Merchan

# Gostei do Chrome. Pra quem não liga muito pra diversidade de addons do Firefox – quer mesmo é um navegador simples, clean e rápido, melhor opção não há. É a hegemonia googleana dando as cartas.

# Descobri as facilidades do Writer. Sacanagem, agora: decidir entre o novíssimo painel do wordpress e esse prático editor de blogs.

# Tá certo que quando a gente paga por serviços prestados, a gentileza está, necessariamente, incluída no pacote. Mesmo assim, fico muito satisfeito em poder contar com a hospedagem na Pre-Lude, exatamente por conta da assistência técnica. Agilidade, eficiência e fineza top top.

# Deixei meu telefone uma vez no site da Fiat (queria o Punto, mas acho que vou sair de Palio mesmo…). Bastou isso para me lembrarem de todas as promoções em curso nas concessionárias do DF. Se bem que, nesse caso, fico pensando se a assistência técnica seria tão prestativa quanto…

A dor da liderança

É como se uma força invisível dissesse assim:

“Façamos dois grupos. Grupo A, aqui, nesse quadrado, torçam para que o chefe seja um empreendedor e assuma os riscos pelas decisões tomadas. Cuidem para que ele não seja um bundão, hesitante nisso e naquilo outro. Grupo B, desse lado, fiscalizem o líder para que ele cumpra apenas o papel de representar o grupo, e nada mais que isso. Vigiem-no para que não delibere sequer sobre uma caixa de fósforo sozinho.”

E daí você passa a ser odiado tanto pelos gregos quanto pelos troianos.

Mamma Mia, o filme

Pra assegurar minha fama de “homem tardio”: depois de mais de três semanas em cartaz, apenas ontem  assisti “Mamma Mia”.

A sala de exibição estava com 40, 50% de sua capacidade de lotação preenchida. É, estava vazia. Levemos em consideração, porém, que o filme já está cumprindo seu ciclo de exibição e, também, que o horário (14h20) não é o mais procurado na grade horária dominical dos cinemas. 🙂

O filme é bom.  Certo, quem gosta de Abba não pode ter uma visão diferente. Mas mesmo os pontos criticados por quem já havia visto o filme se mostram irrelevantes em função do conjunto da obra (ui…).

For example: a habilidade cantante de Brosnan, um pouco pior que a minha, celebra o componente patético que toda comédia não pode ignorar.

Mesmo Amanda Seyfried, pitéuzinho de Big Love, criticada pela falta de competência em alguma sequencias dramáticas, me pareceu bastante convincente durante toda a película.

No mais? Meryl Streep está muito boa. A sintonia entre o personagem de Streep e suas amigas interpretadas por Christine Baranski e Julie Walters garante umas boas risadas.

Aliás, é isso. O filme, despretensioso, cumpre o que esperamos de um filme de entretenimento. Ficam decepcionados apenas aqueles que querem extrair significados metafísicos de obras que não se propõem a isso.

Projeto Computador Portátil para Professores

Ainda no início de julho, com toda pompa (des)necessária, foi divulgado o projeto “Computador Portátil para Professores”. O cronograma do programa era arrojado: em pouco mais de um mês seriam oferecidas as primeiras máquinas. Ao sabor da propaganda, o problema da inclusão digital (sic) dos docentes brasileiros seria resolvido com milhares de laptops, financiados a módicos juros.

O anúncio do projeto repercutiu em centenas de blogs e sites. Eu mesmo escrevi aqui, positivamente. Quase três meses depois, o ruído se foi. Ninguém fala mais nisso. Aquele barulhão, apontando para a celeridade e seriedade do processo, sumiu. Ficou apenas o sussurro de recados deixados no site oficial do programa – sem nenhuma possibilidade de informar um cronograma qualquer. Não há, ainda, bancos conveniados para os financiamentos nem fabricantes de notebook cadastrados.

A propósito das iniciativas de inclusão digital, o staff desse atual governo já apresentava um revés, simbolizado pela falência natimorta do projeto UCA (Um computador por aluno), que demonstrou ser muito caro para tão pouco resultado a curto prazo (que é o que vale para políticos, sabemos há tempos).

