegacias especializadas de crimes contra a mulher demonstram que 70% dos incidentes acontecem dentro de casa e que o agressor é o próprio marido ou companheiro.

– Mais de 40% das violências resultam em lesões corporais graves decorrentes de socos, tapas, chutes, amarramentos, queimaduras, espancamentos e estrangulamentos.

– O Brasil é o país que mais sofre com a violência doméstica, perdendo cerca de 10,5% do seu PIB em decorrência desse grave problema.

***

Dados da violência contra a mulher em vários países você encontra aqui.
***

Hoje, 25 de novembro, é Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher. A Denise organizou uma blogagem coletiva sobre o tema. A lista de participantes está aqui.

La géographie ça sert d'abord à faire la guerre

LA GÉOGRAPHIE ÇA SERT D’ABORD À FAIRE LA GUERRE

Os milicos ianques não gostaram. Os professores de Geografia adoraram. O Google Earth representa uma revolução no ensino de Geografia. Os velhos mapas com meia dúzia de cores em breve estarão aposentados. Ou, pelo menos, se igualará em importância ao velho mimeógrafo encostado no depósito. Nenhum incauto poderá mais ser enganado; a Argentina não é alaranjada.

Já faz bem uns dois meses que passeio pelo planeta utilizando o tal. Não na quantidade de tempo que acredito como ideal (o que? Oito horas em frente ao PC na China é suficiente para me internarem? Oh, Deus, gracias por esse sol tropical…). Mas… como não existe nada perfeito, o Tocantins e o Mato Grosso do Sul não existem nesse super-mega-ultra-hiper modernoso programa. A inexistência do Lago de Palmas, formado em 2001, demonstra a desatualização do banco de dados do software.

Todavia, porém, contudo, entretanto… não são essas coisinhas que tiram seu fascínio. São assombrosos os detalhes das imagens. Tão apurados que vários governos já se manifestaram contra o programinha. China, Austrália e os militares norte-americanos já menearam a cabeça, horrorizados.

Novos sentidos são dados às escandalosas idéias de Yves Lacoste em A Geografia serve, antes de mais nada, para fazer a guerra, de 1975. Nesse livro, o geógrafo francês identifica duas geografias: a “Geografia dos Estados Maiores” e a “Geografia dos Professores”. Essa, neutra, asséptica, desinteressada. Aquela, saber estratégico, útil aos Estados e corporações capitalistas. Em processos concomitantes, o fortalecimento dos raciocínios espaciais se dava ao mesmo tempo em que um saber geográfico banal se popularizava, através da inútil, chata e decorativa geografia escolar.

Cinco anos depois, Lacoste escreveu “Os objetos geográficos”, publicado originalmente em “Cartes et Figures de la Terre” e traduzido para o português em 1988. Nesse texto, o eminente geógrafo apontava as dificuldades em fazer o levantamento cartográfico quando não existia ainda o ‘olhar vertical’, a ‘vista de cima’. Considerar, controlar, dominar, atravessar – sublinha Lacoste – eram preocupações tanto dos dirigentes das grandes empresas quanto dos chefes de Estado. E isso centenas de anos antes de existir propriamente uma Geografia instituída – escolar ou científica.

Pois bem. A tese da supervalorização dos mapas era válida quando produtos cartográficos eram objetos sigilosos nos quartéis e gabinetes de guerra. O aumento insano de informações viabilizado nesse mundo internético poderia mudar as regras do jogo. Os mapas sistemáticos se tornaram eminentemente públicos e os mapas temáticos já não são mais inacessíveis. Muda o paradigma?

Estar nu nos dá a sensação de insegurança (excetuando Luz Del Fuego e discípulos). Insegurança gera paranóia. Isso talvez explica a histeria daqueles que amaldiçoam o Google Earth. Eles estão pelados. Ao contrário do que acontecia no passado, é pouco provável que essa nudez favoreça um lado de qualquer guerra. Afinal, ambos guerreiros estão nus.

Alguns apelam pela suscetibilidade ao terrorismo. Considerando que o terrorista está vestido e muito bem escondido, pode até ser procedente. Ocorre, todavia, que o Google Earth não é a fonte cartográfica de algum terrorista nerd, desejoso de explodir alguma torre por aí. Nesse mundo de zilhões de informações, as coordenadas geográficas da Casa Branca estão a um olhar sobre uma planta urbana da cidade de Washington. Chega ao limite da ridicularidade esmaecer o palácio presidencial, como se isso bastasse para despistar mísseis inimigos.

Enquanto isso, a nova “Geografia dos Professores” se diverte com o maravilhoso mundo oferecido pelo Google.


Vazio onde antes estavam as duas torres do WTC.


As duas torres do CN ainda estão de pé.

Algo em comum entre furacões e Toddy

As previsões climáticas para os próximos anos são tenebrosas. A previsão do progressivo aumento da temperatura global indica que a constância e intensidade dos furacões serão bem maiores, afetando inclusive áreas antes incólumes a esses fenômenos naturais.