Em suma: quem, como eu, desistiu de comprar laptop em julho em função dessa benesse do Grande Guia, pode não ter feito uma escolha muito sensata. Resta saber se, agora, o mais prudente é esperar – já que quem espera três meses pode muito bem esperar mais três – ou mandar essa politicalha para o espaço e, em doze alegres parcelas, aumentar a dependência da parafernália tecnológica, mais e mais indispensável hoje em dia.

Vacina contra rubéola esteriliza

Ontem houve uma campanha de vacinação contra rubéola no trabalho. O movimento suscitou, nos corredores, debates sobre a importância e coisa e tal. Jocoso, comentei sobre um estapafúrdio e-mail recebido indicando a possibilidade de tal campanha esconder o funesto objetivo de esterilizar homens e mulheres em idade reprodutiva.

Bobagem, claro. Mas tem gente que gosta de uma teoriazinha de conspiração…

Um colega mesmo defendeu a idéia, dizendo que havia lido no blog de um Julio-sei-lá-o-que e no site de uma tal mídia-sem-sei-lá-o-que. Referência incontestável, certo? (pesquisando no Google, só encontramos menção sobre essa bobagem em sites fundamentalistas – o que atesta a pouca credibilidade da notícia, portanto).

Adiantava dizer que o problema da superpopulação já não faz parte da agenda política de um sem número de países? Que a tendência, visto a diminuição crescente da taxa de natalidade, é um pavoroso mundo em que a população jovem esteja numericamente muito menor do que aquela que está desejosa em curtir uma aposentadoria? Que seria uma política suicida esterilizar, em massa, determinada população?

Devo confessar que meus argumentos pouco adiantaram, já que meu debatedor é um daqueles que – pasmem! – imaginam que o governo que aí está quer, em uma medida anti-cristã (SIC!), conter o crescimento populacional natural via estímulo do aborto, práticas homossexuais e laqueaduras/vasectomias gratuitas.

É mole?

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PS: Mundo Gump, que também recebeu o e-mail, publicou contra-argumentos interessantes. Abaixo, trechos selecionados:

ARGUMENTO TOSCO 1:  Na Argentina na mesma vacina foram encontradas substancias esterelizantes.

Não foi. A informação no email é falsa (mas engenhosa, tenho que reconhecer)

ARGUMENTO TOSCO 2: Essas vacinas são aplicadas em partes localizadas estratégicamente no planeta sobre as áreas subdesenvolvidas e de superpepulação. ( Numa parceria com a unesco)

Só se considerarmos subdesenvolvidos países como a Inglaterra e Estados Unidos. Não existe absolutamente nenhuma região no mundo (incluindo países da África) em que a população tenha diminuído após vacinações de rubéola.  (…)

(…)

ARGUMENTO TOSCO 4:  Qual o sentido da campanha? Por que tanto investimento nisso?  Se esta nem é uma doença tão grave perante tantas outras?

A explicação é que fica muito mais difícil as pessoas saberem que tem vacinação sem serem avisadas sobre isso. Enquanto não houver telepatia global, o único jeito do povo se mexer é com grandes campanhas. Considerar que esta não é uma doença grave só pra quem não teve filho abortado ou que nasceu cego ou surdo ou com outra deformidade devido a rubéola durante a gravidez.

(…)

ARGUMENTO TOSCO 6: Por que a faixa etária é justamente a idade reprodutiva? A faixa de maior fertilidade da população?

Provavelmente porque são as faixas de maior concentração populacional. Além disso, é nesta faixa que se concentra a população economicamente ativa do país. E provavelmente as faixas abaixo tomaram a vacina na infância. E talvez as estatísticas mostrem que as faixas acima já foram vacinadas e seu número não justifique uma relação de custo/benefício eficaz.

(…)

ARGUMENTO TOSCO 8: As taxas de natalidade na Argentina caíram depois da vacinação de 2006

Ok. Que bom. Legal. Tomara que aqui continuem assim também. A verdade é que a taxa de natalidade vem caindo em todos os países industrializados.(…)

ARGUMENTO TOSCO 9: Tem poucos casos de Rubéola no país para justificar vacinar todo mundo

Foram 8683 casos confirmados em 2007. fonte Pra mim isso é muito sério. Bem mais do que foi com a tal “febre amarela” episódica que causou desespero, filas nos postos, medo na população, vendeu muito jornal fez a manchete dos noticiários numa época sem grandes notícias e logo depois, sumiu.

ARGUMENTO TOSCO 10: A vacina é obrigatória. Compulsória.

Papo furado. Você já viu alguém chegar algemado no posto de saúde para tomar vacina? Nem eu.

(…)

O governo brasileiro não teria nem competência para criar um plano decente de esterilização em massa. Isso é delírio.

Então, o fato é: Tome a porcaria da vacina. Não caia nesses emails de pessoas ingóbeis nem repasse estas porcarias de hoax antes investigar um pouco. Repassando esses emails de hoax, VOCÊ estará contribuindo para disseminar o MEDO em pessoas que por culpa do SEU email alarmista-conspiratório não se vacinarão e que poderão infectar grávidas, resultando em crianças abortadas ou com má formação congênita e a culpa será INTEIRAMENTE SUA!

O texto, na íntegra, encontra-se aqui.

Onde a direita e a esquerda se confudem…

Pela mesma razão que o estado é laico, as aulas do estado também deveriam ser politicamente neutras.

Essas palavras saíram da cachola de Gustavo Ioschpe, colunista de Veja, mas poderiam muito bem ser de algum burocrata chinês ou norte-coreano incomodado com a penetração de “idéias ocidentais” nas escolas. Ser neutro, nesse caso, é concordar com o estado de coisas que aí está, zelando por sua conservação. Educação mais chapa-branca não há!

~*~

Hoje é aniversário da mais querida cidade. Palavretas de Sebastião Santana Silva, em homenagem:

Saudade

Não sei, nem posso explicar
Minha feliz emoção
Quando chego em minha terra
Ao ver no alto da serra
A capela de São João

Aqui distante, saudoso,
Eu sinto em mim surda guerra
De abandonar isto tudo,
Pr’um lado deixar o estudo,
E partir pra minha terra.

Para a terra da igrejinha,
Igrejinha de São João.
Onde qualquer é-me amigo
Não tenho um olhar inimigo,
Nem um hostil coração.

Me mudar lá para o outeiro
Que tem por nome ‘Saudade’
Vivendo ali bem sozinho
Com São João bem juntinho,
Terei feliz soledade
“*

* Vaz, Coelho. Vultos Catalanos. Goiânia: Líder, 1994. Pp. 151-152.

God save the communists…

Depois de folhear a última edição da revista Veja, senti-me em tempos de Guerra Fria.

~*~

Em sua reportagem de capa, o semanário desatinou várias críticas a uma porção de livros de geografia. Umas boas – principalmente àquelas formuladas ao material do COC – e outras totalmente sem sentido – como às destinadas a coleção “Geografia Crítica”. No saldo geral há mais bobagens no box da reportagem do que nos próprios livros analisados.

~*~

A tese esposada por tão ilibada e virtuosa revista? A educação brasileira é ruim (eureka!!!). Mas isso não é tudo. Aliás, parece que foi só um mote para outra (horrrrrííííível) teoria: as escolas brasileiras estão contaminadas pelo esquerdismo. Daí a visita aos mais conceituados colégios brasileiros. Uma coisa meio estranha: se esses colégios são “esquerdistas” e estão no topo da parada, não deveriam as outras escolinhas de periferia seguirem-os? Tiro no pé, não?

~*~

A crítica ao esquerdismo está na ênfase dada a inculcação de valores “comunistas” – ao invés de exercitar o pluralismo de idéias. Troquemos essa palavra entre aspas por alguma outra mais palatável à direita e esperemos – sentados – a histeria do semanário.

~*~

Essa neura em relação ao comunismo conduz a situações curiosas. Gritam contra a “partidarização” (SIC!) nas escolas, mas, na prática, estão dizendo “Fora comunistas!”. Isso não é nenhum exercício de “pluralismo”, convenhamos.

Tal piração ainda leva a censura de termos consagrados na educação dentro de uma democracia liberal, como é a formação para cidadania. Para os “não-partidaristas”, isso é coisa de comuna.

~*~

Loucura, loucura.

Direitos humanos

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Via Tribuna da Imprensa.

Update: abaixo, texto do senador Cristovam Buarque publicado hoje no Correio Braziliense.  Grifos meus ;P

Algemas mentais

Nenhum dos advogados que criticou o uso de algemas em suspeitos ricos denuncia a falta do serviço de educação para os pobres. A Constituição garante o direito à educação, o poder público se omite e a criança permanece analfabeta até a idade adulta, mas esse fato continua invisível à Justiça.