O Caribe é uma das áreas mais suscetíveis aos tornados, furacões e congêneres. Ao convergir para as áreas de baixa pressão localizada nas imediações da América Central, os alísios (ventos que sopram dos trópicos para as regiões equatoriais) de ambos hemisférios proporcionam a ascensão de uma massa de ar giratória que, alimentada pelo ar úmido marítimo, vai lentamente se agigantando.

Essas ventanias incomodam os caribenhos e moradores das adjacências há muito tempo. No início do século XX, por exemplo, um poderoso furacão varreu a ilha de Porto Rico. Na ocasião, uma desolada família de imigrantes espanhóis viu a lavoura de cacau ser totalmente aniquilada. Um dos filhos, Pedro Santiago, resolveu mudar de ares. Ao chegar nos Estados Unidos, se transformou num perfeito exemplo de self-made man. Em pouco menos de quinze anos, passou de lavador de banheiros a próspero empresário do ramo alimentício.

A terra que deu uma das maiores desilusões para sua família foi a primeira a conhecer o que seria seu maior sucesso. Em 1930, em Porto Rico, Santiago lançou o achocolatado “Toddy”. Originalmente, atendia pelo nome uma bebida escocesa feita com mel, leite, ovo e uísque. Na versão caribenha levava rum, cacau e melado de cana – que era também conhecido por “Rum Toddy”. O apurado tino empresarial do rapaz o levou a registrar a marca. Apesar do nome, o produto de Santiago procurava conservar as propriedades gustativas da versão modificada da bebida.

O achocolatado faz sucesso até hoje. Quase sempre pelo gosto, às vezes pela graça.

Chucrute com coca-cola

Eleição acirrada, defesa do estado-mínimo, importância da luta contra o eixo do mal, políticas rígidas de controle migratório. Um Bush de saias?

Para a felicidade da crescente comunidade pobre e discriminada (aqui incluído os mais de dois milhões de turcos), a Alemanha está fora do circuito mundial de furacões. Nenhuma previsão de se ter na terra do chucrute o desastre social que sucedeu em New Orleans, portanto.

Se quiser mesmo imitar seu colega em Whashington, a mais-que-provável eleita Angela Merkel deverá mostrar sua incompetência em outros departamentos. Se, ao menos, conseguir governar.

Desenvolvimento e independência

No sete de setembro, foi recorrente a publicação de textos veiculando a situação de dependência ao subdesenvolvimento. Desses, um dos últimos (concordando ipsis literis) se encontra no Longe Demais.

Nos longínquos anos do ensino fundamental, acompanhei a substituição de uma geografia tradicional – bem retrô e cheia de decorebas – por uma geografia crítica (que, ao que parece, continua sendo surpreendentemente mnemônica). Contaminados por um marxismo torto, não era raro encontrar explicações um tanto que heterodoxas sobre as relações entre os países. Para explicar a existência de países subdesenvolvidos e desenvolvidos, a fórmula ‘países explorados e países exploradores’ saía da manga, e, como uma mágica, tudo estava explicado.

Nesse contexto, acusar os EUA de ser o explorador-mor, nosso algoz, era um passo. Diabolizá-lo ia de brinde. Como se o Estado americano fizesse curvar – por seus próprios interesses – o Estado brasileiro.

(Não pretendo prolongar sobre o conceito usado nesse post para Estado. Se eu dissesse que lá o Estado é representado pela burguesia [BINGO!], deveria reconhecer que aqui também é. E seria interessante uma burguesia explorando outra burguesia. Ou sei lá.)

Yves Lacoste, há mais de trinta anos, falava já sobre esse fenômeno. O capital hoje é transnacional e que, como tal, não respeita fronteiras nacionais. E mais: essas relações desiguais só existem porque a minoria privilegiada nos países pobres é parceira dessas mega-empresas.

Militarmente, não há dúvidas. Os EUA são o maioral, a ponto de peitar resoluções da ONU e se lançar numa guerra contra a opinião de todo o mundo. Já economicamente, a correlação de forças não permite o Estado americano se isolar do mundo. Isso: a maior potência do mundo é dependente, como muito bem lembrou Edk.

E se alguém mesmo deseja que nosso país tupiniquim seja um país realmente independente, nesses termos, lance a idéia da nacionalização das empresas estrangeiras – e reze para que os produtos brasileiros alcance o mercado mundial. É melhor retórica vazia e aplausos, não?


Sociologia de botequim acaba aqui. Estou distante 256 km de casa, a Lan-House vai fechar e eu estou muito cansado.


Sete de setembro foi um excelente dia para o contador do blog. Registrou 57 visitas. Troquei até o Extreme pelo SiteMeter, na esperança de continuar com tanta visita. Grande bobagem. Graças ao ‘Nós na Rede’, fui linkado pelos maiores figurões da blogosfera brasileira. Aí, tudo dá certo, não?