Só agora, no século 21, o Supremo Tribunal Federal decidiu que a polícia não pode constranger um cidadão, colocando-lhe algemas desnecessariamente. A demora não foi por maldade dos juízes. Eles simplesmente não tinham notado ainda a existência das algemas no cenário policial brasileiro. Elas eram invisíveis nos pulsos de centenas de presos que aparecem todas as noites no noticiário. Foram necessários 400 anos de correntes de ferro maltratando escravos, durante a Colônia e o Império, e 120 anos de República, para que os juízes brasileiros percebessem as algemas que estavam nos punhos de pobres sem bermuda, sem camisa, inclusive nas últimas décadas, nas telas da televisão, quase todos os dias.

O atraso na percepção não decorre apenas da falta de sensibilidade que caracteriza a elite brasileira, mas também do fato de que, na nossa lógica jurídica, os juízes só vêem o que é mostrado sob a óptica e o argumento de advogados. Temos uma parte da população invisível aos olhos da elite, inclusive parlamentares, juízes, políticos, professores universitários. Não temos Justiça, temos um marco legal. E ele depende da capacidade dos advogados que representam os réus.

Quando a ilegalidade é cometida contra quem paga um bom advogado, os juízes do Supremo tomam a decisão e, democraticamente, determinam que o benefício da legalidade se amplie para toda a população. A Justiça não é discriminatória contra os pobres, simplesmente eles são invisíveis para ela. Os olhos vendados da deusa da Justiça só percebem parte da realidade, aquela que chega a eles pelos argumentos dos bons advogados, representando a parte rica da sociedade que pode pagar altos honorários.

Foi preciso que a Polícia Federal usasse algemas em suspeitos ricos e bem-vestidos, e que seus advogados protestassem, para que elas fossem percebidas e abolidas tanto nos ricos quanto nos pobres. Sorte do pobre, quando seu julgamento coincide com o processo contra um rico pela mesma causa.

Não ser atendido e morrer na porta de um hospital, por falta de dinheiro ou de seguro médico, não é ilegal; portanto, a Justiça brasileira não vê, nem age. Até que um rico brasileiro morra na porta de um hospital e um bom advogado entre com processo pedindo indenização para seus herdeiros. Só assim, será possível que a Justiça se pronuncie considerando ilegal a omissão de socorro, tanto para o rico que provocou o assunto, quanto para os pobres que, democraticamente, receberiam os benefícios das legalidades. Não por justiça, mas porque o fato ficou visível e adquiriu lógica legal. Sem o advogado e seus argumentos bem convincentes, o morto na porta de um hospital é um ente invisível, seja ele rico, seja pobre.

Na saúde se passou algo parecido no país. Foi quando uma epidemia de poliomielite assolou sem discriminação de classe social as crianças no Paraná, nos anos 70; quando os autoritários dirigentes militares viram o que os civis democratas nunca tinham percebido. Iniciaram então a mais ampla campanha de erradicação da poliomielite já feita no mundo. O Brasil também é exemplo mundial no atendimento público aos portadores de HIV, porque o vírus não escolhe classe social. As doenças dos pobres só são vistas quando também atingem os ricos.

Por isso, não há um programa radical para a erradicação do analfabetismo, nem para que todos os brasileiros, independentemente da classe social, cheguem ao fim do ensino médio em escolas de alta qualidade. A falta de escola é um problema dos pobres, não é visto pela Justiça nem representado pelos advogados. A algema mental continua sendo permitida pela omissão dos governantes. É a pior de todas as algemas — porque é invisível, tira a liberdade que vem do conhecimento e dura décadas —, e só atinge os pobres. Os juízes não têm forma de perceber a injustiça porque o assunto não chega a eles.

Nenhum dos advogados que criticou o uso de algemas em suspeitos ricos denuncia a falta do serviço de educação para os pobres. A Constituição garante o direito à educação, o poder público se omite e a criança permanece analfabeta até a idade adulta, mas esse fato continua invisível à Justiça.

Está na hora de um bom advogado entrar no Supremo pedindo indenização em nome de alguém mantido algemado pela omissão do poder público que não lhe garantiu educação. Talvez então se junte ao habeas corpus para os ricos o habeas mens para os pobres; pois libertar a mente é tão importante quanto libertar o preso.

Faltou algo? 🙂

Tu errou, prof!

Estou completando oito anos de minha primeira entrada em sala de aula como professor. Tem sido uma longa jornada. Permite-me, com algum ar de galhofa, dizer que possuo notória experiência. E, também, que coleciono muitas histórias boas – outras nem tanto. Os episódios mais traumáticos coincidiram, claro, com os primeiros passos, diminuindo em função da aprendizagem docente.

Um  scrap no orkut, hoje, avisando que minha rede social aumenta um número, lembrou-me de um dos últimos – e talvez o maior – erros que cometi enquanto professor. Segue o relato.

2004, em uma escola confessional do interior do Tocantins

Aproximava o final do ano letivo. As provas haviam sido aplicadas e, para aqueles alunos que não conseguiram a média bimestral, restava uma oportunidade (dos alunos ganharem nota e do professor deixar fluir toda sua neura sadô): a argüição.

Para controlar a disciplina da sala – já que a atividade envolvia apenas alguns alunos – combinava com a turma que todos, indistintamente, somavam um ponto de participação. O comportamento na sala, durante a avaliação oral, é que diria se esse ponto seria intelgramente recebido pelo aluno ou não. Dessa forma, qualquer anormalidade (conversa, principalmente), era punida com a perda de um décimo (hhhuummm… “surveiller et punir“, hein?).

Esse era o combinado desde o início do ano e realizado duas vezes por semestre. Tudo ia, assim, dando certo (!),  até quando…

A turma

Das dez turmas que eu tinha no colégio, aquela era uma turma especial. Especialmente porque tenho uma queda por dois perfis de aluno: os metralhadores (inteligentes e que gostam de mostrar que são) e os piadistas (que interrompem a aula, a qualquer hora, com uma tirada ou piada engraçada). E essa era uma turma repleta de alunos que possuíam os dois perfis.

Ao gostar muito deles, eu também queria, sempre, mostrar minhas melhores qualidades (ou pelo menos aquelas que eu gostaria que fossem…), numa tentativa de alimentar sentimentos mútuos. Como libriano, procurava sempre exercitar meu senso de justiça. Mas isso não bastava: era necessário informá-los, rotineiramente, dessa minha virtude. 🙂

A aluna

Letícia. Era uma das mais inteligentes da sala. Não… corrijo. Era uma das mais inteligentes da escola. Sério. Sua avaliação era sempre corrigida primeiro, naquele instante em que, por não estar cansado de ler tanta bobagem, a gente sente prazer em ser professor, em ver o resultado positivo de uma sequencia de aulas. Em se tratando de prova de Letícia, nunca havia decepção. Nas provas dissertativas, a garotinha escrevia exatamente aquilo que o professor gostaria de ler. Além disso – e é bom dizer – era uma menina de refinada educação.

Um espetáculo, enfim.

A bobagem

Pois bem. A aula corria tranquilamente. A normalidade, ali, era a maioria dos alunos obterem a totalidade dos pontos de participação. Era. Até que…

Uma voz ecoa, sussurrada, pela sala. Era Letícia conversando com um colega. Os alunos se voltam para o “justíssimo professor”, duvidando que houvesse algum tipo de punição. Como se dissessem: “é a queridinha do professor…“. Com ar de gravidade, eu chamo seu nome e assinalo na lista de participação. Foi o único bimestre que ela não ficou com 10. Por dentro, eu me sentia um bobo, um primata autoritário que não sabe utilizar o mínimo de bom senso. (aliás, “nota de participação” já é uma coisa, em si, muito problemática. Maiores esclarecimentos aqui.)

A repercussão

A galera do olé parece que gostou do tratamento igualitário que, naquele momento, ficou representado. Letícia não. Não via razão em ter sua nota diminuída. Não achava justo porque não havia atrapalhado a arguição. E – caraca! – as lágrimas saíram. Não era um choro suave, desses que a gente libera quando o Brasil perde a copa. Era daqueles terríveis, como se a gente tivesse perdido alguém querido. Provavelmente não dei sinal do enorme constrangimento sentido. Nem do absurdo peso na consciência. E o sinal bate. E o ano termina. E ela muda de escola. Eu também. Eu mudo de cidade, de estado, enfim, história acabada.

Até que o orkut aparece. E concede-me a chance de exorcizar o erro. Assim, dessa forma, soltando apressadamente as letras e, certamente, a cada frase me sentindo mais leve por não ter deixado nenhum trauma na guria. 😉